Hollywood adora a metalinguagem tautista, voltada para si mesma. Nada errado nisso. É interessante quando a indústria do cinema se olha no espelho, como uma espécie de manifestação anímica de consciência.
Vez ou outra temos filmes assim, que tratam do próprio mundo do cinema, como La La Land (2016), que mostra uma aspirante a atriz encantando-se e ascendendo na carreira neste mundo de fantasia que é o cinema. Outro exemplo é Birdman (2014), que aborda outro aspecto, o lado mais decadente dessa indústria, quando um ator famosíssimo tem de lidar com a deterioração da fama, depois que seus dias de glória do cinema acabaram.
Voltando ainda mais no tempo, temos um dos maiores exemplos do tautismo metalinguístico de Hollywood: Singin' in the Rain (1952), que conta a história de uma grande estrela do cinema experimentando a transição do cinema de mudo para falado e desta forma nasce o musical.
Babylon (2022) segue esta mesma linha, voltando no tempo para os primórdios do cinema, mostrando o período de transição do cinema mudo e explorando de forma bastante cômica a rotina das gravações, o caos, os improvisos, as dificuldades técnicas em fazer uma simples cena com áudio, pois o menor ruído no studio poderia estragar tudo. Bom lembrar que o filme é do mesmo autor de La La Land, Damien Chazelle.
Também vemos outro lado deste mundo de glamour: as festas, orgias; a protagonista Nellie (Margot Robbie) era uma garota pobre que rapidamente ascendeu na carreira, mas era inconsequente, aventureira, arranjando problemas sérios com drogas, dívidas e agiotas. Hollywood não esconde o seu lado dionisíaco, literalmente praticando bacanais, entregando-se a vícios e perversões.
Babylon é um filme modesto, mas faz sua homenagem à era de ouro do cinema e também no finalzinho mostra um vislumbre do que o cinema se tornaria, avançando de sua fase artesanal para a era industrial, para a evolução dos efeitos especiais, chegando a grandes espetáculos de fantasia como o filme Avatar (2009), até hoje a maior bilheteria da história.
De certa forma, neste filme o cinema reflete sobre a sua própria constante metamorfose. Sempre haverá transições e nem todos os artistas vão se adaptar. O protagonista Jack Conrad (Brad Pitt), por exemplo, foi uma grande estrela do cinema mudo, atuando em dezenas de filmes, mas não conseguiu se dar bem com o cinema falado, até chegar ao ponto de simplesmente desistir.
E as mudanças vão continuar. De mudo para falado, de preto e branco para colorido, de analógico para digital... Muito provavelmente um dia chegaremos ao ponto em que os filmes nem mesmo precisarão de atores humanos, pois os personagens serão totalmente digitalizados e controlados por IA. O cinema, porém, vai continuar existindo.
(07,08,2024)
Palavras-chave:
Brad Pitt, Damien Chazelle, Margot Robbie, Paramount
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