No século XIX, a Inglaterra deu ao mundo três personagens que se tornaram ícones culturais, influenciando a ficção de crime e terror pelos séculos adiante. Um deles era um personagem real, o misterioso serial killer Jack the Ripper que foi além de ser um criminoso qualquer e se tornou uma figura folclórica.
Outro foi o monstro de Frankenstein, um ser que envereda pelo fantástico, precursor da ficção científica. E por fim temos mais um personagem que é feito de dois: Dr. Jekyll e Mr. Hyde.
Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde (1886), do escocês Robert Louis Stevenson, é uma novela gótica que segue o estilo de investigação policial. Inclusive foi publicada um ano antes do A Study in Scarlet (1887), livro do Arthur Conan Doyle que trouxe Sherlock Holmes ao mundo. No caso, o Sherlock Holmes do Stevenson é chamado John Utterson e ele investiga os crimes de um misterioso Edward Hyde.
Diferente da maioria das histórias onde vilão e herói são pessoas completamente separadas, aqui temos a pura virtude e o puro vício combinados em um só indivíduo. O Dr. Jekyll é um homem realmente íntegro, bem educado, caridoso, amistoso, uma pessoa incapaz de ter inimigos. Não que ele seja um anjo na Terra. Ele tem, como todo mundo, seu lado obscuro e eventuais sentimentos impróprios, mas sua forte moral o leva a desenvolver um soro com o fim de isolar este lado maligno de sua personalidade. O resultado, porém, é que o soro libertou esse outro lado, fazendo que Jekyll se transformasse (inclusive fisicamente) em outra pessoa, Edward Hyde. Assim, ambos vão se alternando no controle daquele corpo. Um homem torna-se seu próprio antagonista.
Esta história obviamente é algo que todas as pessoas acabam se identificando em algum grau, pois trata da dualidade da natureza humana, dualidade que há milênios nos tem intrigado. Deus e o Diabo, a pureza e o pecado, céu e inferno e, em termos mais contemporâneos, o id e o superego freudianos. A eterna convivência da civilização com a barbárie. A condição de Jekyll/Hyde também pode representar o conflito de uma personalidade fragmentada ou o problema do vício em drogas, uma vez que foi uma substância ingerida que alterou a personalidade de Jekyll e foi a causa de suas desgraças.
A quantidade de adaptações inspiradas nesta obra é imensa, incluindo peças de teatro, filmes, livros, programas de rádio, etc. Até mesmo no mundo dos quadrinhos temos dois grandes exemplos na cultura pop, com os personagens Hulk, da Marvel, e o Duas Caras, da DC. Em ambos os casos, temos um homem dividido entre uma personalidade racional e pacífica e outra grotesca e incontrolável. No caso do Hulk, assim como Jekyll/Hyde, estas personalidades alternam-se por meio de uma transformação física, já no caso do Duas Caras, ele é ao mesmo tempo ambos, inclusive fisicamente, tendo uma metade do rosto normal e a outra metade deformada.
(11,10,2025)
Palavras-chave:
Arthur Conan Doyle, Robert Louis Stevenson
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