A Marvel estourou nos cinemas no início dos anos 2000 com o Spider-Man e os X-Men, mas foi em 2008 que teve início um fenômeno sem precedentes, o chamado Marvel Cinematic Universe, MCU.
Graças a um trabalho formidável de Kevin Feige, orquestrando todo um mundo de produções compartilhando personagens e tramas, foi possível construir este universo coeso interligando filmes e séries, além de outras mídias. Ao longo dos anos este projeto foi se desenrolando em diferentes fases.
Em 2005 a Marvel retomou os direitos cinematográficos do Homem de Ferro (que estavam nas mãos da New Line Cinema) e em 2006 conseguiu o Hulk (que estava com a Universal) e a Viúva Negra (que estava com a Lions Gate, inclusive havia um projeto da Lions Gate para um filme da Viúva, mas acabaram cancelando).
Este resumão é um grande Frankenstein, compilando resenhas que eu já havia escrito há alguns anos e as resenhas do que estou assistindo atualmente. Futuramente, com novos lançamentos, é provável que eu retorne aqui para acrescentar outros comentários.
A SAGA DO INFINITO (fases 1-3)
Fase 1
A Fase Um (2008-2012) começou apresentando um a um aqueles que se tornariam os principais membros dos Vingadores. Primeiro veio o Iron Man (2008), depois The Incredible Hulk (2008), Iron Man 2 (2010), Thor (2011), Captain America: The First Avenger (2011), enfim culminando em um grande crossover que foi um blockbuster fenomenal, The Avengers (2012).
Apenas dois membros dos Vingadores não tiveram filmes solo, a Viúva Negra (que só terá seu filme tardiamente na Fase Quatro) e o Gavião Arqueiro (que terá uma série na Fase Quatro). Outro personagem muito importante e que também não teve filme de apresentação é o Nick Fury (interpretado por ninguém menos que Samuel L. Jackson), só que ele é um personagem ubíquo, que este presente em todos os filmes e agindo como o organizador e chefão da equipe, a Iniciativa Vingadores.
No total, estes seis filmes da Fase Um renderam uma bilheteria total de 3,8 bilhões de dólares.
Fase 2
A Fase Dois (2013-2015) veio com Iron Man 3 (2013), Thor: The Dark World (2013), Captain America: The Winter Soldier (2014), Guardians of the Galaxy (2014), Ant-Man (2015) e o grande crossover Avengers: Age of Ultron (2015), que não foi tão épico quanto o primeiro filme dos Vingadores, mas rendeu o seu 1,4 bilhão.
Ao todo, estes seis filmes da Fase Dois renderam uma bilheteria total de 5,2 bilhões de dólares.
Fase 3
Então chegamos à Fase Três que foi o auge do MCU e até agora não foi superada. A produção dobrou o conteúdo, com onze filmes, sendo dois do novo Spider-Man, fruto de uma parceria da Sony com a Disney.
A fase começou com Captain America: Civil War (2016), que por si só já foi um crossover de vários personagens e a introdução do Spider-Man que chegou assim do nada e imediatamente ganhou uma grande aceitação do público, pavimentando o caminho para seus filmes solo.
Doctor Strange (2016) traz um novo membro para os Vingadores e também uma nova camada ao universo. Enquanto Thor e os Guardiões da Galáxia acrescentaram a camada cósmica e Ant-Man trouxe o mundo quântico, o Doutor Estranho apresenta o mundo místico.
Depois temos Guardians of the Galaxy Vol. 2 (2017), Spider-Man: Homecoming (2017), Black Panther (2018), então vem o maior filme de todos os tempos no MCU, Avengers: Infinity War (2018), reunindo um grande crossover contra Thanos e com um final inesperado, pois Thanos vence por meio do seu icônico estalo de dedos, o "Snap!".
Infinity War faria uma duologia com Avengers: Endgame (2019), quando a vitória de Thanos é revertida, não sem o sacrifício de alguns dos principais personagens. No intervalo entre estes dois épicos, foram lançados Ant-Man and the Wasp (2018) e Captain Marvel (2019) e, encerrando a Fase Três, veio Spider-Man: Far From Home (2019).
Ao longo das três fases, também surgiram algumas séries da Marvel que faziam certas referências aos eventos e personagens do MCU, porém sem um forte comprometimento com o MCU. Pela ABC foram produzidas Agents of SHIELD (2013-2020), Agent Carter (2015-2016) e Inhumans (2017).
Pela Netflix vieram Daredevil (2015-2022), Jessica Jones (2015-2022), Luke Cage (2016-2022), Iron Fist (2017-2018), The Defenders (207) e The Punisher (2017-2022).
