Aqui temos uma listinha de jogos de sobrevivência com um visual simples, 2D, que basicamente consistem em exploração do cenário, aperfeiçoamento do abrigo e equipamentos e, o principal, o cuidado com a vida dos personagens, tratando doenças, ferimentos e matando a fome.
This War of Mine (2014) é um exemplar bem especial desse tipo de jogo, a começar pelo visual. Ambientado em um cenário de guerra, com casas destruídas e cheias de lixo, a arte do jogo tem um estilo fotográfico, realista e bastante sombrio. Também a música é melancólica e o comportamento dos personagens é cheio de drama.
Você tenta sobreviver em uma casa, fortificando as portas, aprimorando seus equipamentos, tentando manter a geladeira abastecida; deve sair para fazer looting e pode encontrar mendigos inofensivos ou milícias e militares que podem se tornar agressivos dependendo da forma que você lida com eles. A inteligência artificial dos personagens é sensacional para um jogo 2D aparentemente simples. Eles têm diversos tipos de emoção, do medo à tristeza ou fúria e mesmo a depressão e catatonia.
Se você tiver um mau dia ou se sair matando gente indiscriminadamente, seus personagens podem ficar deprimidos, até mesmo cometer suicídio. Ou seja, você deve se preocupar não apenas em procurar alimento e lidar com intoxicações, ferimentos e resfriados, mas também deve cuidar da saúde mental, procurar ler livros, ouvir música, dormir o suficiente, ajudar pessoas necessitadas... Há toda uma experiência nesse jogo e por isso eu o considero o melhor aqui dessa lista.
Skyhill (2015) é um joguinho bastante simples, tanto no visual quanto na jogabilidade. Em umas poucas horas ou até em menos de um hora você pode zerar o objetivo, que é sair vivo de um edifício. Todavia, dá pra re-jogar por umas dez horas caso você goste de catar umas conquistas e não perde a graça porque as salas são geradas randomicamente a cada novo jogo, estilo roguelike.
Começando do topo, você vai descendo e explorando os quartos, ocasionalmente enfrentando zumbis que são cada vez mais difíceis. O esquema é o mesmo de todo jogo de sobrevivência: você deve manter a barra de vida cheia, curando ferimentos e envenenamentos, e também uma barra de fome, looteando alimentos e aperfeiçoando sua cozinha pra conseguir juntar ingredientes e fazer alimentos que recuperam mais pontos. Você pode fabricar armas, mas dá pra se virar bem com as que encontra no caminho.
Existe uma história bem detalhada, para aqueles que gostam. Durante a exploração você vai descobrindo notas, diários, arquivos de computador, e, caso tenha interesse, pode ler todo esse material para entender do que se trata aquele apocalipse zumbi. Caso queira apenas seguir jogando, a história de fundo não é obrigatória para zerar o jogo.
Sheltered (2016). Desenvolvido pela Team 17 (criadora do famoso The Escapists), tem um visual bem minimalista e estilo pixelado que esconde uma riqueza de mecânicas. Não tem a beleza melancólica e a profundidade emocional dos personagens de This War of Mine, mas tem muita coisa pra fazer: você pode ir acumulando personagens no abrigo e dando tarefas automáticas para eles, deixar que se alimentem, tomem banho, descansem e se virem sozinhos, enquanto você escolhe alguns para controlar, sair para fazer missões e lootear.
Diferente dos outros jogos desta lista, aqui você tem meios de transporte para agilizar a exploração, de cavalos a um carro (mas primeiro precisa juntar várias peças pra enfim conseguir usar o carro). O mapa com os locais exploráveis é também o maior dessa lista e os diálogos com as pessoas que você encontra no caminho têm um peculiar humor negro.
