Um detalhe curioso sobre Texas Chainsaw Massacre é que a tradução brasileira cometeu um erro bobo, traduzindo o título para O Massacre da Serra Elétrica. É evidente que o Leatherface nunca usou uma serra elétrica e sim uma motosserra movida a combustível. O título em português poderia simplesmente ter sido O Massacre da Motosserra, mas depois do primeiro filme o nome já se estabeleceu e em toda a franquia a tradução insistiu na serra elétrica.
Seria na verdade bem cômico se o vilão usasse uma serra elétrica, que obviamente precisa de um fio ligado na tomada. Ele não poderia correr por muito tempo atrás das vítimas sem que o fio saísse da tomada.
O primeiro e clássico filme, The Texas Chain Saw Massacre (1974), conta uma história contemporânea para a sua época. Era a época dos hippies que viajavam pelas estradas curtindo a vida e a liberdade e assim começa o filme, com um grupo de amigos numa road trip.
Viajando pelo interior do Texas, eles começam a encontrar gente meio estranha, dão carona a um debiloide que do nada começa a se cortar e depois corta um dos amigos, então eles expulsam o maluco antes que a coisa piore. Esse primeiro susto foi apenas um aperitivo, pois depois entram numa casa e o massacre começa.
Um dos personagens dá de cara com um homem alto usando uma máscara de pele e leva uma cacetada, então cai e fica se estrebuchando no chão, depois é a vez de uma das garotas, que é agarrada pelo gigante e pendurada pelas costas num gancho, uma cena agoniante e que se tornou uma das marcas da franquia.
O terror fica ainda mais macabro enquanto ela permanece ali pendurada em agonia e assiste o amigo sendo esquartejado com uma motosserra. E assim um a um os incautos amigos vão sendo abatidos.
Esse Leatherface original tem um jeitão abobado. É um cara grande, gordo e que claramente tem um retardo mental somado à evidente psicopatia. Ele abate pessoas como se fossem animais. É o terror da desumanização. Leatherface ainda não é o ser praticamente sobrenatural que se tornaria nas versões futuras.
Após esse rápido massacre, sobra apenas a Sally, então temos uma longa cena de perseguição, com a Sally correndo e gritando em desespero enquanto o Leatherface a persegue com o som infernal da motosserra que nunca para. Enfim ela entra em uma casa e pede ajuda a um cara, mas ele a espanca com uma vassoura e a amarra, levando para outra casa.
Ali acontece uma grotesca reunião em família, incluindo aquele caroneiro maluco do início do filme, o próprio Leatherface (que agora aparece vestido como mulher) e até os avós que estão numa condição bem decrepita. É uma família de canibais e Sally, amarrada à cadeira, participa dessa refeição macabra tomada de puro terror.
A performance da atriz Marilyn Burns é marcante. Ela grita sem parar e a expressão de terror em seu rosto é bem explorada pela câmera com uns closes agoniantes. Quando então eles vão abater a Sally, ela consegue fugir pra rua, sendo perseguida pela família sinistra numa cena meio desastrada. O Leatherface até cai no chão e se corta com a motosserra.
Primeiro para um caminhão, mas o motorista acaba correndo com medo. Depois passa uma caminhonete e Sally consegue subir, quando então temos a cena mais icônica do filme, com ela rindo loucamente enquanto escapa do monstro. Sally literalmente riu por último, mas esse riso lhe custou a sanidade.
Ela se torna a final girl, um tropo que se tornou comum no terror, quando apenas uma garota sobrevive no final do filme. Sally não é exatamente a primeira final girl em um filme, mas, dada a sua importância para o gênero, pode-se dizer que ela é a Final Girl primordial.
A principal inspiração para este filme foi o serial killer Ed Gein, que na década de 50 virou notícia após roubar corpos dos cemitérios, usando sua pele e ossos para criar objetos (ele fazia máscaras, roupas e colecionava diversas partes incluindo os crânios) como uma forma de arte macabra. Ele também matou duas mulheres.
A sequência, The Texas Chainsaw Massacre 2 (1986), também dirigida pelo criador original Tobe Hooper, se diferencia por adotar um tom mais de comédia macabra, bem típico do terror dos anos 80.
A história gira em torno da radialista Vanita (Caroline Williams) e o tenente Enright (Dennis Hopper). Vanita se torna a final girl dessa vez e com certo upgrade, pois, em vez de simplesmente fugir, ela mata um dos malucos com uma motosserra e o filme termina com ela brandindo a motosserra no ar tomada por uma fúria insana.
Concluindo a trilogia, vem Leatherface: The Texas Chainsaw Massacre III (1990), agora dirigido por Jeff Burr. A protagonista da vez é Michelle (Kate Hodge), que viaja em uma roadtrip e acaba capturada, participando do já tradicional jantar macabro da família Sawyer.
