Superman the Movie (1978)
O filme começa com um ar sério e um estilo sci-fi, aproveitando a presença marcante do Marlon Brando como Jor-El. Ele é apresentado como um homem sábio, de fato a única voz da razão em Krypton, alertando sobre a iminente destruição do planeta, um profeta do apocalipse, porém baseado não em visões, mas em pesquisa científica. Restando apenas trinta dias para a catástrofe, ele só consegue salvar o próprio filho, enviando-o em uma pequena espaçonave através de seis galáxias até chegar à Terra.
Acompanhamos um pouco da juventude de Clark (então interpretado pelo Jeff East), até que ele encontra a Fortaleza da Solidão e passa por uma espécie de curso com uma projeção holográfica de Jor-El. São 12 anos de treinamento, recebendo aulas nos diversos ramos do saber, bem como uma formação moral.
Agora adulto, ele se muda para Metrópolis e começa a trabalhar no Daily Planet, quando então o filme adota um aspecto mais cômico. Clark é trapalhão e até a Lois Lane tem um lado cômico, pois ela, a despeito de ser uma jornalista dedicada, tem dificuldades de escrita, constantemente sendo corrigida por erros de ortografia.
O primeiro ato público do Superman é salvando a própria Lois durante a queda de um helicóptero. Em seguida vemos uma sequência de outras atividades, salvando um avião, detendo criminosos e até tirando um gatinho de cima de uma árvore.
Geralmente atribuímos o caráter moral do Clark à educação que recebeu de seus pais humanos, mas neste filme a influência de Jor-El parece importante. Jor-El via no filho o potencial para ser um grande benfeitor da humanidade e no holograma transmitiu para ele este propósito. Inclusive, quando já adulto, Clark começa a salvar pessoas e combater o crime, ele conta tais feitos para Jor-El na Fortaleza e é encorajado pelo pai, mas Jor-El também faz questão de orientar que Superman jamais revele sua identidade, pois isto traria problemas.
Estas primeiras aparições do Superman atraíram a opinião pública e Lois Lane consegue entrevistá-lo numa cena tão cheia de tensão sexual que pode até causar estranheza no público moderno, devido à conversa cheia de duplos sentidos. Esta conversa, apesar do clima de flerte, também serve para revelar ao público normie algumas informações sobre o personagem, seus poderes, Krypton, etc.
O roteiro (escrito pelo Mario Puzo, o mesmo autor da aclamada novela The Godfather) realmente sabe o que está fazendo para ganhar a atenção da audiência e tornar o Superman um personagem para todos os públicos e não apenas leitores de quadrinhos. Quando Superman sai voando com Lois, está estabelecido o casalzinho que o público iria amar pelos próximos anos. Inclusive essa cena dos dois voando é bem longa, tomando uns 10 minutos do filme, um momento sem pressa de terminar.
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Então vem a cena que se consagrou como o grande momento em que o Chritopher Reeve mostrou a sua compreensão do personagem. Enquanto está caracterizado como Clark Kent, ele tira os óculos, endireita a coluna e muda a voz e a expressão facial. Neste momento podemos perceber a diferença entre Clark Kent e Superman e a capacidade do ator trabalhar esta diferença.
Enquanto isso, Lex Luthor já está enciumado com as notícias sobre esse super alienígena e com seu brilhante intelecto chega à conclusão que os meteoros vindos de Krypton devem ser letais para um kryptoniano, partindo em busca da kryptonita que caiu na Terra.
Convenhamos, é um raciocínio nada brilhante e essa história toda da kryptonita tem incongruências. Por exemplo, Krypton fica a várias galáxias de distância e, embora seja possível que a nave do Superman viajasse mais rápido do que a luz, provavelmente por dobra espacial, os meteoros que vagaram após a explosão do planeta jamais chegariam à Terra e, mesmo que por uma enormíssima coincidência alguns fragmentos seguissem numa rota em direção à Via Láctea e precisamente para a Terra, levariam milhões de anos.
Mas ok, este é um dos momentos em que devemos ligar a suspensão de descrença. E convenhamos que numa história do Superman a suspensão de descrença deve se manter constantemente ativa (espera só chegar na parte em que o Superman volta o tempo ao girar a Terra ao contrário).
Luthor atrai o Superman para seu covil e testa a invulnerabilidade dele com uma rajada de balas, fogo e frio intenso, obviamente nada adiantando. Então temos o típico momento em que o vilão conta seu plano para o mocinho, um plano bem estranho aliás: ele pretende lançar duas bombas atômicas na Califórnia, de modo que apenas a área desértica na costa oeste seria habitável. Como ele já havia comprado esta área, iria empreender um negócio imobiliário supervalorizado depois da destruição da Califórnia. Pois é, um plano ridículo, mas ok.
Enfim, depois de contar todo o plano maligno, Lex expôs o Superman a kryptonita e o jogou numa piscina para agonizar. Apaixonadinha pelo Superman e preocupada com a mãe que mora na Califórnia, a assistente do Lex, Eve Teschmacher, o salva da piscina e joga longe a kryptonita, então o Superman se recupera instantaneamente, nem mesmo precisa tomar um banho de sol.
E agora começa a ação. Superman consegue desviar um dos mísseis para o espaço, mas o outro atingiu a falha de San Andreas, causando um terremoto devastador. Ele mergulha na fenda atravessando o magma e erguendo a rocha a fim de "remendar" a fenda aberta na falha tectônica, parando o terremoto. Então parte para a contenção de danos, salvando as pessoas em toda parte. Todavia, enquanto ele está salvando muitos, Lois Lane tem o carro soterrado e morre sufocada. Pois é, já no primeiro filme a coitada da Lois morre sem piedade.
Na época certamente foi um evento muito chocante e que deixou o público naquela agonia e dúvida: "Como diabos o Superman resolverá isso? Não teremos final feliz?". Quando o Super a encontra morta, é tomado por um desespero enorme e faz algo inimaginável: começa a voar em volta da Terra numa velocidade absurda, fazendo-a girar ao contrário e simplesmente voltando o tempo. Ele basicamente virou o The Flash, assumindo o poder de alterar a linha temporal.
E assim ele evita que Lois seja soterrada, leva Lex para a prisão e sai voando heroicamente ao som de John Williams.
Superman the Movie foi o filme mais caro produzido até então, custando 55 milhões de dólares (uma fortuna considerável em 1978), superando o recorde anterior de Cleopatra (1963), que custara 31 milhões. Ele só seria superado dez anos depois em Rambo III (1988), que custou entre 58 e 63 milhões. O alto investimento foi uma aposta em um gênero de filmes que até então não era tão popular e o resultado foi uma valiosa bilheteria de 300 milhões.
O longa não chegou a ganhar um Oscar, mas teve reconhecimento acadêmico, ganhando algumas premiações como melhores efeitos visuais no Academy Awards, melhor música, efeitos visuais, melhor atriz e melhor filme de ficção científica no Saturn Awards, entre outros.
Mitologia e simbologia do Superman
Neste filme, Superman empreende o monomito (a jornada do herói conforme descrita por Joseph Campbell) em uma espiral. No primeiro ato ele parte de Krypton para a Terra a fim de salvar-se de um desastre; no segundo ato, de Smallville para a Fortaleza da Solitude a fim de receber treinamento; no terceiro ato vai de Metrópolis para o mundo, quando se dedica a salvar os outros.
Embora os criadores do personagem fossem judeus e haja elementos de Moisés na história original, a semelhança do Superman com Jesus se desenvolveu naturalmente (afinal o próprio Jesus também possui uma relação simbólica com Moisés) e tanto os diversos roteiristas quanto o público da América cristã contribuiriam para o estabelecimento desta correlação entre Superman e Jesus. Até mesmo a nave que leva o bebê Kal-El se parece com uma estrela, podendo ser comparada à Estrela de Belém que anunciou o nascimento de Jesus.
Jor-El, pode ser comparado ao Pai Celestial, bondoso e sábio, que envia seu filho Kal-El para a Terra a fim de que ele seja um benfeitor da humanidade. Jor-El também se assemelha ao Deus bíblico quando condena o general Zod, expulsando-o de Krypton e o aprisionando na Zona Fantasma, como Deus expulsando Satanás do céu.
Jonathan e Martha se tornam pais de uma criança de forma milagrosa, assim como aconteceu com José e Maria. Em Superman II, a simbologia cristã se completaria com a morte, ressurreição e a luta contra o mal. Nos quadrinhos o Superman morreu algumas vezes, mas aquela em que ele mais se assemelhou a Jesus foi quando sacrificou-se na luta contra o Doomsday.
Superman II (1980)
O filme começa com uma recapitulação do anterior e, como diz o subtítulo brasileiro, "A Aventura Continua". A primeira tarefa do Super é evitar um atentado terrorista em Paris. Ele pega uma bomba atômica dos terroristas (naquele mundo fictício, parece relativamente fácil produzir uma bomba assim e torná-la portátil) e lança no espaço.