Uma vez que você consiga ajeitar o carro, pode simplesmente ir embora e dar o jogo por zerado, mas se quiser continuar sobrevivendo por dias e dias, não há limites. Você pode ficar por dezenas ou centenas de dias assim e com o tempo seu abrigo se torna um lugar com vários equipamentos e um sistema autossustentável de coleta de água e até uma horta para produzir alimento.
A sequência Sheltered 2 (2021) tem um visual mais denso, meio 2,5D em vez de puro 2D, além disso é mais sombrio, menos colorido que o primeiro, o que encaixa melhor na ambientação de um pós-apocalipse, mas confesso que gosto mais do visual do primeiro. A jogabilidade é um pouquinhos mais complexa, os stats dos personagens são mais detalhistas, mas no geral a experiência é a mesma do primeiro jogo.
ICY: Frostbite Edition (2017) é um pouco diferente por não ter um cenário horizontal 2D. Durante o jogo você vê o mapa inteiro do cenário e vai explorando e realizando missões, administrando um grupo de personagens e um inventário com itens. Nas missões você pode encontrar lojas de itens ou pessoas e animais perigosos, rolando um combate em turno no estilo dos antigos jogos de RPG. É um joguinho simples e que pode ser zerado rápido, mas achei bastante satisfatório.
Estes dias o Project Winter (2019) estava gratuito para testes na Steam e fui lá conferir. O visual cartunesco é bonitinho, mas de cara vi que é mal otimizado e mesmo com os gráficos no mínimo eu ainda perdi muitos FPS. De toda forma, deu pra jogar. O que não gostei foi o fato de não ter campanhas singleplayer, o que estraga bastante minha experiência.
Muita gente gosta de jogar este tipo de jogo de forma cooperativa (tanto que Don't Starve lançou até a versão cooperativa Don't Starve Together), mas eu gosto de curtir a solitude, principalmente porque posso fazer as coisas no meu tempo.
Além disso, a proposta de Project Winter é mais de ser um jogo de partidas competitivas rápidas do que propriamente exploração e sobrevivência. E pra piorar, tem um sistema de "traidor". Dentro da sua equipe, você ou outros jogadores podem receber o papel de traidor, aí deve atrapalhar tudo o que os outros fazem. Meh.
Ashwalkers (2021) de cara chama atenção pelo visual diferenciado. O jogo é todo em escala de cinza, salvo uns poucos detalhes em vermelho (para indicar, por exemplo, que um personagem está ferido). A ideia é transmitir a sensação de se explorar um mundo pós-apocalíptico que parece estar coberto de cinzas.
Até aí parece um jogo interessante. A jogabilidade, porém, me entediou rápido. Uma limitação que não combina com este gênero é o fato de que não há movimento de câmera e, embora o cenário seja 3D, você não pode girar os personagens e basicamente tem que caminhar sempre pra frente, dando a sensação de que há pouco a se explorar.
Os itens coletáveis também são poucos. É um jogo minimalista em termos de exploração e sobrevivência. Você caminha um pouco, coleta coisas, tem algumas interações estilo RPG, faz um acampamento pra descansar e repete este ciclo. De toda forma, pela estética diferente vale a experiência.
How to Survive (2013). Descobri recentemente esse joguinho indie e como estava numa boa promoção (team pechincheiros), resolvi experimentar. Bom que ele tinha uma demo gratuita que testei primeiro e vi que realmente fazia meu gosto. Tem exploração, crafting, evolução do personagem com skills e equipamentos, é bem completo para um jogo pequeno.
Os elementos que fazem um jogo ser bom ou ruim são, basicamente: o design (é o cartão de visita, já que o visual é a primeira coisa que você nota e também se inclui aqui a sonoplastia, música, etc.), a jogabilidade (a facilidade com que você se adapta aos controles, as mecânicas do personagem e dos cenários, a curva de aprendizado e dificuldade), a história e a estabilidade do software.