Detalhe que um dos membros da família canibal, que usa o codinome Tex, é interpretado por um jovem Viggo Mortensen, o Aragorn de Senhor dos Anéis. Esse terceiro filme ganha um elemento de ação bem anos 90, pois no final tem metralhadora e até um carro explodindo ao som de heavy metal.
The Return of the Texas Chainsaw Massacre (1995), também conhecido como Texas Chainsaw Massacre: The Next Generation, é uma grande piada e provavelmente o pior filme da franquia. Os personagens não têm qualquer substância, o Leatherface sempre que aparece fica gritando histericamente e ele é tão patético que não amedronta. As falas dos personagens são horríveis, e ficam pior com a atuação preguiçosa. Tem um redneck que do nada fica citando frases de escritores
A Renée Zellweger foi uma atriz aclamada nos anos 90 e na década de 2000, mas oh boy, nesse filme ela estava muito trash. Só quem consegue ser um pouco convincente é o Matthew McConaughey que acaba virando o verdadeiro vilão da história, mas até ele tem seus momentos ridículos. Detalhe: ele tem uma perna mecânica que pode ser controlada com controle remoto. Isso é bem a cara dos anos 90, esses gadgets meio futuristas.
Enquanto isso, o Leatherface é apenas um convidado extra que tem uma breve aparição aqui e ali. Na metade do filme ele simplesmente muda de aparência e vira uma travesti, como aconteceu no filme original, porém de uma forma bem mais ridícula.
Como se não bastasse toda a falta de qualidade, ainda evitaram o gore e toda cena de violência é escondida em truques de câmera. Quase não vemos sangue. Tripas e mutilações? Não espere nada disto. E olha que estamos falando de um filme de "terror" envolvendo um maníaco de motosserra.
No último ato a história fica mais maluca e nonsense. Do nada aparece um policial que tem umas marcas e piercings no corpo, como se fizesse parte de alguma seita sadomasoquista. Ele lambe a cara toda da Renée Zellweger, diz pro Matthew McConaughey tocar o terror e vai embora. O Matthew McConaughey esmaga o crânio de uma garota e começa a gritar e se mutilar, a Renée Zellweger aproveita pra fugir, é perseguida pelo Leatherface e de repente já é dia e ela pega carona com dois velhinhos em uma motorhome. O Leatherface vai atrás em um carro e o motorhome capota. O Matthew McConaughey corre atrás da garota, mas é derrubado por um avião. A garota escapa no carro do policial tarado que simplesmente a leva pro hospital e assim termina essa história maluca.
The Texas Chainsaw Massacre (2003) é um remake do filme original e começa da mesma forma, com um grupo de amigos fazendo uma road trip. Também como no filme de 1974, eles dão carona, só que agora é uma garota e ela enlouquecida atira na própria cabeça, deixando todos em choque.
Em vez de tirar o corpo do carro e cair fora dali, o grupo tenta fazer a coisa certa, procurando um policial para relatar o incidente. Nessa busca acabam encontrando o Leatherface e aí começa o massacre. A final girl dessa vez se chama Erin, interpretada pela Jessica Biel.
The Texas Chainsaw Massacre: The Beginning (2006), como o próprio título sugere, é a prequela da franquia, mostrando a origem de Thomas Hewitt. Ele nasceu com uma deformação no rosto e sua mãe, que trabalhava em um açougue, morreu de exaustão durante o parto. O patrão dela simplesmente jogou o bebê no lixo, que então foi encontrado por Luda Mae Hewitt.
Ao crescer, Thomas se torna um brutamontes que usa uma máscara por vergonha do próprio rosto. Ele trabalha no açougue, mas é demitido, e, furioso, mata o patrão com um martelo. Então encontra uma motosserra e leva pra casa. Assim nasce o icônico vilão.
Então vem o típico plot de terror: um grupo de jovens viaja em uma road trip e acabam raptados e levados para a casa da família Hewitt, onde o show do horrores acontece. Thomas remove o rosto de uma das vítimas e pela primeira vez confecciona sua máscara humana. Agora o kit de Leatherface está completo.
No final, como é de se esperar, nenhum dos jovens sobrevive, afinal estamos na origem do Leatherface e se alguém escapasse para buscar ajuda, poderia ser o fim da família Hewitt. Este fim só virá depois em outro filme.
Texas Chainsaw 3D (2013), com a Alexandra Daddario, só tem algo que vale a pena, a Alexandra Daddario. A regra é clara: se um filme tem "3D" no título, é porque é ruim. Maaas, tem a Alexandra Daddario.
A história é uma continuação direta do primeiro filme. Começa em 1973, com a família Sawyer sendo dizimada pelos moradores locais. Apenas uma bebê sobreviveu e foi adotada por um dos vingadores, ganhando o nome de Heather.
O tempo passa e em 2012 Heather recebe uma carta informando que ela herdou uma mansão de uma avó que ela nem conhecia. Ela viaja até a cidadezinha de Newt com uns amigos a fim de ver a mansão, mas logo o terror se abate sobre o grupo, pois no porão da mansão vivia ninguém menos que o Leatherface, agora já velho, mas ainda muito forte e perigoso. Ele obviamente sai matando tudo o que vê pela frente.
