Neollogia
Cogitações e quejandas quimeras 🧙‍♂️
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O que eleições e a música Der Kommissar têm em comum para mim

Falco, Der Kommissar

Tenho uma curiosa lembrança dos anos 90. Na época a TV obviamente reinava, antes da explosão da internet, e a gente assistia TV até quando a programação não interessava (o que provavelmente acontecia a maior parte do tempo). Hoje em dia felizmente a internet nos permite ser muito mais seletivos e normalmente só assistimos algo que realmente nos interessa.

Se bem que nos velhos tempos da TV existia o hábito de "zapear", que consistia em ficar mudando de canal com o controle remoto, geralmente para pular as propagandas ou procurar algo mais interessante para ver. O zapear na TV equivalia ao "rolar pra cima" que as pessoas hoje fazem no smartphone, passando os vídeos curtos até achar um que prenda a atenção por alguns segundos. 

De toda forma, o ato de zapear só acontecia em momentos de muito tédio e o normal era deixarmos a TV ligada em algum canal de preferência. E então chegamos à época de propaganda eleitoral. Diferente do intervalo comercial, não adiantava zapear durante o horário eleitoral "gratuito" (a saber, bancado pelos impostos), já que ele acontecia em todos os canais.

E aí vem minha recordação específica. Não sei exatamente por que, mas às vezes acontecia de começar o horário eleitoral na Globo, só que na minha cidade ele não era transmitido, a não ser quando se tratava de candidatos a presidente. Suponho que, como a matriz da Globo ficava no Rio de Janeiro, o seu horário eleitoral mostraria candidatos de lá, uma campanha que não faria sentido transmitir para outros estados.

Então no lugar do programa eleitoral a TV Globo na minha região ficava transmitindo clipes de música e ocasionalmente até desenho animado. Lembro que algumas vezes passou as Tartarugas Ninja e o desenho do Robocop e do Rambo, mas era mais comum passar esses clipes. 

O Material Girl, da Madonna, por exemplo, tocava bastante. Também lembro do clipe de Build, da banda The Housemartins e de It's Raining Again, da banda Supertramp. Este clipe mostrava um cara tentando a sorte na vida e passando por vários apuros num verdadeiro dia de azar. Eu achava a cena bem triste e tinha dó do coitado do protagonista.

Mas o clipe que mais me marcou foi outro, o Der Kommissar, de Falco. O clipe em si nada tinha de extraordinário. Era o cara cantando e dançando diante de um fundo com carros de polícia passando. Como cantava em alemão (o cantor Falco é austríaco), eu não fazia ideia do que se tratava, mas era também por isto que eu gostava, pela estranheza da letra, somada ao ritmo agradável, meio eletrônico, da música.

O refrão era muito chiclete:

"Drah di ned um, oh, oh, oh
Schau, schau, der Kommissar geht um, oh, oh, oh"

Obviamente eu não sabia como se escrevia e até hoje não fazia ideia do significado da letra ou do refrão, mas como resolvi escrever sobre, enfim, após décadas, fui dar uma olhadela no texto (que não fala nada de interessante, na verdade). 

O fato é que a letra não importa, pois o que sempre gostei nessa música foi justamente das palavras incompreensíveis para mim, o que a torna exótica. É uma experiência puramente fonética, melódica e nada semântica.

Há muitas músicas cujas melodias eu gosto e que estou pouco me importando pelo significado da letra. Não tenho este tipo de purismo de só ouvir música se a letra tiver algum significado importante para mim.

Enfim, acabei guardando curiosas boas lembranças do horário eleitoral nos anos 90, não por causa dos políticos, mas da ausência deles, já que eram substituídos por clipes de música.

(10,10,2024)

Palavras-chave:

Falco, Madonna, TV Globo

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