Neollogia
Cogitações e quejandas quimeras 🧙‍♂️
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Sound of Freedom, um filme sério sobre o tráfico humano

Sound of Freedom (2023)

Na época em que Sound of Freedom (2023) foi lançado, os veículos de mídia repetiram em coro o mesmo mote: "o filme mais polêmico do ano". Em uma espécie de efeito manada, era assim que os sites e comentaristas ecoavam a mesma coisa, como se o filme fosse um grande escândalo. O curioso é que muitos destes comentaristas sequer devem ter assistido ao longa e compraram a ideia de que era polêmico por questões externas à obra, por questões políticas.

Uma vez que você de fato assiste Sound of Freedom, acaba percebendo que não tem nada de escandaloso, polêmico ou controverso. É a história de um agente especial, Tim Ballard (Jim Caviezel) que investiga redes de tráfico infantil, prendendo criminosos e resgatando as crianças. Ele acaba viajando até a Colômbia e se infiltrando numa rede barra pesada de tráfico.

O filme baseia-se em um personagem real, Tim Ballard, que é de fato um ex-agente americano e fundador de uma ONG de combate ao tráfico infantil, a Operation Underground Railroad. A história narrada em Sound of Freedom naturalmente não deve ser um relato real em seus mínimos detalhes, mas o fato é que não tem nada de absurdo ou inverossímil na obra.

Tim Ballard
O real Tim Ballard.

Que existem redes de tráfico humano no mundo, todos devem saber, mesmo que a maioria das pessoas não faça ideia das atrocidades que acontecem neste submundo e de como esta é uma indústria gigantesca, movimentando bilhões de dólares em todo o globo ao custo da vida de humanos que são literalmente escravizados e submetidos às condições mais degradantes.

Logo, fazer um filme em que o protagonista luta contra isto não deveria ter nada de polêmico. Ao contrário, é nobre. A maneira como a história é contada em momento algum recorre à apelação, ao choque ou sensacionalismo. É uma narrativa delicada, que evita cenas de sexo explícito, que apenas deixa subentendida a violência.

Onde estava então a polêmica? Estava fora do filme, na repercussão nas redes sociais e na imprensa, pois o tema despertou comentários sobre teorias conspiratórias envolvendo as elites do mundo que exploram crianças até mesmo para extrair um elixir da vida, etc. Bom, não sou eu que vou dar o veredito sobre este assunto, mas o filme em si em momento algum envereda por este caminho.

No fim das contas, ficou parecendo que esta acusação de "polêmico e conspiratório" foi forjada a fim de prejudicar sua publicidade. Inveja de Hollywood ao ver um indie caminhando para o sucesso, talvez? Algum tipo de birra de militantes progressistas por acharem que o filme tem mais apelo para um público conservador? Um mero efeito manada, quando comentaristas passaram a ecoar a mesma ideia sem sequer ter visto o filme?

Talvez até o simples fato do longa ser protagonizado pelo Jim Caviezel tenha sido o estopim para disparar esta onda de hate da mídia. Caviezel é conhecido por ter interpretado ninguém menos que Jesus Cristo, em A Paixão de Cristo, de 2004. Hoje em dia ele não é muito bem quisto em Hollywood ou na imprensa progressista em geral, devido ao fato dele ser cristão militante. Bom notar que o Mel Gibson participou da produção e divulgação do longa e já faz algum tempo que Hollywood implica com ele também.

Mas enfim, deixando de lado toda essa rixa e birra dos veículos de mídia, a verdade é que Sound of Freedom é um filme decente, com um drama sensivelmente narrado. Inclusive vale destacar a atuação da jovem Cristal Aparicio, que interpretou a criança que Tim Ballard buscou ao longo de toda a história. A cena em que ela reencontra o pai é tocante.

Cristal Aparicio, Jim Caviezel; Sound of Freedom (2023)

(16,02,2024)

Palavras-chave:

Angel Studios, Alejandro Monteverde, Cristal Aparicio, Jim Caviezel, Mel Gibson, Tim Ballard

É proibido fumar

Sou contra proibições arbitrárias. A vida em sociedade não é uma ciência exata e não basta simplesmente criar uma pilha de leis para cada situação do cotidiano. É preciso ter bom senso e tato para entender as relações humanas e o real impacto de uma lei na psique coletiva. 