Muito convenientemente, a estrutura bidimensional da Zona Fantasma estava passando entre a Terra e a Lua e é atingida pela onda de choque da explosão nuclear, libertando os três prisioneiros kryptonianos. Como é que a Zona Fantasma atravessou várias galáxias e foi parar logo nas proximidades da Terra? Bom, é o tipo de detalhe que os filmes de fantasia não se importavam muito em atentar antigamente.
Zod e seus dois comparsas voam até a Lua e encontram alguns astronautas, matando-os com facilidade. Então percebem que o Sol amarelo os deixou muito fortes e, já sabendo que os humanos são muito mais fracos que eles, partem para a Terra com intenção de dominá-la.
Lex Luthor escapa da prisão e, usando alguma tecnologia mirabolante de rastreamento, encontra a Fortaleza da Solidão, onde adquire mais informações sobre o Superman e Krypton. A Fortaleza não tem nenhum sistema de segurança e os hologramas até respondem as perguntas do Luthor como se ele fosse o Superman.
O filme não tem pressa em partir para a ação. Até mesmo Zod chega à Terra de forma relativamente pacata. Não é como aquele de Man of Steel (2013) que vem com naves e declarando guerra. Zod, Ursa e Non apenas passeiam pela Terra observando os humanos com curiosidade, mas acabam se irritando e agredindo alguns, de modo que a situação vai escalando, militares aparecem e enfim percebem que é melhor chamar o Superman.
Enquanto isso, Lois finalmente descobre que Clark é o Superman e ele a leva até a Fortaleza da Solidão, então ficam de namoricos sem saber que a esta altura Zod já está tocando o terror. Todo apaixonado, Superman conta para o holograma de sua mãe o desejo de viver com Lois. O holograma diz que, se ele quer viver como um homem normal, terá de renunciar aos poderes. Ele aceita a troca, então entra num dispositivo que o expõe aos raios do sol vermelho de Krypton, virando um "humano" normal.
Mas que hora para abdicar dos poderes hein. Clark e Lois ficam brincando de casal, ele até arranja uma briga de bar com um cara que deu em cima dela, mas apanhou feio. A essa altura, Zod já havia invadido a Casa Branca, quando acontece a icônica cena dele mandando o presidente dos EUA se ajoelhar. "Kneel before Zod!".
O presidente menciona o Superman como o único que não se ajoelharia e Zod faz um pronunciamento na TV, anunciando seu domínio sobre a Terra e convocando o Superman para enfrentá-lo. Arrependido da decisão precipitada, Clark volta para a Fortaleza da Solidão a fim de reaver seus poderes.
Espertão, Luthor vai até a Casa Branca e fala que Superman é o filho de Jor-El, o que aumenta ainda mais o interesse de Zod, então faz uma aliança com Zod prometendo levá-lo até o Superman. Zod invade o Planeta Diário e logo o Superman aparece, já com os poderes restaurados, e a batalha acontece nos céus de Metrópolis.
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Ajoelhe-se perante Zod! |
Temos mais uma icônica fala de Zod, quando ele percebe que Superman se importa com os humanos.
"Zod: This Superman is nothing of the kind; I've discovered his weakness.
Ursa: Yes?
Zod: He cares. He actually cares for these Earth people.
Ursa: Like pets?
Zod: I suppose.
Ursa: Sentimental idiot!"
Zod começa a atacar os civis e o Superman tem que se ocupar em lutar e ao mesmo tempo salvar as pessoas. A cena da batalha é bem ambiciosa, com os quatro kryptonianos voando pela cidade, carros explodindo e até arremessaram um ônibus cheio de pessoas no Superman. Claramente os efeitos especiais hoje parecem datados, mas não deixa de ser uma cena impressionante se pensarmos nas limitações técnicas da época. Desgastado, Superman foge.
Então a coisa fica mais bizarra quando Luthor leva os três e Lois para a Fortaleza e acontece o segundo round da luta. Superman simplesmente arranca o símbolo do peito e atira em Non como se fosse uma rede de captura. Uma cena totalmente desnecessária e aleatória.
A solução do conflito vem de uma jogada de xadrez do Superman. Ele chama Luthor e sussurra para ele atrair os três para a câmara que irá remover os poderes deles. Lex imediatamente denuncia o plano a Zod, obviamente pra ganhar o favor do general, e eles resolvem colocar o próprio Superman na máquina. Só que ele já estava preparado para esse momento e havia reajustado a máquina, fazendo que a luz vermelha irradiasse fora da máquina, tirando os poderes dos três kryptonianos, que então são facilmente derrotados. Superman venceu duas vezes, derrotando Zod e sendo mais esperto que o próprio Lex.
Tudo resolvido, no final rola uma conversa de Lois e Clark, ela expressando sua confusão e preocupação com o fato de saber que ele é o Superman. Então ele a beija e olha para ela fixamente, demonstrando mais um poder aleatório e inesperado que convenientemente inventaram para o filme: ele a hipnotiza, fazendo-a esquecer que ele é o Superman.
Depois ele ainda volta no bar onde teve a briga e dá uma surra no cara que bateu nele. Pois é, o Superman é escoteiro, mas não é trouxa. Ao som da música-tema, ele voa até a Casa Branca e entrega o mastro da bandeira americana ao presidente e assim termina o filme.
Superman II: The Richard Donner Cut (2006)
A primeira versão de Superman II continuou com roteiro de Mario Puzo, mas a direção não foi de Richard Donner e sim de Richard Lester. Richard Donner foi demitido por desentendimentos com os executivos Alexander e Ilya Salkind (que possuíam os direitos cinematográficos do personagem), de modo que boa parte do filme teve de ser refilmada sob a direção de Lester.
Também John Williams não se deu bem com os executivos e a trilha sonora passou para as mãos de Ken Thorne, todavia ele trabalhou em cima da trilha de John Williams, mantendo a identidade sonora do tema. Com orçamento de 54 milhões, este filme arrecadou 216 milhões.
Em 2006 a justiça foi feita a Richard Donner, que finalmente pôde lançar a sua versão do diretor com várias cenas cortadas da primeira versão. Marlon Brando havia falecido em 2004, mas seus herdeiros deram permissão para a Warner utilizar as gravações com o ator que foram cortadas da edição original. A versão de Donner foi lançada mundialmente não nos cinemas, mas em DVD e Blu-Ray.
Esta reedição atou melhor as pontas e dá mais coerência à história. Já no começo, vemos que a Zona Fantasma é empurrada pela onda de choque da explosão de Krypton, seguindo na mesma rota que a nave de Kal-El. Não é lá uma explicação muito plausível para o fato desse objeto ter atravessado várias galáxias tão rápido, mas pelo menos é uma explicação, coisa que ficou ausente na versão de 1980.
Também aquela história dos terroristas em Paris foi cortada e a bomba atômica que quebrou a Zona Fantasma foi aquela do primeiro filme, lançada pelo Lex Luthor e que o Superman desviou para o espaço. Desta forma, o primeiro e o segundo filme ficaram ainda mais atados em um mesmo fio narrativo.
Na versão de Lester, Lois Lane se joga no riacho para testar Clark, a fim de saber se ele viraria o Superman e a salvaria. Em vez disso Clark a salvou por meios indiretos, assim não revelando sua identidade, e Lois fez papel de boba. Já a versão de Donner é bem mais dramática, pois Lois se joga da janela do Daily Planet. Clark usa a supervelocidade para descer até a calçada e com o supersopro ele discretamente reduz a velocidade da queda, amortecendo-a em uma tenda.
E a loucura da Lois não para por aí. Ela aponta uma arma pro Clark e atira, de modo que só resta a ele admitir que é o Superman. Acontece que a bala era falsa, uma jogada esperta da Lois para arrancar a confissão do Superman.
Na versão de Donner, a visita de Lex à Fortaleza da Solidão é bem mais significativa para a história, pois, nas cenas outrora cortadas do Marlon Brando, Lex recebe uma quantidade maior de informações sobre Krypton e os três kryptonianos rebeldes.
A cena em que Superman perde os poderes é bem mais elaborada na edição de Donner. Kal-El tem uma longa argumentação com o holograma do pai, este tentando dissuadi-lo da ideia, até que enfim a decisão é tomada.
Também a cena em que ele recupera os poderes é melhorada. Como a versão de Lester cortou muitas gravações de Marlon Brando para reduzir o orçamento, foi removido este importante diálogo em que Jor-El explica para seu filho que ele poderá recuperar os poderes, mas consumindo a energia restante do cristal que mantém viva a memória dos pais kryptonianos. Ou seja, Kal-El terá de fazer mais um sacrifício, renunciar ao único meio que possui de se comunicar com seus pais mortos a fim de recuperar os poderes e ser capaz novamente de servir à humanidade.
