Comecei a ler HQs bem na época que Liefeld, McFarlane e Jim Lee estavam bombando e quando lançaram a Image tive o prazer de presenciar o nascimento do Spawn, Savage Dragon, etc. O Liefeld ficava em terceiro em termos de sucesso, mas era certamente um dos best sellers da Marvel. E na época já era muito criticado e zoado.
Lembro que os editores da revista Wizard viviam fazendo piadinhas dele e eu sabia que a arte dele era tosca e por anos sempre fiz piada dele, mas com o passar dos anos fui entendendo o cara. Ele não é um artista anatômico, como um John Byrne, mas sim algo mais impressionista, exagerando nas expressões, colocando mais dentes na boca dos personagens do que é humanamente possível, enchendo o rosto de hachuras.
O traço dele tem um impacto visual, passa uma sensação de intensidade e força que a gurizada adorava. McFarlane e Jim Lee também faziam isto, sendo que o Jim Lee era o que mais respeitava a anatomia humana, então esses três fundaram praticamente uma "escola", um estilo que diferenciava da arte mais tradicional que seguia a escola de John Byrne, George Perez, etc.
Hoje em dia eu posso até zoar o Capitão América peitudo, mas respeito o Liefeld. Ele fez história. Sem contar que o Deadpool foi a grande redenção criativa dele, pois agora uma cria do Liefeld faz parte da cultura pop quase no nível de um Homem Aranha.
Como o patinho feio, ele foi ridicularizado, mas com o tempo se mostrou mais e mais valioso, pois deixou um legado que perdurou. Ele não foi um artista modinha. Na verdade ele foi mais importante como criador do que como desenhista.
Com uma produção vasta, com muita tentativa e erro, ele criou um monte de personagens descartáveis e até cópias descaradas de personagens conhecidos, mas em meio a este caos criativo ele teve alguns frutos que vingaram, como Cable e Deadpool.
(27,07,2024)
Rob Liefeld e o Super Pochete
Nos anos 90, Rob Liefeld virou um ícone de desenhista ruim. Não que ele fosse ruim de todo, só era tosco, especialmente em se tratando de anatomia. Bom, todo nerd sabe quem é Liefeld e já viu alguns de seus desenhos, homens troncudos com tórax enormes e mulheres com cintura de vespa.
O que redime o Liefeld, mais ainda, lhe dá um lugar no panteão dos grandes criadores do mundo dos quadrinhos, é o fato dele ter criado alguns personagens excelentes como Deadpool e Cable. Ele na verdade criou muitos mais, foi um criador realmente produtivo, mas nunca perdeu o status de artista odiado ou no mínimo zoado.
Eis que um dia, levando na esportiva a zoação que lhe dedicam há décadas, ele desenhou um personagem todo coberto de pochetes, isso mesmo, aquele acessório brega e bem típico dos anos 90. A reação dos seus seguidores foi pedir que esse troço ganhasse vida e assim, da zoeira nasce mais uma criação do gênio de Liefeld: The Pouch, que em bom português poderia se chamar O Pochete.
The zoeira never ends.
(17,12,2018)
Rob Liefeld, tão ruim que é bom
Nos anos 90 a indústria de quadrinhos passou por duas grandes mudanças: 1) o crescimento do gênero de histórias adultas, densas e sombrias, com autores como Frank Miller, Alan Moore e Neil Gaiman; 2) o surgimento de um novo estilo de desenho, mais detalhista, exagerado e graficamente aprimorado com as recém surgidas ferramentas de colorização digital.
Neste segundo fenômeno se destacaram desenhistas como Jim Lee e Todd McFarlane. Tanto se destacaram que terminaram criando uma editora própria, a Image, com a ousadia de bater de frente com Marvel e DC e enfatizar esse aspecto gráfico das revistas, caprichando nas cores e traços. Os coloristas de fato são pouco lembrados, mas tiveram um papel importantíssimo. Basta dar uma comparada entre os quadrinhos dos anos 80, que tinham uma colorização mais simples e artesanal, e estes dos anos 90 com uma paleta de cores mais explorada, com fades e degradês, enchendo as páginas de muita cor, tornando-as visualmente mais atraentes e, claro, lucrativas.
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Note-se como a arte e colorização dos X-Men nos anos 90 eram mais detalhistas que a arte dos anos 80. |
E então temos Rob Liefeld. Na época dessa revolução visual dos anos 90 ele era um garoto iniciante que teve a sorte de conseguir trabalhar para a Marvel e foi um dos mais controversos desenhistas da época, pois ele vendia bem, mas tinha um traço notavelmente tosco, uma anatomia bizarra dos corpos masculinos e femininos e tantos outros exageros. Mesmo sendo o cara que todos amavam odiar, o fato é que ele fez sucesso e foi um dos líderes na fundação da Image.
Liefeld era como uma versão turbinada, anabolizada e psicodélica de Jim Lee. Mas pensando bem, talvez ele seja o melhor símbolo para aquele estilo dos anos 90, quando se valorizou bastante heróis super musculosos com as fibras trincando e mostrando mais de 40 dentes na boca numa expressão dramática. O desenho era tão ruim que acabava sendo bom porque é impossível olhar para uma capa cheia de brucutus carregando 50 armas nas costas e não ficar curioso. Não à toa foi um sucesso de vendas. O exagero vende.
Quando eu era garoto partilhava do mesmo ódio ao desenho tosco do cara que qualquer outro leitor comum da época tinha, mas mesmo assim comprava lá minhas revistinhas da X-Force porque né, essas drogas viciavam. Agora, décadas depois, parece que alcancei uma compreensão diferente da coisa. Liefeld era ruim sim, era tosco, não entendia nada de anatomia, mas tinha algo nesse estilo que fez dele tão popular. Ele foi uma espécie de expressionista.
Apreciemos alguns desenhos.
E convenhamos, Liefeld merece uns créditos extras porque ele foi o criador de um dos personagens mais penetrantes da cultura nerd, um cara que virou um dos líderes do mundo dos memes, que é homenageado em cosplays por todo o mundo, que rendeu um dos melhores filmes de super heróis já feitos. Ele mesmo: Deadpool.
Palavras-chave:
Image Comics, Jim Lee, Rob Liefeld, Todd McFarlane
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