Eu nunca tinha ouvido falar deste filme, até que hoje entrei na Netflix e ele estava recomendado na página inicial. Pelo título genérico, achei que seria algo bem mequetrefe, mas só no fato da sinopse mencionar terror e comédia eu resolvi dar uma chance, pois este combo específico de gêneros está em falta ultimamente. Eis que descobri uma pérola.
A história começa com a Emma Roberts, o que já era um incentivo para continuar assistindo, afinal ela tem um rostinho bonito, mas aí do nada ela leva um tiro na cabeça, o que já mostra que esse filme não tem dó dos personagens.
Como o título já dá a entender, a história é sobre ricaços sádicos que caçam pessoas por diversão, uma lenda urbana (ou não tão lenda assim?) que já rendeu muitas histórias em livros e filmes. A caçada começa e uma moça cai numa armadilha cheia de estacas, então um dos fugitivos a ajuda a sair dali.
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Parece assustador, mas esta é a cena mais hilária do filme. |
Pois é, ela foi empalada por uma estaca, mas simplesmente levantou e saiu andando, de modo que esta cena calibrou o tipo de terror e humor que teremos. E tem mais. O cara que a ajudou pisa numa granada e a moça sai voando e cai de volta na armadilha de estacas, agora só com a metade do corpo. Isto está ficando cada vez melhor.
E assim vamos acompanhando a galera sendo abatida de uma forma debochada, o que deixa claro que não se trata de um mero terror, mas sim terror satírico. A sátira, porém, vai além da violência debochada, pois também conhecemos os ricaços sádicos que em suas conversas estão sempre sinalizando virtude, falando os clichês do politicamente correto, de causas ecológicas, justiça social, ficam corrigindo uns aos outros caso falem alguma palavra tabu, enfim, são aquele tipo chato de militante justiceiro social.
Inclusive eles usam esta pretensão de justiça social como uma justificativa para o fato de estarem caçando humanos, pois foram pessoas escolhidas a dedo por suas postagens nas redes sociais, mas obviamente isto só mostra a hipocrisia macabra destes ricaços que são a caricatura do militante woke, ao mesmo tempo em que as pessoas que estão sendo caçadas são uma caricatura dos internautas que os wokes costumam chamar de "extrema direita", como negacionistas climáticos e teóricos de conspirações macabras e satânicas dos bilionários.
Em meio a estas duas caricaturas, temos a Crystal (Betty Gilpin), que também está sendo caçada, só que ela não se encaixa em nenhum estereótipo. Ela é só alguém querendo sobreviver àquela insanidade e, por ter treinamento militar, acaba se mostrando uma grande badass e passa a caçar os ricaços, invertendo o jogo.
No fim ela se encontra com a última caçadora sobrevivente, chamada Athena (Hilary Swank) e rola entre as duas um quebra pau danado estilo Kill Bill versus Vernita Green, uma luta de cozinha, usando facas, panelas e o que mais estiver ao alcance. A cena ficou ótima, divertidíssima por flertar com o inverossímil, mas sem exageros, e é até engraçado como ao longo da luta mortal as duas mulheres vão meio que simpatizando uma com a outra.
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Momento Kill Bill. |
O filme é dirigido por Craig Zobel, que já dirigiu episódios de séries como The Leftovers (2015-2017), American Gods (2017), Westworld (2018) e The Penguin (2024). O roteiro é de Nick Cuse e Damon Lindelof, que também já trabalharam em Watchmen (2019) e The Leftovers, etc. Aliás, Lindelof está cotado para ser roteirista da série dos Lanternas Verdes e do novo filme de Star Wars: New Jedi Order.
Por ser lançado em um ano eleitoral nos EUA e satirizar a inimizade entre progressistas e conservadores, o filme pode ser considerado oportunista, mas se este foi o caso, o oportunismo não rendeu uma boa audiência, pois ambos os lados da polarização política expressaram desconforto com a temática política, ainda mais em uma história de terror.
O filme, que custou 14 milhões de dólares, arrecadou apenas 12 milhões na bilheteria do lançamento. Também convenhamos que terror não é um gênero muito popular, ainda mais se for satírico, pois há muita gente que não entende ou aprecia o sarcasmo da sátira.
A meu ver, a sátira foi bem mais incisiva e ácida na direção dos woke ricos, a nova versão da clássica "esquerda caviar", retratando-os como hipócritas que ostentam um linguajar politicamente correto, ao mesmo tempo em que tratam humanos como bichos. Já a chamada "extrema direita" é feita basicamente de pessoas comuns e de baixa escolaridade.
Creio que o filme poderia funcionar mesmo sem essa temática política, pois a comédia está mesmo na violência debochada que não chega ao absurdo, mas flerta com o improvável, criando cenas hilárias. A luta final das duas mulheres é divertidíssima de assistir e creio que as atrizes também se divertiram bastante fazendo a cena.
Detalhe para o porquinho Orwell, que é o mascote de Athena e leva seu nome em homenagem ao autor da Revolução dos Bichos. Em meio a socos e facadas, Athena e Crystal até têm uma conversa sobre o livro.
(25,11,2024)
Palavras-chave:
Betty Gilpin, Blumhouse, Craig Zobel, Damon Lindelof, Emma Roberts, George Orwell, Hilary Swank, Nick Cuse, Universal Pictures
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