Pela ABC em parceria com a Marvel Television vieram Runaways (2017-2019), Cloak & Dagger (2018-2019) e Helstrom (2020).
Apesar das referências ao MCU, todas estas séries foram relativamente independentes. É na Fase Quatro que realmente temos uma integração maior entre as séries e o MCU. Com a criação do serviço de streaming Disney +, surgiu a necessidade de criar um gordo catálogo de produções, de modo que a Fase Quatro superou em muito as três fases anteriores em volume de conteúdo, com muitos filmes, séries e especiais.
A trilogia Iron Man
Robert Downey Jr. tem uma longa carreira que começou na década de 70, uma carreira bastante produtiva, pois atuou ano a ano quase sem interrupções. Quando, porém, foi chamado para ser o Homem de Ferro, ele não estava exatamente no seu auge. Na vida pessoal, enfrentou problemas com o vício em drogas e chegou até a ser preso. Agora ele tinha a chance de se reerguer e aproveitou como ninguém.
A Marvel no cinema estava com seus personagens divididos em vários studios, como o Aranha na Sony e os X-Men na Fox. Isso era resultado dos anos de falência que a editora enfrentou no fim da década de 90 e teve que vender os direitos destes personagens. Logo, quando surgiu o projeto de um filme do Iron Man, ninguém imaginava que fosse se tornar algo tão grandioso e ambicioso. Ainda assim, o Robert soube apostar.
Em seu contrato, ele acertou com a Marvel um acordo para ganhar, além do salário de ator ao participar dos filmes, também uma porcentagem dos rendimentos das bilheterias. Foi a aposta da sua vida. Como ator ele passou a ganhar cerca de 20 milhões de dólares por filme, mas os lucros extras da bilheteria já lhe renderam perto de 100 milhões. Em 10 anos participando dessa franquia, ele montou um patrimônio de um quarto de bilhão de dólares, 250 milhões.
É interessante mencionar isso, porque a história de Robert Downey Jr. simboliza o sucesso da franquia MCU, além, claro, dele também se encaixar no tipo de personagem que é o Tony Stark. Não foi só ele que apostou com a Marvel, a Marvel apostou com ele e se deu muito bem, pois é evidente que boa parte do sucesso do MCU se deve ao carisma emprestado do ator. Downey Jr. deu vida ao Homem de Ferro e fez ele ser quem é, um dos personagens mais queridos desse universo, um ímã de bilheteria.
No primeiro filme do Iron Man, já nos primeiros minutos o ator nos vende o seu personagem. Tony Stark chega com um charme e um estranho carisma de cafajeste. Ele é ao mesmo tempo um cara com quem você não gostaria de conviver ou trabalhar, mas que também tem uma estranha admiração. Tony Stark é gênio, mulherengo e badass. Ele construiu uma armadura de sucata no meio do deserto.
De seu humilde começo com a armadura Mark 1, ele vai progredindo exponencialmente ao longo dos três filmes. No primeiro filme (2008), a clássica armadura vermelha e dourada lhe basta, no segundo (2010) já perdemos a conta de quantos modelos de armaduras existem. Tem aquela cinza, chamada War Machine, tem a dourada e vermelha, a prateada e vermelha e as prateadas que são como uns iron minions.
No terceiro filme (2013), a galeria de armaduras só aumenta. Tem aquela com uma cor meio ouro branco, outra com as patrióticas cores da bandeira e por aí vai. Afinal, além do charme do Downey Jr., o grande atrativo do personagem são as armaduras. É uma coisa geek, como uma paixão por carros. O público gostou de acompanhar a evolução e a variedade destes equipamentos e os truques que cada um é capaz de realizar. O Iron Man é uma espécie de brinquedo ambulante do Michael Bay, soltando raios, tiros e bombas pra todo lado. Quem não gosta disso?
O primeiro Iron Man lança os fundamentos do MCU. Nele são apresentados o Agent Coulson, que depois seguiria uma longa carreira na série Agents of SHIELD, e o Nick Furry na famosa cena pós-créditos em que ele fala da "iniciativa Vingadores". No filme seguinte viria a Viúva Negra, uma das principais e mais frequentes integrantes dos Vingadores.
No terceiro filme, a direção passa das mãos do Jon Favreau (que pode ser considerado o fundador do MCU) para o Shane Black e algo estranho acontece. Parece que o Iron Man 3 trai o público de diversas formas. Primeiro tem a grande traição do vilão de araque. Prometeram o Mandarim como grande vilão e no final descobrimos que era um ator bobalhão. Depois a paixão por armaduras que foi explorada na franquia é desconstruída quando Stark literalmente explode sua coleção. Pra que isso, cara?