Um exemplo de lei arbitrária, para não dizer estúpida, é a proibição de saleiros nas mesas de restaurante. Pois é, tem algumas cidades onde existe esta lei que ultrapassa o bom senso. Alegando proteger a saúde do cidadão, os legisladores apenas inventam mais um mecanismo para a indústria de multas. 

Ora, a simples presença do saleiro não vai forçar o cliente a se entupir de sal. Se o cliente for do tipo que gosta de muito sal, ele vai consumir muito sal em casa, em qualquer lugar. Na ausência do saleiro, ele vai pedir os pacotinhos de sal e se entupir de todo jeito. 

Além disso, não existe por parte do restaurante algum objetivo de induzir o cliente a consumir mais. O restaurante não ganha nada com isto. A tradição do saleiro nas mesas existe por causa dos próprios clientes. É uma conveniência. As pessoas costumam pedir por ele, então para facilitar a vida de todos, inclusive do garçom, é melhor já deixar o saleiro na mesa. 

Por outro lado, há certas proibições que considero justas, mesmo sendo controversas, como é o caso do cigarro em ambientes públicos.

Eu entendo o sentimento de insatisfação dos fumantes, pois não poder fumar na hora que dá vontade em um espaço público é frustrante. Há pessoas que precisam do cigarro para aliviar a ansiedade (em muitos casos causada pelo próprio vício do cigarro) e a tensão de não poder fumar em um restaurante, uma sala de espera ou ônibus, aumenta o nível stress nestas pessoas.

Entendo isto. Todavia, também enxergo a coisa na ótica das pessoas que se incomodam ou são prejudicadas pelo cigarro alheio e estou incluso na segunda categoria.

Quando era criança, durante o São João eu estava brincando com a famosa chuvinha, aquele canudinho de papel cheio de pólvora. Acabei aspirando aquela fumaça quente e tóxica da pólvora e passei muito mal. Fiquei a noite deitado com muita falta de ar, à beira da morte.

Desde então, meu organismo ficou bastante sensível a fumaça, qualquer uma. Todo ano durante o São João, a fumaça das fogueiras nas ruas se espalhava pelo ar, entrava nas casas e era sempre um sufoco para mim, pois depois daquele acidente da chuvinha parece que meus brônquios ficaram alérgicos e com a fumaça eles se contraíam. 

Em certa ocasião, fui com meus pais até a casa de um tio. Ele e a esposa eram fumantes compulsivos e estavam ali todos conversando à vontade e o casal fumando muito. A casa era pequena e eu percebia que o ar estava todo embaçado com tanta fumaça. Meus pais pareciam não se importar, mas eu estava chegando ao limite do sufocamento e pedi para sair até a calçada.

Moral da história: não se trata apenas de um mero incômodo. Há pessoas que não gostam do cheiro do cigarro, mas também há pessoas com problemas respiratórios, asmáticos, alérgicos, etc. que não podem se expor a fumaça. Sem contar o óbvio fato de que a fumaça do cigarro contém toxinas. 

Sou contra proibir qualquer pessoa de expor o próprio corpo a toxinas. Cada um deve ter a liberdade de expor o corpo aos perigos que quiser: cigarro, bebidas, excesso de sal, de açúcar, drogas, tatuagem, tintura de cabelo, whatever. O corpo é seu. Proibir uma pessoa de tratar mal o próprio corpo é bastante problemático, porque pode estabelecer um princípio de que o corpo é uma propriedade do estado e isto é muuuito perigoso. O corpo é do indivíduo. É, de fato, seu bem mais fundamental: seu corpo, sua vida, sua mente.

Assim como sou livre para fazer o que quiser com meu corpo, este mesmo princípio implica que não tenho o direito de fazer nada prejudicial ao corpo das outras pessoas, pois só elas têm este direito. Eu posso danificar meu corpo se eu quiser, você não.

Esta é uma grande diferença entre álcool e cigarro. Eu ingiro o álcool e ele fica no meu corpo. Já o cigarro é algo que não tem limites espaciais. A fumaça se espalha pelo ar e outras pessoas vão ingerir contra a vontade delas, afinal estamos todos respirando o mesmo ar.