Donner tentou dar mais seriedade ao filme nos mínimos detalhes. Por exemplo, na versão de Lester, enquanto o trio de Zod está atacando os civis com o supersopro, tem um cara que cai no chão falando ao telefone e ele continua falando e rindo como se nada estivesse acontecendo. Claramente um alívio cômico em meio ao drama da cena. Donner por sua vez removeu este figurante e sua cena desnecessariamente cômica.
Outra importante mudança foi que Donner removeu aquela bizarra hipnose do final do filme, mas foi além. O Superman usou novamente seu poder de voltar no tempo, desfazendo toda a invasão de Zod, voltando para antes da Zona Fantasma ter quebrado, então Lois obviamente sequer chegou a descobrir que Clark era o Superman.
Nesta nova linha do tempo, Clark nem mesmo perdeu os poderes e também não apanhou do cara no bar, mas mesmo assim ele fez questão de volar ao bar e provocar o cara só para poder quebrar a cara dele. A propósito, esse cara do bar é um caminhoneiro e se chama Rocky, certamente uma brincadeira com o Rocky do Stallone que já era um grande sucesso antes do primeiro filme do Superman.
Superman III (1983)
A franquia Superman poderia ter seguido por um caminho bem diferente se continuasse sob os cuidados do Richard Donner, mas havia uma pedra no caminho, os executivos Alexander e Ilya Salkind (pai e filho), detentores dos direitos cinematográficos. Parece que eles não tinham muito tato para lidar com as pessoas e deixaram alguns ressentimentos.
Gene Hackman se recusou a retornar como Lex por não gostar da forma como os Salkind trataram Richard Donner. Margot Kidder também os criticou, mas continuou atuando, porém, como punição, os executivos reduziram o tempo de tela e relevância dela em Superman III. Para compensar a ausência da Lois, colocaram a Lana Lang (interpretada pela gata Annette O'Toole) como uma paixãozinha adolescente do Clark que ele reencontra agora como adulto.
O plano de Donner para um terceiro filme incluía Brainiac como vilão, mais uma coisa que perdemos com a dispensa dele. Em vez disso, Superman III tem como antagonista o bilionário Ross Webster, um "Lex Luthor" genérico, que usa tecnologia computacional para aumentar seu poder e riqueza e que trama contra o Superman.
Neste terceiro filme, o roteiro continuou nas mãos do casal David e Leslie Newman, porém agora sem o Mario Puzo, que escrevera a história base dos dois primeiros. Desta vez abraçaram completamente a comédia, fazendo um filme mais leve, cheio de momentos cômicos e não à toa escalaram o comediante Richard Pryor para ser um dos personagens mais recorrentes na história, o Gus Goman.
Na verdade o Pryor é praticamente o protagonista. É a história centrada em um humano que tem o Superman como participação especial. Gus é um cara comum que descobre ter grandes habilidades como hacker e acaba sendo recrutado pelo Lex Luthor genérico.
Gus analisa destroços de Krypton no espaço (pois é, é meio doloroso pensar no fato de que os destroços de Krypton estão a milhares de anos-luz de distância, mas para conveniência do roteiro há alguns próximos o bastante para serem sondados por satélite, mas ok, estamos vendo um filme de super-herói e a suspensão de descrença deve estar sempre ligada) e com base na composição química estimada ele confecciona uma pseudo kryptonita. Não é a kryptonita pura, pois na análise dos destroços constava uma substância desconhecida.
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Superman cafajeste. |
Quando Superman é exposto a esta kryptonita impura, em vez de morrer (como era esperado pelo vilão), ele aos poucos vai desenvolvendo um temperamento maligno e sai fazendo traquinagens pelo mundo. Ele até mesmo endireitou a Torre de Pisa por puro capricho.
Hoje em dia este tema do "evil Superman" já está bem desgastado. Há versões malignas dele em toda parte, como aquele do universo Injustice (que inclusive inspirou o Zack Snyder a deixar o Superman do cinema mais sombrio) e o Omni-Man da série Invincible. Nos quadrinhos, este conceito é bem antigo, pois já nos anos 50 havia o Bizarro, que é uma espécie de Superman ao contrário. Pois bem, aqui em Superman III, ele é quase um Bizarro.
Depois de muito aprontar, o Superman bad boy materializa seu lado bom, o Clark Kent. Não sei se foi uma alucinação, uma batalha apenas imaginária, ou se de fato ele se dividiu em dois, mas tudo é possível quando a nossa suspensão de descrença está ligada.
Após essa bizarra (badumtss) batalha contra si mesmo, Superman volta à razão e vai atrás do bilionário. Agora ele tem de enfrentar o supercomputador criado por Gus e no meio da luta o computador acaba ganhando consciência e transforma a irmã do Ross em uma androide, mas o Superman facilmente a destrói. Então a máquina captura o Super e tenta transformá-lo em androide, porém é finalmente destruída.
Terminado o conflito, Superman deixa Gus em uma mineradora de carvão e aproveita para pegar um carvão, transformando-o em diamante simplesmente com a pressão da mão. Talvez muitos tenham na memória que ele deu esse diamante para a Lois, mas na verdade foi para a Lana. E para aumentar a humilhação, Lois ainda encontra Lana no Planeta Diário, nota logo o diamante e Lana diz que foi Clark quem deu, deixando a Lois toda sem graça.
Por fim, para concluir a história, o Superman dá uma passadinha na Itália e ajeita (ou melhor, entorta novamente) a Torre de Pisa.
Com orçamento de 39 milhões, este filme arrecadou 80 milhões. Bem menos que os dois anteriores e um sinal de que investir em comédia não adiantou para atrair bilheteria.
Supergirl (1984)
É interessante mencionar que, enquanto Alexander e Ilya Salkind eram os detentores dos direitos do Superman, eles também investiram em um spin-off da franquia, o filme da Supergirl.
Este longa se dedica muito mais a elementos fantásticos. A história começa com Kara Zor-El vivendo em Argo City, um mundo com sobreviventes da destruição de Krypton (pois é, não foi apenas Kal-El quem sobreviveu). O mago Zaltar mostra para Kara o Omegahedron, um objeto que fornece energia para Argo. Acidentalmente, o objeto é lançado no espaço e Kara entra numa nave para tentar recuperá-lo, caindo na Terra.
No mesmo minuto em que pisa na Terra, Kara já começa a manifestar diversos poderes, a força, o voo, a velocidade, os raios dos olhos. Ela aprendeu e dominou estas habilidades numa velocidade de dar inveja para qualquer Superman dos filmes. Enquanto procura pelo poderoso objeto e também por seu primo Kal-El, Kara busca se integrar à sociedade humana, matriculando-se numa escola e adotando o nome Linda Lee.
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O filme é ruim, mas pelo menos a atriz é linda. |
Enquanto isso, a bruxa aspirante Selena encontrou o Omegahedron, adquirindo grande poder mágico. Engraçado que ela a princípio sonhava em dominar o mundo, mas quando viu o jardineiro Ethan, simplesmente passou a se dedicar a conquistar o cara. Ela fez Ethan tomar uma poção do amor, mas ele acabou se apaixonando irracionalmente pela Kara, provocando ciúmes em Selena.
Pois é, a treta entre a vilã e a mocinha é motivada simplesmente pela disputa por um homem. Nestas horas fazia falta um Teste de Bechdel. Ok, o Teste de Bechdel tem o problema de ser uma regra muito artificial, forçada, que pode estragar a espontaneidade de uma história, mas convenhamos que este roteiro da Supergirl é um bom exemplo de como alguns autores não sabem criar uma história com protagonista feminina sem fazer que sua motivação e jornada gire apenas em torno de homem.
Assim Selena captura Ethan e envia Kara para a Zona Fantasma, onde ela perde os poderes. Enquanto nos filmes do Superman nunca vemos a Zona Fantasma por dentro, aqui conhecemos o seu ambiente sombrio e cavernoso. Lá ela encontra Zaltar, que se exilou como auto punição pela perda do Omegahedron. Zaltar acaba se sacrificando para ajudar a Supergirl a escapar.
Kara volta à Terra atravessando um espelho bem no salão de Selena (que a esta altura já havia usado o Omegahedron para se transformar numa princesa e Ethan em seu consorte). Selena invoca um demônio e, após uma luta difícil, a Supergirl o derrota e se despede de Ethan, levando de volta o Omegahedron para Argo City.
O filme teve orçamento de 35 milhões, não muito atrás dos 39 milhões de Superman III, porém arrecadou apenas 14 milhões. Entre as várias candidatas ao papel de Supergirl, teve até Demi Moore e Brooke Shields, mas acabaram escolhendo a atriz pouco conhecida Helen Slater, tendo a veterana Faye Dunaway como Selena.
