Distopias adolescentes são praticamente um gênero à parte no sci-fi futurista. Basicamente consiste em um mundo dividido em castas em que uma parte vive em uma utopia com conforto e tecnologia avançada e outra vive à margem da sociedade. Então adolescentes destemidos se rebelam contra este sistema.
É o caso das franquias Jogos Vorazes, Divergente e Maze Runner. A fórmula é essencialmente a mesma e explora o sentimento de rebeldia contra os pais, o diretor da escola ou qualquer outra figura de autoridade.
Todos sabem que na adolescência este sentimento de rebelião aflora e convenhamos que ele faz parte do amadurecimento. Livros, filmes e bandas de música sempre tiraram proveito disso, produzindo conteúdo de teor rebelde para atrair a atenção dos púberes.
Pelo menos nas distopias que mencionei acima havia uma história realmente interessante e até verossímil, do ponto de vista de descrever um possível mundo tirânico. Então chegamos a Uglies (Feios, 2024), um filme que já mostra sua infantilidade a partir do título.
Feios é tipo um Jogos Vorazes escrito por uma criança ou mesmo um adolescente que tem uma visão de mundo deveras estreita e narcisista. A premissa é que, uma vez que a pobreza e a escassez energética são solucionadas, o grande problema da humanidade, a causa de conflitos e divisões de classes é a aparência. Pois é, a história é besta neste nível.
Somente pessoas imaturas ou muito narcisistas enxergam o mundo de maneira a pensar que a aparência física é a coisa mais importante. Ok, ok, o mundo valoriza sim a aparência e as redes sociais estão cheias de pessoas que acumulam milhões de seguidores simplesmente porque são belas; pessoas bonitas costumam ser tratadas com mais cortesia e atenção, homens bajulam mais as mulheres bonitas, etc, etc. Todavia, a beleza e a feiura estão longe de estar entre as causas mais nocivas de conflitos entre as pessoas.
Ora, já pararam pra observar como os políticos em sua maioria são feios ou, quando muito, de uma aparência levemente mediana? Estas pessoas não chegaram ao poder por serem bonitas e são elas que definem boa parte dos rumos da sociedade, que podem causar pobreza e miséria com decisões erradas, podem declarar guerra, podem literalmente se tornar tiranos.
Em toda distopia que se preze o perigo está no jogo de poder, seja um governo mundial tirânico, seja uma anarquia do apocalipse zumbi, onde se formam gangues e milícias disputando por um poder local. O fato de ter pessoas feias ou bonitas é o menor dos problemas.
Mas esse filme resolveu seguir por este caminho. Ou melhor, a ideia começou no livro Uglies (2005) de Scott Westerfeld. Aparentemente foi um sucesso em seu nicho de leitores, pois rendeu as continuações Pretties (2005), Specials (2006) e Extras (2007).
Então a Netflix bancou uma adaptação cinematográfica dirigida por McG, um diretor bem experiente e que é do tipo pau pra toda obra, pois já dirigiu e produziu toda espécie de filme e série, sendo mais conhecido por As Panteras (2000) e Terminator Salvation (2009). Apesar de seus 30 anos de experiência, em Feios temos a impressão de que o filme foi escrito e dirigido por um adolescente.
E ainda colocaram a Joey King como a protagonista supostamente feia. Nem ela, que é uma atriz talentosa e promissora, conseguiu salvar essa marmota de filme. Ironicamente, Feios é tão ruim que acabou sendo um sucesso, pois as pessoas criticaram, fizeram reviews e memes, atiçando a curiosidade dos usuários da Netflix para conferir esta bomba.
A seguir, umas fotinhas da "feia" Joey King.
(10,10,2024)
Palavras-chave:
Joey King, McG, Netflix, Scott Westerfeld
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