"Os incomodados que se retirem" é um ditado problemático e não é justificativa para alguém fumar perto de outras pessoas que não aprovam isto. 

(21,02,2024)

Adam Sandler abraça uma aranha alienígena em Spaceman

Spaceman (2024)

O espaço sideral é um ambiente solitário, extremamente solitário. Viajando pelo espaço, você terá à sua volta incontáveis anos-luz de vazio. Não à toa, é até comum que a ficção espacial adote o tema da solidão ilustrada no isolado astronauta.

É o caso, por exemplo, de Solis (2018), cuja solidão está explícita no próprio título do filme. Também temos isto em Approaching the Unknown (2016) e Ad Astra (2019).

Eis que em Spaceman (2024), este tema da solidão retorna e com um curioso detalhe: o protagonista é interpretado pelo Adam Sandler. Muitos estão acostumados com o lado zoeiro do Adam Sandler, com a comédia debochada e que beira o tal limite do humor, mas não se engane, ele também sabe abraçar o drama e a emoção. Um bom exemplo disso é Reign Over Me (2007), onde ele encarna um homem quebrado pela tragédia.

O astronauta Jakub Procházka está em uma missão para coletar amostras de uma misteriosa nuvem cósmica nas proximidades de Júpiter. Durante sua viagem, ele tem de lidar com o peso da solidão, agravado pela crise em seu casamento, uma vez que ao partir para o espaço ele deixou na Terra sua esposa grávida, Lenka (Carey Mulligan).

Esta saga adquire um ar kafkiano quando Jakub se depara que uma aranha alienígena gigante que se comunica com ele por telepatia. Após o susto inicial, ele acaba se apegando àquela criatura, à qual dá o apelido de Hanuš (a voz da aranha é interpretada por Paul Dano).

Adam Sandler hugging a giant spider; Spaceman (2024)

Hanuš revela que é um sobrevivente fugitivo de um planeta distante que foi atacado por invasores de outro mundo. Em sua viagem pelo espaço, ele avistou a Terra e a nave de Jakub e ficou fascinado, dedicando-se a estudar a espécie humana à distância. Ao entrar em contato com Jakub, ficou interessado em suas memórias e dramas pessoais, de modo que Hanuš acabou se tornando uma espécie de confidente, de certa forma um psicanalista e também um amigo em meio àquela solidão cósmica.

Quanto a Lenka, esposa do astronauta, é até compreensível que ela estava magoada com o marido que a deixou num momento delicado de gravidez, mas convenhamos que ela foi bem egoísta nesta história toda. Ora, ela casou-se sabendo que ele era um astronauta, que a qualquer momento poderia sair numa missão de vários meses, além disso, por mais que ela sentisse a falta dele na Terra, ela ainda tinha família e amigos à sua volta, enquanto Jakub ficou com a pior parte, vivenciando o completo isolamento. Custava ela ter um pouco de paciência e compreensão e esperar o cara voltar da missão? Em vez disso ela se intrigou dele, parou de se comunicar, o que só piorou a depressão do astronauta.

Eis porque o futuro da exploração espacial está destinado aos robôs. Os humanos em geral, salvo exceção dos raros amantes da solitude, não são feitos para o isolamento, não conseguem lidar com isto com facilidade. Exploração espacial necessariamente trará muita solidão e isolamento. e astronautas humanos são uma bomba relógio de emoções. A qualquer momento a pessoa pode entrar numa crise emocional que colocará toda a missão em risco.

Mas enfim, assim como Ad Astra, Spaceman não é sobre o espaço, mas sobre laços. O laço de marido e mulher, que se mantém apesar da distância de milhões de quilômetros, e também um laço que transcende a humanidade, uma vez que Jakub se torna o grande amigo de uma aranha alienígena.

Existe, obviamente, a possibilidade da aranha ser apenas um delírio do astronauta, mas prefiro acreditar que ela era real, mesmo porque ela sabia informações sobre a nuvem cósmica que Jakub não tinha conhecimento.

Spaceman é um filme modesto, com um orçamento de apenas 40 milhões de dólares. Não se propõe ser épico e nem mesmo é a melhor atuação do Adam Sandler em um papel dramático, mas vale entrar na prateleira dos filmes espaciais voltados para a solitude.