Superman IV: The Quest for Peace (1987)
Lex Luthor está de volta e mais uma vez foge da prisão. Então visita um memorial em homenagem ao Superman onde era exibido um fio de cabelo do kryptoniano que sustentava um peso de mil libras, obviamente para impressionar o público com uma amostra da força do Superman. Todavia, quão ingênuo foi o Superman em ceder um fio de cabelo. Lex Luthor viu o potencial desta pequena amostra e roubou o fio a fim de coletar o DNA kryptoniano e fazer um clone.
Diferente dos três filmes anteriores, este entrou no campo da política, um tema que era bastante frequente nos anos 80 por causa das tensões entre EUA e URSS. Então acontece uma comoção nacional por causa de uma criança que manda uma carta pro Superman sugerindo que ele desarme todas as nações. Só mesmo uma criança para ter esta ideia ingênua de que a solução para as guerras no mundo seria se livrar de todos os mísseis nucleares.
O intervalo entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial foi de 21 anos e desde então já se passaram 80 anos sem que houvesse uma Terceira Guerra. Pode-se dizer com propriedade que até hoje não tivemos outra grande guerra graças à bomba atômica, graças ao esquema de dissuasão nuclear que tem convencido o mundo a permanecer sob certo limite de belicosidade. As guerras continuaram, porém sem escalar para o limite absoluto como acontecera no início do século XX.
O Homem Nuclear, que surgirá como vilão, é a pura encarnação do espírito de um tempo, do zeitgeist. A guerra armamentista e a tensão nuclear assombrou a consciência coletiva até os anos 80, então nada mais representativo de um grande inimigo do que um superser que é uma bomba atômica em forma humana.
Superman fica um tempo cogitando sobre o desarmamento, então acontece uma cena estranha e desnecessária. Ele chama Lois para a varanda e se joga do prédio, levando ela junto. Rapidamente se transforma no Superman e começa a voar com ela. Que forma imatura de revelar a identidade. Só com o susto da queda e achando que ele estava cometendo suicídio, a Lois viveu alguns segundos de terror.
E a cena fica ainda mais desnecessária porque logo depois de se revelar e ter uma breve conversa, ele usa aquele trupe de hipnotizá-la com um beijo, fazendo que ela esqueça tudo. Pra que revelar a identidade então, se logo depois desfez isso?
Depois ele se apresenta nas Nações Unidas e declara que irá remover todas as bombas atômicas do mundo, sendo ovacionado pelos representantes das nações. Ok né, se todos concordam... Então o Super empilha todas as bombas numa enorme rede e arremessa no Sol.
Lex Luthor viu aí uma oportunidade. Ele negociou com os russos para colocar o material genético do Superman em uma das bombas. Assim que a bomba foi arremessada no Sol, nasceu o Homem Nuclear. A cena dele surgindo e irradiando energia na verdade é bem badass. Um detalhe curioso é que Lex colocou um pequeno pedacinho de um tecido especial junto com o material genético, o que explica o fato do Homem Nuclear já nascer com roupa. Ele só tem uma fraqueza: fica em estado dormente na ausência de Sol.
Luthor convoca o Superman e o apresenta ao Homem Nuclear, tendo início a pancadaria e demonstrações de poderes absurdos. Nuclear destrói um pedaço da muralha da China, mas o Superman a reconstrói com um raio azul dos olhos (um dos poderes bizarros e aleatórios que ele só possui nos filmes). Depois ele mergulha num vulcão causando uma erupção, mas o Superman serra ao meio uma montanha com o raio dos olhos e tampa o vulcão com a montanha. Nuclear arranca a Estátua da Liberdade e arremessa nos civis, mas o Superman obviamente agarra a estátua e leva de volta pro lugar.
Nuclear estava apenas se divertindo, mas a coisa fica séria quando ele arranha o pescoço do Superman a ponto de fazer ele sangrar. Enfraquecido, Superman foge e é dado como morto pela opinião pública. Clark Kent fica escondido em casa e bastante doente. Ele usa o cristal de energia kryptoniano para se curar e volta para um segundo round.
Vendo que não tem como enfrentar o Homem Nuclear simplesmente na força, Superman o atrai para dentro de um elevador e leva o elevador para a Lua, assim ele ficaria eternamente desativado sem acesso ao Sol, mas a luz acabou entrando por uma fresta, reativando o vilão. E agora temos outro round de pancadaria tendo a Lua como palco. Superman leva outra surra e é literalmente enterrado na Lua, então o Nuclear volta para a Terra.
E eis que vem o momento mais absurdo da franquia, ficando atrás apenas das vezes em que o Superman girou a Terra ao contrário. Agora ele empurrou a Lua para criar um eclipse, privando totalmente o Homem Nuclear da luz. Ele leva a criatura adormecida até um reator nuclear dissolvendo-a no silo.
Mais uma vez o dia foi salvo pelo Superman, ele faz um discurso sobre paz mundial, leva Luthor de volta à prisão e sai voando pelo espaço. Assim termina a última participação do Christopher Reeve como Superman.
Projetos abandonados
Dirigido por Sidney J. Furie, com roteiro de Lawrence Konner e Mark Rosenthal e trilha sonora de Alexander Courage (adaptando a trilha original de John Williams), Superman IV foi o maior fracasso da franquia. Produzido com um orçamento de 17 milhões, arrecadou apenas 36 milhões, quase dez vezes menos que o primeiro filme.
Este quarto filme foi produzido pela companhia The Cannon Group, que havia comprado os direitos cinematográficos do Superman, mas o fracasso contribuiu para a falência financeira da empresa que acabou devolvendo os direitos da franquia para os Salkind em 1993.
Os Salkind tinham o plano de lançar um Superman V em que ele morreria, ressuscitando na micro cidade de Kandor. Em 1995 o projeto foi reformulado e intitulado Superman Reborn, e ele seria morto pelo Doomsday (obviamente este roteiro surfou na onda da Morte do Superman que ocorrera nos quadrinhos). Brainiac teria uma participação como o criador do Doomsday.
Kevin Smith foi contratado para reescrever o roteiro e assim nasceu outro projeto, Superman Lives, entre 1996 e 1998, que, entre várias reformulações, incluiu a famigerada versão do Tim Burton que teria o Nicolas Cage como Superman.
Outro projeto abandonado foi Superman: Man of Steel (2004), que seria dirigido por J. J. Abrams. Christopher Reeve, que participou como consultor, chegou a sugerir o Tom Welling para o papel, já que este vinha vestindo o manto do personagem na série Smallville. Um dos fortes candidatos era o Brandon Fraser, que na época vinha despontando como galã de filmes de ação e aventura.
Superman Returns (2006)
O Superman clássico não é uma tetralogia, mas na verdade uma pentalogia. Superman o Retorno não é um reboot e sim uma continuação do mesmo personagem interpretado pelo Christopher Reeve, porém agora com o recast do Brandon Routh.
Apesar de seguir conectado aos quatro filmes anteriores, este inicia uma nova era. Visualmente, a diferença de qualidade gráfica é notável, afinal se passaram duas décadas desde Superman IV e em 2006 as tecnologias de filmagem, filtros e edição já estavam bem mais evoluídas, além do CGI que deu um grande salto de qualidade.
O filme foi filmado com a câmera Genesis, lançada em 2005 pela Panavision e era o que havia de mais moderno em termos de câmera digital. Superman Returns praticamente inaugurou essa câmera no cinema.
A direção ficou nas mãos de Bryan Singer, uma escolha óbvia, já que ele estava sendo o grande nome dos filmes de super-herói e sci-fi, ele que fez dos X-Men o grande sucesso do gênero naquela época (ao lado do Spider-Man do Sam Raimi). O roteiro ficou com Michael Dougherty, Dan Harris, que já trabalharam com Singer em X-Men 2.
Singer já mantinha contato com a esposa de Richard Donner, Lauren Shuler Donner, uma vez que ela era a produtora dos filmes dos X-Men. E foi assim que Singer teve acesso a Richard Donner e expôs seus planos para o Superman, recebendo a bênção do primeiro diretor da franquia.
Como parte do esforço para respeitar o legado dos primeiros filmes, a trilha sonora continuou baseada no tema de John Williams, agora tendo como compositor John Ottman.
É importante notar que em 2005 fora lançado Batman Begins, iniciando uma nova era na produção cinematográfica da DC, e iniciando com chave de ouro, com um filme que se tornou um ícone cult. O retorno do Superman em 2006 foi a consequência natural dessa nova fase.
A produção, tanto de Batman quanto de Superman, ficou aos cuidados da Legendary Pictures, um studio recém criado na época e que já chegou mostrando seu potencial para filmes que exigem bastante CGI.
