Neollogia
Cogitações e quejandas quimeras 🧙‍♂️
.・゜゜・Omnia Mutantur ・゜゜・.

Habemus Papam

Papa Leão XIV

Não sou católico, nem mesmo fui batizado na infância como muitos brasileiros não praticantes, pois meus pais não eram católicos, então meu conhecimento e vivência quanto ao catolicismo é raso. De toda forma, faço parte da multidão leiga que esta semana acompanhou o velório do Papa Francisco e a escolha do novo papa, hoje anunciado como Leão XIV (originalmente chamado Robert Francis Prevost).

Goste ou não e concorde ou não com a igreja, você deve admitir que ela é bastante influente e sabe dar pompa e importância a seus eventos. Foram nove dias de missas em sufrágio pelo falecido Papa e dois dias de conclave, resultando numa rápida escolha do sucessor, com a famosa fumaça branca anunciando o "habemus Papam". Multidões em todo o mundo vibraram, se comoveram ou pelo menos dedicaram atenção ao evento.

Como leigo, posso tecer algumas impressões que são na verdade bem óbvias sobre o papado. Além de ser o líder religioso máximo da igreja católica, também é um líder político, afinal o Vaticano é um estado como qualquer outro país, e o papa há séculos tem este papel diplomático que vai além da religião.

Além de tudo, o papa é um símbolo, uma egrégora, um reflexo do zeitgeist de seu tempo. O próprio nome carrega um simbolismo, uma mensagem tácita que pretende dar para o mundo e para a própria igreja. O Papa Francisco, por exemplo, foi o primeiro a adotar este nome. Ele foi o Francisco I, o que indica uma óbvia intenção de inovar, de quebrar certas tradições e inaugurar uma proposta sua para o papado.

Francisco foi considerado um papa politicamente alinhado ao progressismo, o que pode ser verdade em partes, pois o progressismo em si rejeita várias pautas, vários credos e dogmas da igreja. O fato é que Francisco se mostrou mais simpático ao progressismo.

Quanto a Leão XIV, em sua própria escolha de nome já deixa um recado: ele quer honrar uma longa tradição. Ele é o décimo quarto a escolher este nome e em vez de criar sua própria "marca", ele indica que pretende inspirar-se na linhagem dos papas com o mesmo nome, especialmente o anterior, Leão XIII, que foi um pontífice dedicado à teologia, promoveu a obra de Tomás de Aquino. Leão XIV, por sua vez, tem uma formação mais voltada para Santo Agostinho, que então será por ele promovido em sua influência sobre a igreja.

Enquanto na corrida papal do conclave havia indicados mais radicais, tanto para o conservadorismo quanto para o progressismo, o Cardeal Prevost parece moderado e provavelmente deve adotar uma postura mais diplomática e evitando polêmicas. Além disso, por ser relativamente "jovem", eleito aos 69 anos, ele tem potencial para um papado mais longo do que o de seus antecessores. Podemos ver umas duas décadas de relativa estabilidade na igreja e nas relações dela com a política.

O fato de Prevoist ser americano¹ também acaba tendo um valor simbólico, pois naturalmente ele se torna mais alinhado ao Ocidente e ao soft power dos EUA. Agora que o mundo está passando por uma tensão que irá remodelar a ordem mundial (ou reafirmando os EUA como líder dessa ordem ou colapsando de vez esta liderança), um papa americano acaba contribuindo na balança em termos de soft power, de afirmação cultural do ocidente cristão sobre propostas alternativas.

(08,05,2025)

Notas:

1: Sim, hoje em dia se discute muito este termo "americano". Há quem discorde de seu uso para se referir aos cidadãos dos EUA, que, segundo tal crítica, deveriam se chamar "estadunidenses", uma vez que americanos são todos os habitantes dos três continentes chamados América.

O fato é que esta é uma discussão mais política e ideológica do que linguística, pois é perfeitamente válido um "estadunidense" se chamar americano, uma vez que seu país se chama Estados Unidos da América. Por metonímia, a parte do nome representa o todo. Assim como um habitante da República Federativa do Brasil se chama brasileiro, aquele dos Estados Unidos da América é americano.

Quem molda um idioma e seus termos é o povo, e foi o próprio povo dos EUA que ao longo dos séculos estabeleceu este costume de chamar, até com um ar afetivo, seu país de América (e alguns ainda mais intimamente apelidaram de Merica). Até mesmo os imigrantes italianos, ao criar intimidade com o pais que os acolheu, de tal forma habituaram-se a chamar os EUA de Merica, que existe até uma música folclórica italiana chamada Merica:

"Merica, Merica, Merica
Cossa saràlo 'sta Merica?
Merica, Merica, Merica
Un bel mazzolino di fior"

Ninguém pode, portanto, obrigar os próprios cidadãos dos EUA (o que inclui imigrantes lá estabelecidos) de chamar sua terra de América e a si mesmos de americanos. No fim das contas, rejeitar este termo é apenas birra de militantes ideológicos.

Palavras-chave:

Leão XIV

Nenhum comentário:

Postar um comentário