(05,03,2024)

Palavras-chave:

Adam Sandler, Carey Mulligan, Johan Renck, Kafka, Netflix, Paul Dano

A normalização do útero artificial

É bizarro pensar que já presenciamos o desenvolvimento de algo tão futurista quanto o útero artificial. Já não há obstáculos tecnológicos para a concretização deste conceito. Por outro lado, a normalização da tecnologia enfrentará obstáculos ao longo das próximas décadas.

É de se esperar que a princípio haja uma resistência cultural de boa parte da população, seja pela simples estranheza com algo tão disruptivo, seja por motivos morais e religiosos. Pessoas vão alegar que isso é brincar de Deus, é antinatural, uma afronta à criação, até mesmo algo satânico, por roubar da mulher o seu dom sagrado da gestação.

Por quanto tempo haverá esta resistência, é difícil prever. Todavia, o que a história mostra é que mesmo os grupos religiosos mais dogmáticos acabam se rendendo às novas tecnologias e aceitando a sua normalização. Há exceções, como no caso das Testemunhas de Jeová que jamais cederam à tecnologia de transfusão de sangue. Assim sempre haverá grupos mais fechados que vão rejeitar algo tão estranho como o útero artificial.

De toda forma, no geral a teologia irá se adaptar a esse novo conceito. É dito que "teologia é escrita a lápis", justamente porque com o progresso humano certas visões de mundo têm de mudar e a teologia não pode ficar para trás. 

Haverá, por outro lado, também uma resistência psicológica por parte da sociedade. Não por motivos religiosos ou ideológicos, mas sentimentais, afetivos, até mesmo psicossomáticos. Isto deverá ser mais frequente nas mulheres.

Ora, desde sempre os homens estão habituados a viver sem a experiência física da gestação. Podem ter a experiência psicológica de saber que sua prole está sendo gerada; há até culturas indígenas onde os homens ficam de resguardo após o parto da gestante.

O fato é que nenhum homem sabe realmente como é estar grávido pelo óbvio motivo de que ele não possui a estrutura fisiológica que permita esta experiência. Logo, para os homens em geral, ser privado da gestação não é um incômodo. Já nasceram com esta limitação e vivem acostumados a ela.

A mulher, por outro lado, cresce se dando conta de que ela tem este poder, este dom, esta possibilidade de abrigar um bebê no ventre. Algumas podem ter uma visão mais positiva e a expectativa de ter filhos, outras, ao contrário, podem rejeitar a ideia e até ter pavor da gestação, mas de uma forma ou de outra, a noção da gestação é uma experiência que as mulheres têm e os homens não.

O simples fato de saber disto influencia a visão de mundo feminina de um modo diferente da masculina. A mulher tem sua vida sexual marcada pela preocupação ou expectativa com a gravidez de uma forma bem mais intensa que o homem, afinal é ela quem vai levar o bebê dentro de si por vários meses.

Para algumas mulheres esta possibilidade é assustadora, mas para outras é uma experiência desejável e única. Muitas mulheres sonham em engravidar e, a despeito dos fardos desta condição, sentem-se satisfeitas e realizadas com a experiência da gestação.

Sendo assim, para os homens em geral será bem mais fácil aceitar a tecnologia do útero artificial, já que a gravidez nunca foi algo que eles esperassem vivenciar. Já entre as mulheres, haverá aquelas que querem usufruir da gravidez como um direito natural e não irão ceder este privilégio a uma máquina.

Por outro lado, existem mulheres que têm pavor da gestação, seja pelos riscos envolvidos, seja pela alteração do corpo, da rotina, até mesmo da aparência. Estas sentir-se-ão aliviadas em poder delegar a tarefa da gravidez a um útero artificial.

A princípio é certo que a maior parte das pessoas que irão recorrer ao útero artificial serão aquelas incapazes de optar pelos meios naturais, casais inférteis ou com qualquer limitação fisiológica. Nestes casos, a máquina será a solução de um problema.

(22,02,2024)

[Rascunho] Ideias sobre as funções dos players num jogo cooperativo

Já é bem sabido no mundo dos games que, em jogos cooperativos baseados em classes, o suporte é sempre a classe menos escolhida. Só que o problema não para por aí. Também acontece de players escolherem determinada classe, mas por desconhecimento ou teimosia acabam não realizando a função daquela classe. 