Com orçamento de 223 milhões, Superman Returns arrecadou 391 milhões. Não pode-se dizer que foi um fracasso financeiro, mas podia ser melhor e não foi uma arrecadação segura o suficiente para merecer uma sequência. O grande fracasso foi o cultural, pois é um filme que não marcou, que foi rapidamente esquecido.
O filme pode nem ter ganho um Oscar, mas foi honrado em diversas outras premiações, especialmente no Saturn Awards, que é uma premiação mais específica para o gênero de sci-fi, fantasia e terror. No Saturn Awards, Superman Returns acumulou vários prêmios, a saber: melhor ator, diretor, trilha sonora, roteiro e melhor filme de fantasia.
Mas vamos à história. Superman abandona a Terra para ter um momento sabático no espaço, indo visitar as ruínas de Krypton. Lex Luthor (Kevin Spacey) aproveita a oportunidade para voltar à Fortaleza da Solidão, adquirindo informações do holograma e levando amostras dos cristais kryptonianos. Embora este filme tenha feito o recast de todos os atores, vemos que o holograma do Jor-El continua sendo o Marlon Brando, reaproveitando as gravações originais do ator e fazendo dele um elo que une este filme aos anteriores num mesmo cânon.
Superman tem um retorno discreto após 5 anos, primeiro voltando para a fazenda onde apenas Martha continua viva. Ele também consegue o emprego de volta no Planeta Diário, quando então fica sabendo que Lois seguiu a vida adiante e já está casada e com um filho de 5 anos. Para interpretar o marido dela, Richard, Bryan Singer chamou o James Marsden, o Ciclope dos X-Men. Esse Ciclope hein. Já tirou a Jean do Wolverine e agora a Lois do Superman.
Não que ela tivesse algum compromisso com Clark. A relação deles havia sido somente platônica, já pelo Superman a Lois tinha uma visível atração e tiveram vários momentos românticos, porém teve aquele lance da hipnose do Superman que duas vezes resetou a memória dela.
O fato é que a partida do Superman deve ter deixado a Lois bem chateada e ela resolveu superar o que sentia por ele. Mais ainda. De volta ao jornal, Clark vê uma placa com o prêmio Pulitzer dedicado a Lois, o que é uma boa notícia, mas o artigo que ganhou o prêmio era intitulado "Why the World Doesn't Need Superman". Ela realmente levou a sério esse negócio de virar a página com o Superman.
Luthor faz um experimento com um grãozinho de cristal e acidentalmente gera um pulso eletromagnético que afeta toda a costa leste dos EUA, inclusive causando pane em um avião onde estava a Lois fazendo cobertura do lançamento de um ônibus espacial (ônibus espacial ganhou bastante publicidade nos anos 2000, parecia ser uma forma promissora de levar astronautas ao espaço, mas o projeto acabou sendo descontinuado).
Eis a oportunidade para a primeira aparição pública do Superman desde seu retorno. A cena dele evitando a queda do avião ficou de fato muito boa e até hoje o CGI ainda parece convincente. Ok que é bem inverossímil a forma como ele segurou o avião pelo bico no solo, já que a estrutura não suportaria essa distribuição de peso, mas lembre-se: suspensão de descrença. A cena ficou boa e foi uma entrada triunfal do Superman, sendo aplaudido pela multidão.
Desta forma, a humanidade esqueceu o fato de ter sido abandonada pelo Super e agora celebra seu retorno. Apenas a Lois expressou ressentimento, afinal ele partira sem nem se despedir dela e agora volta como se nada tivesse acontecido.
Há pequenos detalhes que mostram como esse filme procurou manter-se ligado à quadrilogia do Christopher Reeve. A Lois continua com sua dificuldade em soletrar palavras e com o hábito de fumar. Quando o Super salva o avião, ele faz questão de falar para os passageiros que avião continua sendo estatisticamente uma forma de transporte muito segura, uma fala que remonta ao Superman IV, quando ele também falara algo parecido ao salvar as pessoas de um acidente no metrô.
Superman está de volta à ativa e começa a fazer salvamentos em toda parte. Temos uma cena bem emblemática, bem representativa do personagem, quando ele sobe até o espaço e se concentra, ouvindo os sons da Terra, procurando problemas para resolver.
Em meio a seus salvamentos, há uma cena que mostra como sua invulnerabilidade é impressionante, pois ele leva um tiro no olho e nem pisca, enquanto a bala é amassada.
Uma grande diferença deste filme em relação aos quatro anteriores é o tom. Não tem comédia e até mesmo a colorização é mais sombria, um estilo que estava se tornando moda desde Matrix e foi adotado nos X-Men, lançando um padrão estético que guiou o gênero de super heróis até os dias de hoje (mas finalmente este padrão está começando a mudar com filmes mais coloridos e iluminados, incluindo o novo Superman do James Gunn). Na trilha sonora e na expressão do próprio Superman há constantemente um ar de melancolia, algo mais adequado a um personagem que está constantemente tomado de preocupações com os problemas da humanidade.
Em homenagem aos velhos tempos, Superman leva Lois a um passeio pelo céu, algo que aconteceu bastante nos outros filmes (inclusive existe até uma tilha sonora feita só para estes momentos em que os dois estão voando, a Can You Read My Mind?, de John Williams). Só que agora ela é uma mulher casada e com filho e, por mais que tenha rolado um clima novamente entre os dois, ambos concordaram que não devia acontecer.
Então temos o momento em que o vilão explica seu plano maligno para a Lois Lane que o visita no iate. Usando os cristais, Luthor pretende criar um novo continente ao lado da América. É uma ideia semelhante à do primeiro filme: causar uma catástrofe nos EUA e criar uma nova terra habitável para um empreendimento imobiliário supervalorizado.
Ele mostra um cilindro de kryptonita para deixar claro que está pronto para lidar com o Superman, então percebe que o filho de Lois parece não se sentir bem perto da kryptonita. Logo depois o menino manifesta sua superforça quando arremessa um piano no capanga de Luthor que os mantinha reféns. Todavia, a manifestação do poder do menino parou por aí.
Lex lança um cristal imbuído com kryptonita no oceano e começa a se formar uma enorme ilha, causando ondas de choque e tremores em Metrópolis, o que mantém o Superman ocupado. Enfim o Super vai até a ilha, salvando Lois com seu filho e marido e indo ao encontro de Luthor. Só que a olha imbuída com kryptonita enfraqueceu o Superman que então levou uma surra dos capangas e Luthor o apunhalou com um pedaço de kryptonita, lançando-o ao mar.
Agora é a vez de Lois e o marido salvarem o Superman. Com a kryptonita removida de seu corpo, ele voa até o espaço para ser curado pelo Sol, então mergulha no oceano, penetra a crosta terrestre e ergue a ilha inteira, levando-a até o espaço. Este esforço hercúleo se tornou ainda mais exaustivo por causa das rochas de kryptonita, então quando enfim lançou a ilha para fora da Terra, o Superman caiu em Metrópolis exausto, sendo resgatado por paramédicos e levado ao hospital.
Enfim, depois de um breve coma no hospital, ele se recupera e promete a Lois que não vai mais sumir do planeta. Enfim superando o ressentimento, ela escreve um novo artigo intitulado "Why the World Needs Superman".
Este Superman foi como o Aranha do Andrew Garfield: foi um "fracasso", mas não era tão ruim quanto parecia. Na verdade foi um bom filme, com qualidade nos efeitos visuais, com um roteiro mais sério que o dos filmes anteriores. O Brandon Routh fez bem o seu trabalho e poderia tranquilamente continuar como Superman até os dias de hoje, caso a franquia tivesse emplacado.
Além disso, o Kevin Spacey se mostrou o melhor Lex Luthor de todos. Tinha algo estranho no Lex do Gene Hackman. Ele não convencia no papel e também nem se entregou o suficiente, pois se recusou a ficar calvo (como se ele tivesse muito cabelo... ele já tinha aquela semi calvície avançando na testa e seria melhor se raspasse tudo mesmo). Já o Kevin Spacey convence. Tem aparência, olhar e comportamento de Lex Luthor.
Spacey continuaria como o melhor Lex pelas décadas seguintes, já que foi sucedido por aquela coisa tosca que foi o Lex do snyderverso. Só agora pode-se dizer que ele finalmente foi superado com a chegada do Luthor do Nicholas Hoult.
Man of Steel (2013)
Man of Steel já começa épico, com uma trilha sonora poderosa do Hans Zimmer. Esse longa fez pela franquia o que nenhum dos outros conseguiu: explorar e expandir o mundo de Krypton. Nos outros filmes Krypton era apenas uma terra inóspita cheia de gelo e cristais, enquanto Man of Steel apresenta um mundo vivo, com animais e plantas alienígenas, com construções e uma mitologia envolvendo o códex, uma complexa compilação do DNA daquela civilização.