O quesito estabilidade é algo mais passivo e quanto menos o jogador se sinta desconfortável com o software, melhor. O ideal é que o jogo rode sem incomodar o jogador com lentidão, travamentos, crashes e bugs. Não se trata então apenas de não ser algo quebrado, mas também de ser otimizado. Às vezes um jogo aparentemente leve roda pesado, mesmo em um computador com suporte para ele. É falha na otimização.
Mas voltemos ao How to Survive. A otimização, para um joguinho desse porte, poderia ser melhor, já que rodou a 20 e poucos FPS no meu computador e até o Team Fortress 2, que é multiplayer, roda comigo numa média de 30 a 40. De toda forma, deu pra jogar sem que o FPS parecesse ser um incômodo.
Incômodo mesmo foram os crashes. Várias vezes tive que reiniciar e perdi uns minutos de progresso do jogo por causa disso. Às vezes a tela simplesmente ficava preta, às vezes o jogo fechava e todas as vezes que joguei, quando saia ele não fechava como deveria, continuava com uma instância rodando e eu tinha que forçar o fim do processo.
No mais, me diverti por umas 30 horas ao todo, explorei todas as ilhas, consegui fabricar a melhor armadura, lança chamas, motosserra, pistola, rifle, shotgun, metralhadora, arco e flecha, enfim, pude ter toda a experiência de jogo com os equipamentos. Quando conseguimos fazer flechas explosivas, aí fica bem melhor enfrentar os bosses, as balas incendiárias também são bastante úteis, mas não funcionam na chuva e aí entra outra arma que é excelente se usada com habilidade: o bumerangue.
E assim fui de ilha em ilha, fazendo todas as missões e tal, até chegar ao final. Pra zerar o jogo enfrentei uma onda de zumbis e um boss, tudo junto, e quando enfim terminei, o bendito jogo entrou na tela preta. Repeti essa missão final, tela preta de novo. O desgraçado simplesmente não me deixou zerar. Aí resolvi parar por aí, mesmo com essa frustrante sensação de não ter recebido o achievement de jogo zerado.
Na verdade, desconfio que esses problemas só aconteceram porque o jogo nativamente só tem suporte para Windows e joguei no Linux via Steam Play, então nem posso reclamar porque o Steam Play é experimental mesmo. Tirando esses bugzinhos, o jogo em si é ótimo.
A única coisa que me incomodou na jogabilidade é que o inventário é muito pequeno, mesmo depois que desbloqueamos slots. Tem muitos itens que vamos encontrando e sabemos que serão úteis no futuro, mas acaba faltando espaço pra guardar e a gente fica toda hora jogando coisas no chão e pegando de novo. Afinal existe muito crafting no jogo e é preciso ir juntando peças e mais peças, o que exige bastante espaço no inventário. Isso foi bem chato.
Também joguei o How to Survive 2 (2016), não sofrendo com bugs do primeiro. O visual tem uma melhoria, mas ainda prefiro o primeiro.
Em Março de 2020, a Steam fez algo que raramente costuma fazer (e a Epic faz toda semana): deu uns joguinhos de graça como uma espécie de "brinde da quarentena". Assim ganhei o Deiland (2016).
A proposta do jogo é bem legal. Seu personagem vive em um planetinha, numa clara homenagem ao Pequeno Príncipe, e nesse ambiente você realiza algumas missões de RPG, bem como tarefas de sobrevivência e crafting.
Tem tudo que jogos do gênero possuem: cortar árvores, minerar rochas, pescar, cultivar hortas, fabricar ferramentas e lutar contra monstros. O diferencial é a visão de jogo, que é 3D top-down em um cenário esférico que você gira enquanto caminha.
Apesar da ideia ser interessante, não gostei muito porque a visibilidade do cenário fica bem limitada. Ver o mundo assim, na forma de uma esfera, não oferece um panorama tão amplo quanto em um mapa plano visto de cima ou mesmo lateral. Para ter este panorama você precisa entrar no modo de visão de longe (tecla R), mas aí não é possível mover o personagem.