Quando o Overwatch tinha espaço para dois tanks, era comum que um deles trabalhasse como off-tank, ou seja, praticamente um flanco ou dps, ajudando a matar os inimigos na linha de frente ou protegendo o suporte atrás. Agora que Overwatch 2 só tem espaço pra um tank, o preferível é que este player de fato exerça o papel de tank, só que vez ou outra algum espertinho quer brincar de off-tank, deixando o mid totalmente desprotegido e o time decepcionado.

Como então convencer o player a se ater à sua tarefa? Obviamente deve haver estímulos e recompensas mais voltados a isto, a orientar o player a cumprir a função de sua classe. 

Por exemplo, um tank pode ter uma área delimitada em volta do objetivo do jogo, seja o local do mid ou o carro que o time deve carregar. Se ele se afastar demais desta área, pode começar a levar dano do ambiente, dano que aumenta quanto mais longe ele fica do mid, até o ponto de ser mortal. Por outro lado, quanto mais perto do mid, mais ele recebe uma porção de cura passiva.

Esta combinação de estímulo e punição inevitavelmente vai convencer o player a ficar no lugar certo para um tank. 

Jogadores de suporte podem por sua vez receber uma cura passiva sempre que estão curando alguém. Também podem ter outros bônus, como aumento da defesa e velocidade, facilitando sua fuga quando perseguidos por flancos. Eles verão que jogar como suporte se torna bem mais fácil se de fato se dedicarem a curar os outros, pois quando não curam ficam mais fracos, lentos e vulneráveis.

Jogadores de flanco podem ter um bônus de dano contra suportes, assim eles aprendem de vez que sua tarefa é ir atrás do suporte e não ficar gastando dano com o tank. Também podem receber mais dano de tanks, o que fará com que evitem se aproximar de um. 

Jogadores de dano podem causar mais dano nos tanks e ter o benefício do life steal, se curando um pouco à medida em que causam dano.

Acho que todas as classes devem ter algum tipo de cura passiva que funciona de acordo com o cumprimento da função de cada classe. Isso diminui a cobrança sobre os suportes, mas a cura passiva obviamente não deve se comparar à do suporte, senão esta classe se torna dispensável.

Enfim, eis algumas maneiras de incentivar as classes. Por outro lado, também é interessante a ideia de jogos competitivos sem classes específicas, onde os players podem fazer um pouco de tudo ou montar builds mistas conforte o gosto. Neste caso, as classes acabam acontecendo espontaneamente de acordo com o interesse de cada player, o que torna as partidas bem imprevisíveis e únicas.

Um exemplo prático disso é um modo experimental de partida no Paladins em que a escolha de classes e personagens é totalmente livre. É possível pegar personagens repetidos e até montar um time inteiro com o mesmo personagem. Cada partida deste modo é bem peculiar, dada sua composição complexa. Imagine um time só de suportes contra um time só de tanks, etc.

(22,02,2024)

Depressonho

Vivo neste limbo delirante
Entre a apatia e o fascínio.
Ora empolgado, sonhando acordado,
Ora desespero e desanimo.

Bendita é a imaginação
Que me eleva para o sublime.
Frio e melancólico, lunaticaótico,
Semiacordado, semionírico.

A tristeza é a minha cama.
De fato confortável e fofinha.
Sou acostumado a viver neste estado
Entre o Hades e os Campos Elísios.

Depressonho é o substantivo,
É o verbo que bem me define.

(29,05,2023) 

Inclassificável

Eu dispenso rótulos,
Dispenso estereótipos.
Não há nada que possa
Definir-me, impor limites.
Sou no todo caótico
Com uma fração de ordem.
Não pertenço a hordas.
Eu sou um indivíduo.

(11,02,2024)

A obsessão pela igualdade

Em 2015, o radialista Joe Gelonesi¹ escreveu um artigo expressando uma interpretação perturbadora da realidade das famílias na sociedade. Ele cita a proposta de Platão, de uma sociedade em que as crianças são criadas pelo estado, e também os filósofos contemporâneos Adam Swift e Harry Brighouse.

