Nos anos 90, principalmente em meados dos anos 2000, havia uma grande empolgação no cinema quanto ao sci-fi. Eu diria até que o sci-fi futurista naquela época era algo bem mais "normie", bem mais Sessão da Tarde, enquanto hoje ele é algo mais de nicho e parece haver até um desinteresse do grande público com relação a avanços tecnológicos e futurices.
Talvez devido ao fato de já vivermos imersos na tecnologia, de levarmos um computador em nossos bolsos e que usamos rotineiramente de forma trivial, a tecnologia já não encanta tanto e há até mesmo uma certa fadiga dela. Já nos anos 90 nós vivíamos fascinados com avanços tecnológicos.
Nos anos 90 tivemos Robocop 2 (1990), Terminator 2 (1991), Soldado Universal (1992), O Demolidor (1993), Stargate (1994), Independence Day (1996), Contato (1997), Impacto Profundo (1998), Armageddon (1998) e, coroando o gênero sci-fi, Matrix (1999). Isto só para ficar em alguns poucos exemplos.
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Dolly e seu criador Ian Wilmut. |
A clonagem da ovelha Dolly Guaraná em 1997 foi assunto em todos os jornais e essa ovelha se tornou bem conhecida do povão. E aqui chegamos ao filme The 6th Day (2000), que já começa abordando a evolução da clonagem, começando pela famosa Dolly, até chegar em um futuro onde a clonagem humana se tornou possível, mas foi barrada por uma lei, a lei do Sexto Dia (uma referência ao sexto dia da criação no Gênesis, quando Deus criou o homem).
A história se passa em 2015 e nos primeiros vinte minutos já nos apresenta uma série de tecnologias futuristas como carros autônomos, geladeira inteligente que tem uma tela na porta e faz lista de compras para se reabastecer, helicóptero que pode ser pilotado por controle remoto e uma boneca robô de aparência humana, criada para ser a amiguinha das crianças, a Sim Pal.
Essa boneca animatrônica é bem feinha na verdade, mas isto faz parte do elemento de humor do filme. Ela aparece no começo da história e não dura muito. Também vemos uma empresa chamada RePet, que realiza a clonagem de pets. Embora a clonagem humana seja proibida, a de pets se torna bem popular.
Todas estas previsões futuristas feitas nos anos 2000 sobre o que seria o ano de 2015 não ficaram muito longe da realidade. É certo que esse 2015 do filme parece ligeiramente mais avançado que o nosso, mas hoje em dia já temos tudo isso. Temos bonecas e pets robóticos (embora ainda sejam bem caros), temos geladeira inteligente, carro autônomo e até mesmo clonagem de pets, mas ainda são excentricidades que só alguns ricos pagam. Ainda não é algo tão comum e popular como no mundo do filme.
Outra tecnologia apresentada foi a namorada virtual, que se apresenta na forma de um holograma que fica na casa do usuário e parece ter uma certa capacidade de realizar ações táteis, pois em uma cena vemos a namorada virtual abrindo o zíper do usuário dela.
Uma representação de companheira doméstica virtual (não necessariamente para fins românticos ou sexuais) que me marcou bastante foi na primeira revista do Spider-Man 2099, lançada em 1992. O Miguel O'Hara tinha essa assistente doméstica holográfica, a Lyla, claramente inspirada na Marylin Monroe, e que era uma companheira mais presente na vida do Miguel do que sua própria namorada ou parentes.
Saltando várias décadas, temos a Joi, de Blade Runner 2049 (2017), que de certa forma lembra a Lyla. Mas podemos voltar ainda mais no tempo para o filme Weird Science (1985), aqui conhecido como Mulher Nota 1000, em que dois nerdões criam uma namorada virtual no computador, a Lisa, e ela de alguma forma milagrosa acaba ganhando um corpo.
Esta ideia de um companheiro ou companheira robô humanoide é tão antiga quanto o cinema, pois lá em 1927 já tínhamos a robô Maria, em Metropolis.
Mas voltando ao The 6th Day, é um filme bem Schwarza, ou melhor, duplamente Schwarza, pois como ele interpreta alguém que foi clonado, temos cenas em que há dois Schwarzas na tela. Sendo a clonagem ilegal, ele é perseguido a fim de ser apagado da história, antes que a coisa se torne pública, e aí o sci-fi se transforma no típico filme de ação Sessão da Tarde.
Com relação à inteligência artificial, limitou-se a considerá-la um programa. A tal namorada virtual é apenas uma série de scripts e nota-se que ela não tem uma independência de pensamento ou consciência, mas age e reage de maneira encenada. É diferente, por exemplo, da Joi de Blade Runner, que tem um comportamento que nos deixa em dúvida se é programado ou consciente.
O filme acertou em algo que muitos outros erram quando se trata de clonagem: o clone não é a mesma pessoa. Mesmo que herde as memórias da pessoa original, o clone é outro ser, com sua própria individualidade, sua própria alma. Por isto a imortalidade via clonagem não é possível, pois o seu clone não será você.
Supomos que a consciência está em algum lugar do cérebro. Se uma pessoa transplantar todos os seus órgãos, menos o cérebro, e mesmo que troque até de membros e de corpo, ela continuará sendo relativamente a mesma pessoa, desde que seja o mesmo cérebro.
Possivelmente no futuro poderemos clonar nossos órgãos e nosso corpo, quem sabe chegando até ao ponto de conseguirmos renovar a vida apenas trocando o cérebro para um corpo novo, mas o cérebro envelhece, se deteriora, e a clonagem de corpo não salvaria o cérebro de sua degradação.
Por isto o mais provável é que a engenharia biológica que vai garantir a longevidade não terá a ver com clonagem, mas com regeneração celular. Algum dia vamos potencializar nossas células e nosso código genético de modo que teremos uma regeneração celular formidável, o que vai garantir uma longevidade por tempo indefinido e de maneira bem menos invasiva do que usando clones e transplantes. Mas já estou divagando.
(10,09,2024)
Palavras-chave:
Arnold Schwarzenegger, Columbia Pictures, Roger Spottiswoode
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