A tecnologia de CGI de 2013 obviamente permitiu uma qualidade muito superior à dos filmes anteriores e neste prólogo kryptoniano investiram bastante em CGI. Até hoje, 12 anos depois, continua algo bonito de ser ver e que não parece datado. Por outro lado, existe a peculiar estética do Zack Snyder que virou motivo de memes, especialmente aquelas cápsulas que aprisionaram Zod e tinham um notável formato fálico.
Ao longo dos anos, Zack Snyder foi se tornando uma caricatura de si mesmo e seus últimos filmes têm sido motivo de piada, mas convenhamos que em Man of Steel ele estava no auge. Não abusou do slow motion e nos deu cenas de luta bem empolgantes. O que esse filme tem de ruim nem é culpa do Snyder, mas dos roteiristas David S. Goyer e Christopher Nolan.
Pois é, até o Nolan pode cometer umas barbaridades no roteiro e a maior delas foi a forma como ele desenvolveu o pai de Clark, Jonathan Kent.
A nave krypyoniana chega à Terra, mas não vemos o momento em que Jonathan e Martha encontram o bebê Kal-El. Em vez disso a história já salta para o Clark adulto trabalhando em um navio. Uma plataforma submarina explode e Clark vai salvar os homens. O primeiro ato heroico do Superman no filme acontece assim, sem que ele sequer esteja usando uniforme. Ao contrário, ele aparece com a roupa toda queimada, sem camisa, afinal o Snyder não perderia a oportunidade de mostrar um homem musculoso sem camisa.
O Henry Cavill já chega exibindo seu corpo escultural, no auge da hipertrofia. É o Superman mais bombado de todos e seu physique du rôle ajudou a compensar a capacidade de atuação mediana. Não que ele seja um ator ruim. Ele é um ator para filmes de ação, de fisicalidade e pouca profundidade na interpretação.
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O questionável conselho do Jonathan. |
Temos alguns flashbacks da infância, quando acontece o bizarro ensinamento de Jonathan, insistindo que o jovem Clark não revele seus poderes. Clark havia retirado um ônibus escolar do rio, salvando as crianças do afogamento e Jonathan chega a dizer que talvez fosse melhor deixar as crianças morrerem do que ele se arriscar a ter seus poderes expostos ao público. Pai do ano.
A fim de se manter abaixo do radar, Clark tem vivido mudando de emprego em emprego. Depois de trabalhar no navio ele muda para uma lanchonete. Esse bico não vai durar muito, já que um caminhoneiro dá em cima de uma garçonete e Clark intervém. Ele não chega a brigar, mas apenas segura um empurrão com o corpo de uma forma sobre-humana. Pra evitar chamar atenção, ele larga mais um emprego e sai caminhando errante, mas não sem antes se vingar do caminhoneiro, empalando o caminhão dele com toras.
Esta cena na verdade não é tão aleatória quanto parece. É um fan service, uma referência ao clássico, pois vimos que o Superman do Christopher Reeve se envolveu numa briga de bar com o caminhoneiro Rocky.
Kal-El encontra uma nave kryptoniana ao mesmo tempo que a Lois Lane, inclusive eles se esbarram e ele cauteriza um ferimento dela com o raio dos olhos. Um primeiro encontro bem doloroso.
A história avança rápido. Kal-El aprende a voar, numa cena bem épica inclusive. Jonathan Kent tem uma breve discussão com Clark e vemos que os roteiristas realmente não queriam que Clark e Jonathan tivessem um relacionamento saudável. Clark se revolta e diz que "você nem é meu pai, é só um cara que me achou no campo", um comentário bem imaturo e ingrato sobre aquele que o adotou.
E pra piorar tem os bizarros ensinamentos de Jonathan que chegam ao limite quando acontece um tornado e o velho faz aquele gesto que virou motivo de piada, o gesto dizendo para Clark não salvá-lo, que era melhor ver o pai morrer do que correr o risco de outras pessoas testemunharem seus poderes. Uma morte patética.
Enquanto isso a Lois segue investigando os rastros dele, mas algo mais sinistro chama atenção do mundo, com a aparição da nave do Zod que dá um ultimato à humanidade. Isto se torna a oportunidade para o Superman enfim se apresentar ao mundo, entregando-se aos militares e sendo entrevistado pela Lois.
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Que bela Lois Lane hein. |
Começam as cenas de pancadaria entre Superman e Zod com seus aliados. Um acréscimo que este filme fez à mitologia do Superman foi explicar que não apenas o Sol amarelo era uma fonte de poder para o metabolismo kryptoniano, mas a própria composição da atmosfera. Tanto que Zod se torna superforte com a exposição ao Sol, mas só desenvolve outros poderes, como os sentidos aguçados e os raios dos olhos, depois que respira o ar terrestre.
Algo que chamou atenção nas cenas de luta é que elas foram escalando para um nível cada vez maior de danos ao cenário. Não que o Superman não se preocupasse com os civis. Em alguns momentos ele chegou a alertar as pessoas ou fazer alguns resgates, mas ficou aquela sensação de que ele não fez o bastante e até mesmo foi relaxado em certas circunstâncias.
Por exemplo, quando Zod empurra um caminhão de combustível na direção do Superman, este simplesmente desvia do caminhão, deixando que ele exploda ao bater em um prédio. É óbvio que esta cena foi planejada para parecer badass, o tropo do herói dando as costas para uma explosão, mas ficou estranho por se tratar do Superman.
Não à toa, o James Gunn dedicou bastante atenção a este aspecto, enfatizando em diversos momentos o cuidado do Superman para evitar danos colaterais, evitar edifícios destruídos e salvar o máximo de pessoas e até animais.
Na luta final, Metrópolis é arrasada por Zod e Superman se esmurrando e atravessando edifícios. Boa parte dos danos é causada também pela máquina kryptoniana que Zod usa para terraformar o planeta.
Se tem algo que esse filme desenvolveu mais que todos os cinco anteriores e também o filme do James Gunn que viria depois, foi a lore kryptoniana. Apresentaram essa história de que Krypton por milênios empreendeu um projeto de colonização espacial, inclusive deixando uma nave adormecida na Terra há milhares de anos. Foi assim que, visitando algumas colônias abandonadas, Zod encontrou a máquina de terraformação que era usada por Krypton para transformar planetas, adaptando-os para serem habitados por kryptonianos.
O foco é tanto no aspecto alienígena da história que de fato Man of Steel parece mais um filme de invasão alienígena e catástrofe do que algo realmente do gênero de super heróis. O clímax acontece com a nave alienígena devastando Metrópolis no processo de terraformação e, quando o Superman enfim consegue quebrar a nave, a cidade está em ruínas.
Existe um aspecto técnico ao longo do filme, especialmente nas cenas mais tensas, que me incomoda bastante. É um estilo de filmagem que a câmera fica "tremelicando" nas cenas, como que para dar a impressão que você é a pessoa com a câmera e está ali dentro da cena correndo e tentando captar os acontecimentos.
Essa técnica é chamada de shaky cam (câmera trêmula ou câmera nervosa). Já se tornou um padrão em filmes de ação, mas eu nunca me acostumei com isso. Acho irritante e também causa uma perda de informação. É como um slow motion ao contrário. Enquanto o slow motion visa chamar atenção para os detalhes da cena, a shaky cam nos priva dos detalhes e oferece apenas vultos do que está acontecendo.
No ato final, só resta o Zod. Sua equipe foi sugada por um buraco negro quando a nave colapsou. Ele não pode mais cumprir sua missão de garantir a perpetuação dos kryptonianos. Ele foi geneticamente projetado para isto, esta era a sua raison d'être. Agora desiludido, só lhe resta se vingar do Superman atacando os humanos.
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Uma luta estilo Dragon Ball. |
Rola um mano a mano dos dois, chegando ao clímax, quando Superman terá de tomar uma decisão drástica, matando Zod a fim de impedir que ele mate outras pessoas. É a primeira vez que este Superman mata alguém. Mas enfim acabou o perigo.
É curioso que geralmente nas histórias de origem do Superman, ele primeiro começa a trabalhar como repórter e só depois se revela publicamente como Superman, já em Man of Steel ele primeiro se tornou Superman e logo enfrentando um desafio de nível global, e só depois que passou esta crise ele decidiu trabalhar como repórter.
Então só no final do filme vemos ele entrando no Planeta Diário e conhecendo seus novos colegas, incluindo a Lois. Ela o saúda dizendo "Welcome to the Planet", obviamente fazendo um jogo de semântica, pois ao mesmo tempo o saudava no Planeta Diário como Clark Kent e no planeta Terra como Superman. Ele sorri e sobem os créditos.
