O monólogo é um tipo de filme ideal para produções independentes e diretores iniciantes. Geralmente o cenário é pequeno e a folha de pagamento de atores é bem enxuta, já que só existe um protagonista e quando muito alguns poucos figurantes. Todavia, para algo assim dar certo é preciso uma história realmente boa e o ator solitário terá de carregar o filme das costas. É o que acontece em Inside (2023). O filme consegue acertar essa fórmula.
Basicamente a história envolve um ladrão chamado Nemo (Willem Dafoe) que invade a cobertura chique de um edifício em Manhattan a fim de roubar uns quadros do bizarro e valioso artista austríaco Egon Schiele, aproveitando que o dono do apartamento está viajando.
O local tem uma segurança automática reforçada e que apresenta algumas falhas no sistema, de modo que Nemo fica enclausurado nesse castelo moderno, sem contato com o mundo exterior, incapaz de pedir ajuda.
Enquanto tenta desparafusar uma claraboia (tarefa que leva vários dias, pois ele não tem nenhuma ferramenta e tem que se virar como pode), passa por vários apertos. O termostato automático ora deixa o local muito quente, ora muito frio; a comida na geladeira logo acaba, a única água que resta é a que jorra de um aspersor automático que uma vez ao dia é acionado para regar um pequeno jardim.
Desta forma, Nemo se encontra em uma irônica situação, pois, apesar de estar em uma cobertura de luxo, tem uma vida de miséria ali, passando fome, frio, sede e calor, aos poucos enlouquecendo com aquela experiência claustrofóbica.
A bizarra aventura de sobrevivência de Nemo naquele lugar fica ainda mais esquisita à medida em que ele contempla as pinturas de Egon e passa o tempo lendo The Marriage of Heaven and Hell, do místico e enigmático William Blake.
O filme é produto de três studios indies: o grego Heretic Films, o alemão Schiwago Film e o belga A Private View, com direção do iniciante Vasilis Katsoupis, que enfia sem vaselina (eu não podia perder esse trocadilho) no espectador um show agoniante. O Willem Dafoe, com seu carisma grotesco, consegue carregar o filme nas costas.
Definitivamente não é um filme para qualquer um. Muitos podem se sentir desconfortáveis e não gostar do longa por causa disso. Quanto a mim, achei-o bem envolvente e, como diria o meme: "É Dentro".
Palavras-chave:
Ben Hopkins, Egon Schiele, Focus Features, Heretic Films, Schiwago Film, Vasilis Katsoupis, Willem Dafoe, William Blake
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