Ele diz que os pais que são atenciosos com seus filhos, por exemplo, tendo um momento com eles para ler uma história de ninar, deveriam ocasionalmente pensar em como, com este hábito, estão dando a estas crianças uma vantagem em relação àquelas que não têm uma família saudável. O que ele pretende com isto? Implantar um sentimento de culpa? Os pais amorosos devem pedir desculpas à sociedade porque estão preparando seus filhos melhor que os pais abusivos?

"I don’t think parents reading their children bedtime stories should constantly have in their minds the way that they are unfairly disadvantaging other people’s children, but I think they should have that thought occasionally."

Argumenta que as condições econômicas influenciam na desigualdade de oportunidades, pois uma família com mais recursos pode pagar escolas mais caras e aulas de reforço, o que faz sentido, mas também inclui outro elemento: crianças com uma família funcional, que recebem carinho, que têm um bom convívio no lar, se tornarão adultos mais preparados para a vida em sociedade do que aquelas que foram privadas disto. Não há como negar esta constatação.

A bizarrice começa quando o artigo propõe uma solução para o problema da desigualdade. Segundo Swift, uma proposta é abolir a família. Isso mesmo. Já que há tanta diferença nos ambientes familiares, uns saudáveis, outros abusivos, então uma maneira de planificar as condições das pessoas é remover este fator da equação. Que gênio! 

"One way philosophers might think about solving the social justice problem would be by simply abolishing the family. If the family is this source of unfairness in society then it looks plausible to think that if we abolished the family there would be a more level playing field."

Ele chega a argumentar com um tom de petulância e sugerindo a intervenção estatal nos mínimos detalhes da vida familiar. Basicamente diz que o estado não deveria "permitir" que as famílias fossem muito atenciosas e carinhosas, pois isto criaria filhos com vantagem em relação a outras pessoas que não tiveram a mesma sorte.

"What we realised we needed was a way of thinking about what it was we wanted to allow parents to do for their children, and what it was that we didn’t need to allow parents to do for their children, if allowing those activities would create unfairnesses for other people’s children".

Swift constata que ter um ambiente familiar saudável é mais decisivo para o futuro da criança do que estudar em uma escola particular. No shit, Sherlock.

"The evidence shows that the difference between those who get bedtime stories and those who don’t—the difference in their life chances—is bigger than the difference between those who get elite private schooling and those that don’t,’."

Eu sei por experiência própria o que é ter crescido em uma família disfuncional e abusiva, conheço muito bem os danos que este tipo de infância causam, o peso que põe sobre nossas costas, tornando tudo mais difícil na vida. Olhando para meu passado, posso identificar decisões erradas que tomei ou obstáculos que enfrentei com dificuldade e que eu teria lidado de uma forma bem diferente se tivesse recebido uma nutrição afetiva mais saudável. Todos aqueles que viveram em um lar problemático entendem este sentimento.

No entanto, não tenho este sentimento de inveja para com aqueles que desfrutaram da bênção de uma família funcional. Esta inveja impregna a mentalidade daqueles que querem planificar a sociedade e, se possível, até a natureza, a fim de igualar todos e igualar por baixo. É uma obsessão por uniformidades, eliminando da equação humana toda a diversidade de condições, experiências e características. Querem transformar a humanidade em uma linha de produção, produzindo humanos todos iguais, feitos na mesma forma.

A natureza abomina a simplicidade. Ela se ramifica sempre em busca do complexo, da riqueza e variedade e para isto submete todas as criaturas a diferentes condições, cada qual com suas vantagens e desvantagens. Como seres conscientes, nós temos a capacidade de questionar e intervir na natureza, mas até certo ponto. O desejo de igualdade é como o desejo de liberdade, ambos têm limites, pois a versão absoluta disto e daquilo seria a pura aniquilação.

Imagine se algum destes utópicos extremistas ganhasse o poder divino para moldar o universo. Ele reduziria toda a natureza, todos os seres, planetas e seres vivos a um grande mar feito puramente de hidrogênio, todos iguais na sua simplicidade, todos feitos de apenas 1 próton e 1 nêutron.

(23,02,2024)

Notas:


Palavras-chave:

Adam Swift, Harry Brighouse, Joe Gelonesi, Platão

Apocalipse

Um poema 
Apocalíptico.
Cada estrofe
Catastrófica.

(31,10,2022)