A trama de Iron Man 3 ficou bagunçada e acabou explorando mal o conceito da substância extremis, que é importante na mitologia do Iron Man dos quadrinhos. De toda forma, quando veio o crossover Infinity War (2018) e o Endgame (2019), o Iron Man pôde finalmente voltar a ser o cara das armaduras bacanas, uma espécie de Inspetor Bugiganga bilionário, charmoso e fodão.
Tony Stark teve uma trajetória, uma jornada do herói, muito bem construída ao longo dessa trilogia e dos crossovers. Ele começou como um empresário egoísta e narcisista, mas foi passando por experiências que abriram seus olhos para o próximo.
Primeiro, ao ser raptado no Afeganistão, aprendeu a se importar com o companheiro de cativeiro, depois o afeto pela Pepper o acompanhou por toda a série e as catástrofes que atingiam o mundo o levaram a se sacrificar diversas vezes, até o sacrifício final. De egoísta a altruísta, ele se tornou o verdadeiro modelo de herói.
(27,08,2019)
Hulk, o vingador que não teve trilogia
O universo de filmes da Marvel, o famoso MCU, começou lentamente. Sua inauguração fora em 2008, com o Iron Man, seguido pelo Hulk no mesmo ano. Somente dois anos depois viria uma nova produção, com o Iron Man 2 (2010), depois Thor (2011) e Capitão América (2011), culminando no crossover dos Vingadores (2012) e a partir daí essa franquia pegou o embalo, de modo que agora lança pelo menos dois filmes todos os anos.
Nesta primeira fase, os filmes solo foram dedicados aos personagens que seriam os fundadores dos Avengers: Homem de Ferro, Hulk, Thor e Capitão América. Curiosamente, destes quatro personagens só o Hulk não teve uma trilogia, mesmo porque seu filme solo foi o pior do grupo. E não é a primeira vez que isso acontece. Parece que o Hulk realmente não dá certo como personagem solo.
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O Hulk borrachudo de 2003. |
Uma primeira tentativa foi feita em 2003, com direção de Ang Lee. Ele experimentou uma estética interessante que imitava os quadrinhos, repartindo a tela em quadros, mas a história envolvendo o pai dele se desviou demais do canon do personagem, sem contar que o CGI era bem ruinzinho.
Então veio outra tentativa, um reboot, em 2008. O começo é bem zoado, pois se passa no Brasil e vemos figurantes que supostamente são brasileiros, mas falam português com um sotaque carregado e tosco.
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Um combo de cameos, com Stan Lee e Lou Ferrigno. |
Na verdade o filme não é tão ruim e tem seus momentos. O CGI do Hulk e do Abominável são bons para a época e as cenas de ação e luta são decentes. Também há algum fan service, como o cameo do Lou Ferrigno, além do Stan Lee (que também apareceram em 2003), a clássica fala "Hulk Smash" e algumas referências mais sutis, como o close nos olhos esverdeados do Banner durante a transformação, que é uma referência à antiga série dos anos 70.
Mais ainda, por volta dos primeiros 30 minutos, quando Banner está fugindo e caminha sozinho na rua, toca aquele tema do "Hulk triste" que foi uma marca da série.
De toda forma, esse Hulk não deu certo em filmes solo. O ator Edward Norton acabou sendo substituído quando o personagem voltou no filme dos Vingadores, entrando no papel o Mark Ruffalo.
Nos Vingadores, aí sim, o gigante deu um show e a partir daí se tornou um dos personagens mais queridos da equipe, todavia, não teve mais direito a um filme solo e quando muito apareceu como convidado no filme de outro personagem, o Thor, em Ragnarok (2017), e novamente ele chamou bastante atenção, porque é assim que ele funciona, como personagem auxiliar, não como principal protagonista.
(29,08,2019)
A trilogia Thor
Depois de dois filmes do Homem de Ferro e um do Hulk, foi a vez do Thor ser introduzido ao MCU em 2011. Capricharam no elenco auxiliar, chamando a Natalie Portman para ser a Jane Foster, Tom Hiddleston como Loki e Anthony Hopkins como Odin.
Ao longo dos anos, Loki acabou se tornando o antagonista mais querido do MCU e claramente boa parte disto se deve ao charme e carisma de Tom Hiddleston que deu vida a um personagem ambíguo e vilanesco, mas que todos gostam de assistir.