Superman (2025)
Com direção e roteiro do próprio James Gunn, direção de fotografia de Henry Braham (que já trabalhara com Gunn nos Guardiões da Galáxia e Esquadrão Suicida) e trilha sonora de John Murphy e David Fleming, Superman (2025) vem como o primeiro filme desse novo universo cinematográfico, o DCU.
Diferente do Snyder, que prefere gravar na tela verde do studio, James Gunn (embora obviamente use bastante CGI, como qualquer diretor do ramo de super heróis) procura fazer gravações em cenários físicos e usando efeitos práticos na medida do possível. O cenário gélido da Fortaleza da Solidão é real, gravado na Noruega; e as cenas de voo sempre usam o próprio ator David Corenswet pendurado em cordas fazendo acrobacias reais.
O filme começa de forma concisa apresentando o que será esse novo universo, informando que os super heróis estão na Terra há 300 anos e Superman chegou ao planeta há 30 anos. Ao contrário do esperado na maioria dos filmes de super herói, nos deparamos com o protagonista já derrotado. É a primeira derrota do Superman em 3 anos de carreira.
Aí vem o alívio cômico, com a chegada do Krypto e alguma interação com os robôs da Fortaleza da Solidão. Um detalhe interessante e que dá mais substância à lore do personagem é que vemos o holograma dos pais dele falando uma língua alienígena. Ou seja, agora tiveram o cuidado de incluir uma língua kryptoniana, em vez de simplesmente deixar os atores falando em inglês, como acontecia nos filmes anteriores.
O fato do Superman já começar o filme caído causa estranheza e, na época que vieram os primeiros trailers, pessoas reclamavam que as cenas de luta só mostravam o Superman apanhando, que ele parecia ser muito fraco. Um grande equívoco, porém, pois ao assistir o filme vemos como ele enfrenta diversos desafios com facilidade (e ainda se segurando para não matar ninguém, ao mesmo tempo em que tenta salvar os civis) e ele só leva uma surra mesmo do próprio clone, afinal o clone tem o mesmo nível de poder dele e ainda conta com a assistência remota do Luthor e toda uma equipe que orienta cada golpe e contragolpe.
Logo, este Superman está longe de ser fraco. De fato, ele dá mais demonstrações de força e inteligência em batalha do que o Superman anterior do Henry Cavill.
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Esta é a melhor Fortaleza da Solidão dentre todos os filmes. |
Uma cena que gerou muita discussão da nerdaiada na época que saiu o trailer é o momento em que os robôs usam uma espécie de lupa gigante para concentrar a luz do Sol no Superman e ele começa a gritar de dor. Não faria sentido ele sentir dor com algo que literalmente alimenta suas células, só que algo que não passou nos trailers foi o áudio desta cena e no filme podemos ouvir um som desconfortável que parece ser os ossos e órgãos dele voltando ao lugar, afinal ele estava com severos danos internos. Eis aí o motivo da dor.
Parcialmente recuperado, ele volta a Metrópolis e leva outra surra do tal Martelo de Borávia (logo veremos que é o Ultraman por baixo da armadura e depois o próprio clone do Superman por baixo da máscara). Isso também é algo que gerou críticas e discussão. Como pode o Superman apanhar tanto? Primeiro é bom lembrar que nos quadrinhos há vários adversários que já deram uma surra no Superman. Aliás, também nos cinco filmes anteriores, ele teve seus momentos de fraqueza e chegou a apanhar do próprio Luthor quando enfraquecido pela kryptonita.
O James Gunn parece antever este tipo de questionamento, pois ele faz questão de deixar as explicações em cada detalhe. Nesta luta, vemos que o Martelo tem a assessoria de uma grande equipe chefiada pelo Luthor. É como se ele fosse controlado remotamente por gamers e um deles comenta que Luthor estudou os padrões de luta do Superman por 3 anos e desenvolveu centenas de golpes e contragolpes adequados para cada movimento. Vemos aí a mente brilhante de Lex em ação. O Superman não estava lutando apenas contra o Martelo, mas uma equipe inteira e o próprio Lex coordenando cada golpe. Então mais uma vez ele é derrotado.
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O Martelo de Borávia que na verdade é o Ultraman que na verdade é um clone do Superman. |
Esta luta também serviu apenas como uma distração, pois ao mesmo tempo a Engenheira estava se aproximando da Fortaleza da Solidão para invadi-la. Só não conseguiu porque a Fortaleza mergulhou de volta no gelo.
Temos então a apresentação do Planeta Diário com seus principais personagens e, depois que Clark e Lois se amassam por um momento, eles resolvem gravar uma entrevista com o Superman. Essa entrevista nos mostra o lado humano de Clark, pois ele não é um ser divido e perfeitamente estoico. Ele fica chateado, incomodado com as perguntas polêmicas de Lois, mostrando também que é um tanto ingênuo e vê certas situações apenas pela ótica de fazer o bem. Ele interferiu numa guerra da Borávia porque queria salvar pessoas, mas não pensou nas implicações políticas disso.
Numa segunda tentativa, Luthor consegue fazer a Fortaleza brotar do solo. Não é explicado como ele faz isto, mas podemos facilmente deduzir pelo fato dele estar com o Ultraman, de modo que a Fortaleza deve ter reconhecido o DNA kryptoniano. Eles massacram os robôs, a Engenheira leva uma voadora do Krypto, mas consegue contê-lo e invadir o computador, coletando os dados.
Entre os dados estava a mensagem dos pais kryptonianos. Uma parte da mensagem estava corrompida e o Superman nunca a tinha ouvido, mas a Engenheira conseguiu restaurar.
Em Metrópolis acontece mais uma distração. Um kaiju é solto na cidade. Superman tenta detê-lo ao mesmo tempo em que salva civis aqui e ali. Ele salva até mesmo um esquilo. Chega a Gangue da Justiça, com o Mr. Terrific, Guy Gardner e a Mulher Gavião e enfim acabam matando o monstro. Eles nem se importam com os danos colaterais, apenas o Superman tenta evitar acidentes e pousa o corpo do monstro em segurança no solo.
Aí começa a crise. Uma entrevista com o Luthor começa a reproduzir em toda parte e mostra o trecho corrompido da fala dos pais de Kal-El, traduzido por linguistas e com sua autenticidade comprovada por especialistas forenses. Na mensagem, o casal kryptoniano fala com um teor imperialista, dizendo para Kal-El governar a Terra e ter um harém para espalhar seus genes perfeitos, etc. A população, até então encantada e grata por todos os feitos do Superman, agora se voltou furiosa contra ele.
Obviamente James Gunn foi muito interrogado acerca deste conteúdo. Ele alterou um elemento essencial da história do Superman. Os pais kryptonianos sempre foram retratados no cinema como seres sábios, benevolentes, que gravaram bons conselhos a fim de orientar o filho a fazer o bem na Terra. A versão do Marlon Brando inclusive enfatizava que ele não deveria interferir na história humana, sempre respeitando a liberdade dos povos, etc. E agora nesse filme eis que Jor-El praticamente diz para o filho ser um ditador.
Com razão essa alteração irritou alguns fãs, mas James Gunn fez questão de dizer que a mensagem era autêntica. No próprio filme o Mr. Terrific diz que os especialistas forenses que analisaram a gravação não errariam sobre isto. Por um lado, não duvido que James Gunn tenha feito esta bizarrice a sério, pois é bem a cara dele retratar pais disfuncionais e problemáticos (vide Ego, o pai do Starlord). Por outro lado, ainda suspeito que ele está escondendo um plot para um futuro filme. Os rumores são que o Brainiac teria alterado essa mensagem. Mas enfim, só o tempo dirá.
Ingenuamente, Superman se entrega ao Departamento de Defesa para esclarecer a situação e como Luthor fez uma parceria com o governo, é ele quem aprisiona o Superman em sua prisão privada, que nada mais é do que um universo de bolso.
Se não ficou claro antes, agora está bem evidente que neste universo do DCU as pessoas já estão acostumadas com o fantástico. Ninguém fica chocado com a ideia de um kaiju andando pela cidade ou uma criatura interdimensional, então a ideia de um pequeno universo paralelo criado por Luthor para seu uso particular não é algo inverossímil nesse mundo.
Neste universo ele mantém vários prisioneiros, inimigos do governo ou dele próprio. É um ambiente hostil, com um rio letal de antiprótons e tem até um buraco negro. Superman é levado a uma cela e continua mantendo sua boa vontade para cooperar, só descobrindo tarde demais que está em uma cilada, quando Lex ordena outro prisioneiro, o Metamorfo, a confeccionar kryptonita. E assim ele mantém o Superman enfraquecido e à beira da morte, envenenado pela constante exposição ao cristal.
Metamorfo não é mau. Ele só coopera porque seu bebê Joey é refém ali na prisão. Todavia, quando ele vê Lex matando um civil enquanto interroga o Superman, é a gota d'água. Ele promete desfazer a kryptonita se o Superman o ajudar a fugir dali com seu bebê. A fim de ajudar na recuperação do Super, Metamorfo cria um pequeno sol que dá ao kryptoniano energia suficiente para a fuga.