Enfim, o que parece ser o grande atrativo do jogo, a locomoção em um cenário esférico, acaba sendo um problema, pois não é uma forma agradável nem prática de locomoção. As tarefas também logo se tornam repetitivas e as aparições esporádicas de monstros são irritantes, pois você tem que parar tudo que está fazendo e fica proibido até de dormir, sendo obrigado a matar os bichos, mesmo que esteja sem recursos e com pouca vida. Ou seja, o jogo não permite que você se prepare para o PvM. É uma sentença de morte.
Forager (2019) é um joguinho simples criado por um studio indie argentino (ou melhor, basicamente por um cara, Mariano Cavallero, que usa a alcunha de HopFrog, o nome do pequeno studio) usando a engine GameMaker. Com um visual fofo e parecendo apenas mais um jogo de fazendinha para celular, ele acaba se revelando muito divertido e viciante para quem curte o gênero de exploração, coleta de recursos e crafting.
Segue a linha de Don't Starve, Stardew Valley, Terraria, etc, porém sem complicações. A curva de dificuldade é bem balanceada e você não corre o risco de passar raiva com mortes injustas. Tudo o que acontece no jogo dá pontos de experiência ao personagem, inclusive as tarefas automatizadas ou o simples fato de comer, o que faz com que o grinding, as atividades repetitivas, seja satisfatório.
Estabelecer atividades automáticas é o segredo desse jogo. Já no começo você pode plantar umas redes de pesca que ficam coletando por conta própria e com um upgrade elas enviam tudo direto pro inventário. Elas são fáceis de construir, então se você espalha várias redes na água já começa resolvendo de vez o problema de produzir comida.
Mais adiante, você pode construir até máquinas que literalmente limpam o mapa, coletando todo recurso que dá respawn, e também poderá construir droides. Há diversos equipamentos que também realizam tarefas automáticas, uma vez que você os alimente com os materiais: fornalhas, forjas, estações de alvenaria, costura, panela para fazer alimentos e até um caldeirão mágico.
Enquanto as máquinas estão trabalhando, você sai com seu personagem pelo mapa. O mapa consiste em biomas em pequenos espaços e com moedas você vai comprando novos pedaços, expandindo o mapa e a variedade de biomas, encontrando puzzles e quests que dão recompensas em itens, mas especialmente dão perks de efeito permanente que facilitam cada vez mais a sua vida.
Quando você já estiver rico e cheio de máquinas trabalhando, a exploração se torna ainda mais fácil e prazerosa, pois você pode fabricar bombas ou itens mágicos que limpam grandes áreas em volta do seu personagem, não precisando mais ficar batendo nas árvores e minérios um a um.
Nesse ponto, quando já estiver cheio de materiais, você pode se ocupar menos em exploração e mais em construir e decorar sua casinha. É o rumo da civilização: você começa catando paus e pedras e termina com indústrias e robôs fazendo tudo, enquanto desfruta sua vida moderna decorando a casa e vestindo o personagem com as fofas skins desbloqueadas.
Fell the Snow (2019) é um joguinho bem minimalista assinado pelo studio indie Owlet. Nos créditos do jogo há apenas dois desenvolvedores listados: Aleksey Arsenev e Roman Ovsyannikov. O studio nem mesmo tem um site, mas apenas um blog no Tumblr, então pouco se sabe sobre eles. Enfim, é um pequeno time, uma dupla, bem indie mesmo. E o jogo é tão simples que parece inacabado, mas tem um visual fofinho e é agradável de jogar. Detalhe que é possível jogar em modo cooperativo criando um server privado.
(12,05,2019; 28,06,2019; 16,07,2020; 30,07,2020; 07,02,2025; 26,04,2025; 30,04,2025)
Palavras-chave:
11 Bit Studios, 505 Games, Chibig, Daedalic Entertainment, HopFrog, Other Ocean Interactive, Owlet, Team 17
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