Apesar do super elenco, o primeiro filme do Thor não foi tão bem sucedido quanto os do Iron Man, mas ainda foi melhor que o do Hulk. O segundo filme (2013), embora seja mais cósmico, envolvendo uma batalha contra os ancestrais elfos sombrios, também foi mediano.
Em termos de lore, de mitologia do MCU, os filmes do Thor deram uma grande contribuição, pois contaram histórias que remontam à origem do universo e explicam o surgimento das energias que se tornariam as joias do infinito. Todos os filmes e sagas cósmicas que vieram depois, incluindo os Guardiões da Galáxia, tiveram seus fundamentos aqui.
Finalmente, é no terceiro filme (2017), que encontram o tom adequado para o personagem. Thor Ragnarok abraça a comédia e a ação. Desta forma, Thor fez o caminho inverso do Homem de Ferro. Enquanto o Iron Man teve um primeiro filme excelente e o terceiro decepcionou, Thor foi mediano na estreia, mas brilhou no final, com um filme colorido, divertido e ainda contando com a participação especial do Hulk e uma vilã bela e badass, a Hela.
Ao longo de toda a timeline do MCU, Thor teve seu arco particular desenvolvido no sentido de torná-lo cada vez mais maduro e humanizado. Já no começo, sendo um deus arrogante e irresponsável, é banido por Odin para a Terra, privado dos poderes e do martelo, vai por meio do altruísmo resgatar o direito à sua condição divina.
Também faz parte de sua jornada de aprendizado os conflitos com o irmão Loki, quando ambos vão aprimorando seus laços e aos poucos a rivalidade se transforma em camaradagem, ainda mais quando ambos testemunham a morte do pai Odin.
Esse drama familiar do personagem acabou se tornando tão importante que os filmes até deixaram de lado o romance que inicialmente tentaram forçar entre Thor e Jane Foster. Obviamente o fato da Natalie Portman ter perdido o interesse em continuar na franquia contribuiu para o esfriamento do romance. Por outro lado, após uma década de sucesso do MCU, Portman voltará, agora como a nova Thor.
A jornada do Thor sempre foi de redenção e reconquista. Por duas vezes ele perdeu o direito ao martelo, que é um símbolo (fálico, diga-se de passagem) de seu poder. Na primeira vez, por rejeição paterna, e na segunda o martelo foi destroçado por Hela, de modo que ele teve de forjar outra arma, o machado stormbreaker que usou para enfrentar o Thanos em Guerra Infinita (2018).
O fato de Thor não ter conseguido deter o Thanos foi sua última recaída e em Vingadores Ultimato (2019) vemos um Thor que desistiu da luta, entregue ao descaso e virando o hilário Fat Thor ou Thor Lebowski, que virou uma fábrica de memes. No fim ele mais uma vez encontra a redenção ao enfrentar novamente o Thanos.
Desta forma, em meio a altos e baixos, caindo e se levantando, Thor se tornou um dos personagens mais poderosos e fodões do MCU.
(02,09,2019)
Thor Ragnarok e 50 tons de verde
Entããão... Primeiro que o ragnarok mesmo ocupa bem pouco do filme. Dez minutos mais ou menos.
Durante uma hora e meia temos o Thor brevemente encontrando e vencendo o demônio Surtur, volta pra Asgard, desmascara Loki que fingia ser Odin, vai procurar o pai na Terra, tem um breve encontro com o Doutor Estranho, presencia a morte de Odin (que sem mais nem menos virou purpurina assim do nada), aí aparece Hela, ela estoura o martelo facinho, Thor e Loki percebem que a bicha é poderosa e fogem pra Asgark pela bifrost, mas ela vai atrás e durante a viagem joga os dois irmãos no mundo paralelo do Grão Mestre onde o Thor vai lutar contra o Hulk pra alegria de todos e conhece uma Valquíria (que é uma valquíria como todas as outras e se chama simplesmente Valquíria), depois fogem todos de volta pra Asgard onde finalmente vão lutar contra Hela que tomou o poder (que de fato era seu de direito, já que é a primogênita de Odin e, você sabe, ali o negócio é monarquia, então ela merecia suceder o pai mesmo).
E aí finalmente, já no finalzinho do filme, rola o tal ragnarok com várias pancadarias, o Thor descobre que pode conjurar raios mesmo sem o martelo (afinal ele é o deus do trovão), mas como a Hela é poderosa as hell, eles precisam de um deus ex machina básico pra resolver a batalha: despertam o demônio Surtur no seu poder máximo e ele explode tudo, mas a galera de Asgard sobrevive, que é o que importa. Vão virar refugiados na Terra ou algo do tipo.
