Os vilões clássicos do Batman são pitorescos, até mesmo cômicos; com uma aparência chamativa, colorida, circense, contrastando com o visual demasiado sério e nada colorido do Batman. Coringa, Charada e Pinguim são os maiores exemplos disto. No caso do Pinguim, ainda se acrescenta o fato dele quase ser um personagem de fábula, um animal humanoide.
O primeiro Pinguim em live action foi interpretado por Burgess Meredith na famosa série do Batman de Adam West (1966). Ele captou o espírito do personagem, uma espécie de brega chique, um gangster que gosta de ostentar uma aparência de magnata que acaba sendo caricata, com cartola, guarda-chuva/bengala, monóculo e um cigarro com piteira.
Curiosamente, o ator passou a adotar uma espécie de tique em que ele fala "quack", como um pato, e segundo o ator ele fez isto para disfarçar a tosse provocada pelo cigarro.
Em Batman Returns (1992) tivemos o Pinguim interpretado pelo quase anão Danny DeVito, que é até hoje o mais lembrado e também foi o mais ousado em sua aparência, pois ele beirava algo não humano, uma espécie de goblin gordo. Sendo uma versão com o toque do Tim Burton, obviamente ele era mais sombrio, com olhos fundos e uma expressão séria e assustadora. Eu não diria que é um Pinguim fiel ao original, mas de toda forma ele deixou sua marca.
Então veio a série Gotham (2014-2019), que abordou o período em que Bruce Wayne ainda era um adolescente. Robin Lord Taylor interpreta um Pinguim mais jovem, magro, fisicamente nada parecido com a imagem estabelecida do personagem, mas ele manteve a caminhada claudicante e ocasionalmente o guarda-chuva.
Na verdade este Pinguim foi interessante e bem mais profundo que a versão bidimensional clássica, pois vemos seu perturbado e um tanto quanto edipiano relacionamento com a mãe, uma mãe narcisista devoradora, que manipula a cabeça do filho. Ela claramente é o motivo dele ser tão obcecado por poder e ser maquiavélico, usando quaisquer meios para atingir esse fim.
Por fim, chegamos à versão mais recente, o primeiro Pinguim a ganhar uma série própria, a ser o grande protagonista do show. The Penguim (2024) é um spin off do mesmo universo de The Batman (2022), criado por Matt Reeves.
A proposta de Reeves é criar um universo próprio da DC, particularmente do Batman, mais pé no chão, sem superpoderes, sem maravilhas tecnológicas. O Batman está em início de carreira, seu Batmóvel é basicamente uma espécie de muscle car dos anos 70. Curiosamente a Gotham do filme parece existir em nosso tempo, já que as pessoas usam smartphone.
O grande vilão do filme foi o Charada e também havia o Falcone como outro antagonista do Batman, mas quem roubou a cena foi um terceiro antagonista, o Pinguim, interpretado pelo Colin Farrell, que ficou irreconhecível debaixo de um monte de maquiagem e implantes no rosto. A melhor cena do filme é quando o Batman persegue o Pinguim na estrada, dois loucos correndo na contramão do trânsito.
Visualmente, este Pinguim ficou bem realista e convincente. Não é caricato como as versões clássicas, mas mantém a estranheza. Ele é um cara esquisito, aleijado de uma perna. Farrell inventou uma maneira de mancar que passa uma impressão de peso e desconforto, pois o pé deformado do Pinguim faz do ato de andar uma tarefa dolorosa.
Assim como na série Gotham, aqui também vemos a relação dele com a mãe controladora, o que estabelece o motivo dele ser o que é. Astuto e maquiavélico, ele manipula as pessoas, trai, mata e coloca uns contra os outros a fim de alcançar seu objetivo de virar um chefão da máfia. Ao mesmo tempo ele tem um pouquinho de coração mole, o que se nota no fato dele ter poupado a vida do garoto que tentou roubar seu carro e até o adotou como pupilo.
O primeiro episódio tem um roteiro bem amarradinho. Já no começo Oz (apelido para Oswald Cobb, o Pinguim) encontra o herdeiro de Falcone, Alberto, que em meio à conversa mostra o anel que está usando e se gaba de que ele pertencia a outro mafioso, Salvatore Maroni. O anel foi tomado de Maroni por Falcone e, após a morte deste, foi herdado por Alberto.
Este anel funciona como uma perfeita arma de Chekhov, pois, após matar Alberto, Oz fica com o anel e algum tempo depois ele visita Maroni na prisão, entregando a ele o anel, o que deixa o mafioso intrigado. Por fim, Oz arma uma cena em que Sofia, filha de Falconi, vê o corpo de seu irmão Alberto e ele está sem um dedo, o dedo que usava o anel. A ideia é fazer Sofia pensar que Maroni matou Alberto como vingança e de troféu pegou de volta seu anel que havia sido primeiramente tomado por Falconi.
Toda a trama do primeiro episódio fica assim bem amarrada em torno deste anel. Só isso já mostra que a série promete ter um roteiro de qualidade.
A minissérie começou agora em setembro de 2024 e vai liberar os episódios um a um a cada domingo, até novembro. De toda forma, já no primeiro episódio posso constatar a qualidade da série e a ótima performance do Colin Farrell que realmente se entregou ao personagem.
(22,09,2024)
Palavras-chave:
Burgess Meredith, Danny DeVito, DC Comics, Matt Reeves, Robin Lord Taylor, Tim Burton
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