Então vemos como o Superman deste novo DCU tem uma resistência impressionante. Muitos podem achar que o Superman anterior, do Henry Cavill, era mais forte. Bom, fisicamente ele tinha mais shape (se bem que na verdade até o Henry Cavill usou uns enchimentos por baixo do uniforme para dar mais definição aos músculos) e um uniforme que valorizava mais o corpo, mas a resistência desse novo Superman à kryptonita é impressionante.
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Absolute cinema. |
Mesmo envenenado por dias sem parar e apenas parcialmente energizado por um sol artificial, o Superman conseguiu nadar no rio de antiprótons e até escapar da atração de um buraco negro usando o supersopro como propulsor.
A fuga dele também contou com a ajuda do Mr. Terrific que, junto com a Lois, encontrou o portal para o pocket universe. Quando ele invade a base onde fica o portal, temos o momento mais James Gunn do filme, com o Terrific derrubando os capangas com as esferas ao som de uma música animada.
Superman passa um dia descansando na casa dos pais, um momento para termos mais contato com estes personagens. Então Lex, impaciente para acabar de vez com o Superman, usa o portal dimensional para abrir uma fenda em direção a Metrópolis, atraindo de volta o herói. Ao mesmo tempo a Borávia inicia uma guerra contra o pobre país Jarhanpur, mas a pedido do Superman a Gangue da Justiça vai até lá e eles facilmente acabam com a guerra.
Superman luta contra Engenheira e Ultraman ao mesmo tempo, enfim nocauteando ela. O Ultraman, com a máscara rasgada, se revela como um clone do Super (o que não é nenhuma surpresa, convenhamos), um clone ligeiramente mais forte, porém estupidificado e que só sabe lutar recebendo as orientações remotas do Lex e sua equipe. Superman consegue lançar o clone num buraco negro da fenda e vai até a base do Lex com Mr. Terrific, desativando a fenda, confrontando o vilão num diálogo (Krypto dá uma sacudida nele também).
Graças às provas fornecidas pela Eve Teschmacher, o Planeta Diário torna público todas as falcatruas do Lex, ele enfim é preso, os prisioneiros do universo de bolso são libertados e a opinião pública volta a confiar no Superman.
Na Fortaleza da Solidão a Supergirl tem uma breve aparição. Ela chega meio bêbada apenas para pegar de volta o cachorro e partir para alguma balada cósmica. Já ficou claro como Kara é o oposto de Kal-El. Ele é escoteiro, certinho, enquanto ela é caótica e gosta de farra. Assim já temos uma ideia do que podemos esperar da personagem no filme da Supergirl que virá em 2026.
Eu diria que James Gunn acertou mais na criação do mundo e dos personagens do que na história em si. A história é divertida, uma grande aventura, tem suas decisões questionáveis e poderia ter adotado um ar mais épico em algumas batalhas, algo que o Snyder soube fazer em Man of Steel. Mesmo assim, as cenas de ação são boas e exploram bastante as diferentes habilidades dos personagens.
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O multiverso Jimmy Olsen. |
São os personagens em si que valorizam o filme. O casting é impecável. São atores que fisicamente e na performance combinam muito bem com seus papéis. Esse Jimmy Olsen é o primeiro Jimmy Olsen ruivo do cinema, um pequeno detalhe que faz a diferença quando se pretende homenagear um personagem dos quadrinhos.
A Lois Lane é a melhor de todos os filmes, não só pelo fato da Rachel Brosnahan ser belíssima, mas por ela ter uma personalidade e comportamento que realmente lembram a repórter inteligente e ousada dos quadrinhos. Convenhamos, a primeira Lois Lane dos filmes clássicos era terrível, muito caricata com seu problema de soletrar palavras e que não se destacava em nada como jornalista. Seu único papel era viver apaixonada pelo Superman.
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O melhor Lex de todos os live actions. |
O Lex indubitavelmente é o melhor de todos. Desculpa, Kevin Spacey, mas você foi superado com folga pelo Nicholas Hoult. E há tantos outros personagens secundários que também foram grandes acertos. Como não falar do Guy Gardner que é literalmente a cara, o jeitão e o cabelo de cuia dos quadrinhos?
Alguns podem achar que o filme tem personagens demais, que deveria ter feito como Man of Steel (que focou exclusivamente no Superman, sem nenhum super herói extra), mas acho que foi um grande acerto do James Gunn já introduzir outros heróis, pois este primeiro filme do novo DCU é a apresentação não apenas de um personagem, mas de todo um universo fantástico. Foi bom conhecer a Gangue da Justiça e deu aquela vontade de ver mais daqueles personagens.
Menção especial a outro personagem que nem mesmo existe como um ator, o Krypto, que é um boneco de CGI (baseado em capturas de imagem do pet real do James Gunn). Krypto é o alívio cômico, mas também é durão e protagoniza alguns momentos de pancadaria que mostram que até um cachorro kryptoniano é extremamente poderoso.
Também os robôs da Fortaleza da Solidão são apresentados como personagens com certa relevância. Em todos os filmes anteriores nem mesmo havia robôs na Fortaleza, a não ser em Man of Steel, e são robôs desinteressantes, sem personalidade, meros drones a vigiar o local.
Neste novo filme os robôs são "gente", e eles têm uns comportamentos que nos deixam a questionar se são conscientes ou não. Certos momentos parecem favorecer fortemente a possibilidade de que sejam mesmo conscientes, como quando a robô 12 se empolga ao ser reconhecida pelo Superman ou o robô 4 expressa o desejo de ter um nome humano como Gary.
Também sobre a construção de mundo, é notável como foi dedicada atenção a minúsculos detalhes do cenário. Por exemplo, em alguns frames é possível ver placas de rua que homenageiam Mark Waid, Alex Ross e Dan Jurgens, nomes que deram importantes contribuições ao Superman nos quadrinhos. Curiosamente, também vemos na saída de Metrópolis uma placa indicando o caminho para Gotham City.
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Note o outdoor do Big Belly Burger. |
Outra referência importante no cenário é o outdoor da rede de fast food Big Belly Burger que existe no universo DC dos quadrinhos (e foi bastante referenciada nas séries do arrowverso, inclusive), bem como a rede de cafeterias Jitters Coffee (que também aparece na série do Peacemaker).
Enfim, Superman não é apenas um filme sobre o principal super herói da DC, mas também a introdução a todo um novo mundo fictício, um mundo onde super heróis não vivem meramente em New York (como é muito frequente na Marvel), mas em cidades fictícias como Metrópolis e Gotham, com empresas fictícias que dão verossimilhança a estas cidades, como o Planeta Diário e o Big Belly Burger.
Já vimos nos Guardiões da Galáxia que James Gunn sabe construir e expandir mundos e podemos esperar muito mais disso no DCU. Ao longo de futuros filmes e séries, este novo mundo se abrirá cada vez mais, podemos conhecer cenários cósmicos, outros planetas, bem como outras cidades trazidas dos quadrinhos, como a própria Gotham e Star City. Creio que até a minúscula Kandor, a cidade que existe dentro de um recipiente de vidro, poderá aparecer em algum momento. A série dos Lanternas deverá nos apresentar ou pelo menos mencionar o mundo de OA.
Estamos contemplando apenas o comecinho de um vasto e rico universo.
(23,09,2025)
Palavras-chave:
Alexander Courage, Alexander Salkind, Alex Ross, Alison Bechdel, Amy Adams, Annette O'Toole, Brandon Fraser, Brandon Routh, Bryan Singer, Christopher Nolan, Christopher Reeve, Dan Harris, Dan Jurgens, David Corenswet, David S. Goyer, DC Comics, Faye Dunaway, Gene Hackman, Hans Zimmer, Helen Slater, Henry Braham, Henry Cavill, Ilya Salkind, Jack O'Halloran, James Gunn, James Marsden, Jeannot Szwarc, Jeff East, Jerry Siegel, J. J. Abrams, Joe Shuster, John Ottman, John Williams, Joseph Campbell, Kate Bosworth, Ken Thorne, Kevin Smith, Kevin Spacey, Lauren Shuler Donner, Lawrence Konner, Legendary, Margot Kidder, Mario Puzo, Mark Pillow, Mark Rosenthal, Mark Waid, Marlon Brando, Michael Dougherty, Milly Alcock, Nicholas Hoult, Nicolas Cage, Rachel Brosnahan, Richard Donner, Richard Lester, Richard Pryor, Russell Crowe, Sarah Douglas, Sidney J. Furie, Skyler Gisondo, Terence Stamp, The Cannon Group, Tim Burton, Tom Welling, Valerie Perrine, Warner, Zack Snyder
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