Ao mesmo tempo em que foge do Leatherface, Heather também é emboscada pela família inimiga dos Sawyer. O plot twist acontece quando o Leatherface vê que Heather tem uma marca no seio que é o símbolo da família Sawyer. Reconhecendo ela como sua prima, ele passa a protegê-la.
Engraçado como Heather simplesmente muda de atitude ao saber que eles são primos e esquece que ele matou os amigos dela de forma grotesca. Família é tudo, não é mesmo? E assim Heather vai viver na mansão com seu primo psicopata. Ela descobre em uma carta da avó que seu nome original é Edith Rose Sawyer. Heather, agora Edith, aceita a nova vida e deixa pra trás os pais adotivos (que numa cena pós-crédito acabam mortos pelo Leatherface).
Curiosamente, a atriz que fez a única vítima sobrevivente do massacre no filme de 1974, Marilyn Burns, fez uma participação especial neste filme, agora encarnando um membro da família Sawyer, a Verna Carson, a matriarca da família Sawyer.
Leatherface (2017) é mais uma tentativa de fazer uma prequela da franquia. Acompanhamos a história do adolescente Jackson Sawyer, um garoto problemático que é internado em um hospício. Ele consegue fugir com uns amigos, mas é perseguido pela polícia. Em meio à perseguição ele leva um tiro no rosto, ganhando uma enorme cicatriz estilo Coringa. Só no finalzinho ele se torna o Leatherface e usa a motosserra.
É um terror bem genérico e o ator que faz o Jackson tem uma aparência muito "normal", é um cara bonito de fato, bem diferente do brutamontes deformado e mondrongo que é a aparência consagrada do Leatherface.
É certo que o gênero slasher tem muitos absurdos que a gente deve aceitar como parte da fantasia, mas uma coisa que desligou minha suspensão de descrença foi uma cena em que os três amigos, fugindo da polícia, se escondem dentro de uma carcaça de vaca. E olha que um deles tinha o tamanho de dois. Isso não era uma vaca, era um portal pra outra dimensão!
Escape from Cannibal Farm (2017) tenta ser uma homenagem à franquia, apresentando uma versão britânica do Texas Chainsaw Massacre. Tem o garoto deformado que usa uma máscara de pele humana, tem a família perturbada, tem a motosserra. O roteiro se esforça em ser interessante, com muitos flashbacks e plot twists, mas no fim das contas é um filme bem fraquinho.
Em 2022 a Netflix lançou uma prequela chamada Texas Chainsaw Massacre. É em parte um reboot, em parte uma continuação da história iniciada lá no filme de 1974, pois a única sobrevivente do massacre, Sally Hardesty, está de volta, agora já idosa e intepretada por Olwen Fouéré. Lembrando que a atriz original, Marilyn Burns, faleceu em 2014.
Eu não esperava muito desse filme e ele acabou me surpreendendo. Começa com um grupo de jovens com um jeitão Geração Z viajando para uma cidadezinha no Texas. Ali se deparam com o Leatherface, que já deve estar bem velho. Interpretado por Mark Burnham, esse vilão realmente assusta, é um verdadeiro monstro de slasher movie, imparável como um juggernaut.
É interessante observar o contraste entre este Leatherface e aquele do tosco e cômico filme de 1995. Ali ele parecia uma velha louca e histérica, gritando a todo momento. Já o Leatherface do Mark Burnham é silencioso, fleumático e por isso mesmo assustador. Ele não precisa gritar para causar medo. Ele tem uma presença amedrontadora.
A melhor e mais violenta cena é quando ele entra em um ônibus cheio de gente. É o ambiente perfeito para um monstro com motosserra tocar o terror, já que não há como as pessoas fugirem. Estão totalmente indefesas enquanto ele avança esquartejando todos no caminho.
O retorno de Sally, agora como uma velha badass disposta a dar um fim no Leatherface, adiciona um plot extra bem legal à história. Obviamente ela não vai conseguir o que pretende, pois no fim de tudo o Leatherface deve sobreviver. Afinal, convenhamos, ele é o protagonista e agora que a Netflix reiniciou esta franquia, provavelmente outras sequências virão.
(02,06,2025)
Palavras-chave:
Alexandra Daddario, Alexandre Bustillo, Blumhouse, Caroline Williams, Charlie Steeds, David Blue Garcia, Gunnar Hansen, Jeff Burr, Jessica Biel, John Luessenhop, Jonathan Liebesman, Julien Maury, Kate Hodge, Kim Henkel, Legendary, Lionsgate, Marcus Nispel, Marilyn Burns, Mark Burnham, Matthew McConaughey, Michael Bay, Millennium Films, Miramax, Netflix, New Line Cinema, Olwen Fouéré, Renée Zellweger, Tobe Hooper, Viggo Mortensen
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