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Por acaso tem algum simbolismo fálico aqui? |
É um filme divertido, dá sua contribuição para montar toda essa fase da grande saga que vai culminar na Guerra Infinita, mas tem uma coisa que já ficou realmente chata nos filmes da Marvel: as piadas. Marvel, pelo amor de Deus, pare de tentar encaixar uma piadinha besta a cada cinco minutos, sempre cortando o ritmo do filme com essas interrupções pra forçar risos aleatórios. O filme fica parecendo o tio do pavê que fica a todo momento tentando soltar uma tirada engraçadonha. Apenas pare, Marvel...
Gostei do capricho com as cores. Desde Doutor Estranho e também em Guardiões da Galáxia 2, a colorização tem sido bem rica, digna de filmes que têm como base revistas em quadrinhos. É legal ver um cenário bonito, cheio de vida e tal. Em Thor Ragnarok, a cor tema é o verde. Pode observar como há verde em toda parte, nas paredes, no chão, nas roupas. Vários tons, do verde escuro ao turquesa. Tem, claro, o Hulkzão que é verde, mas também a Hela usa uma armadura verde escura, etc.
E a Hela. Aaah a Hela. Que mulherão! Deusa gótica do inferno e do meu coração. É oficialmente a vilã mais charmosa do MCU.
(02,01,2019)
A trilogia Capitão América
Enquanto a trilogia do Iron Man foi mais sci-fi, a do Thor mais fantasia e a do Hulk... bom, o Hulk nem teve trilogia, os filmes do Capitão, o portador do belo e malhado America's ass, seguiram um gênero mais de ação pura, com muito tiro, porrada e bomba. E fizeram isso muito bem.
O primeiro filme é intitulado O Primeiro Vingador (2011). Curiosamente, foi o último filme solo da primeira fase do MCU. Iron Man, Thor e Hulk já haviam sido apresentados, bem como a Viúva Negra e o Gavião Arqueiro e agora só faltava o Capitão. É uma história típica de guerra, com um soldado valoroso, Steve Rogers, que se destaca pela bravura e altruísmo dignos de um herói. Uma frase ficou marcada como o verdadeiro tema desse personagem: "I can do this all day", indicando seu caráter persistente e incansável.
O segundo filme, chamado O Soldado Invernal (2014) foi dirigido pelos irmãos Anthony e Joe Russo que então se tornaram uma presença importante no MCU (depois também dirigiriam o Guerra Civil, Guerra Infinita e Ultimato). Os Russo conseguiram fazer uma peça de ação bem no estilo clássico, dependendo bastante de cenas de luta e do esforço físico dos atores e dublês que estão sempre correndo, saltando, trocando socos e tiros. O resultado foi bastante satisfatório, além de ser inserido um novo e interessante personagem, o Soldado Invernal, com seu jeitão calado e frio e um braço metálico bem cool.
Esse filme, mais que o primeiro ou mesmo o terceiro, deixou bem claro o potencial do Capitão, um verdadeiro lutador, com habilidades sobre humanas, capaz de sozinho derrubar uma nave com suas piruetas e seu escudo. É uma espécie de Van Damme super anabolizado.
E como se não bastasse o sucesso do Soldado Invernal, conseguiram fazer uma terceira obra que manteve o alto padrão do personagem. O Guerra Civil (2016) foi o maior crossover já feito em um filme de personagem solo do MCU. É praticamente uma espécie de Vingadores (inclusive poderia ocupar o lugar daquele Vingadores 2 que não deu muito certo).
O Guerra Civil não foi, claro, tããão grandioso quanto a saga homônima dos quadrinhos, mas não deixou de ser interessante ao brincar com a clássica fórmula de colocar os super heróis brigando entre si. A gente até esquece quem são os vilões (aquele tal de Ossos Cruzados e o outro Zemo alguma coisa).
Além dos personagens já comuns ao universo do Capitão, como a Viúva Negra, Gavião Arqueiro, Soldado Invernal e o Falcão, entram na fórmula o Homem de Ferro e seu colega War Machine; Visão e a Feiticeira Escarlate, que já haviam sido introduzidos no MCU pelo Vingadores 2; o cômico Homem Formiga, que já teve seu filme solo; o Pantera Negra, que depois também teria seu filme; e pela primeira vez nós vimos o novo Homem Aranha, interpretado por Tom Holland.
A aparição do Aranha foi a cereja do bolo e sua aceitação foi excelente, criando a hype para seu filme solo que viria depois.
(05,09,2019)
Guardiões da Galáxia 1 e 2
O filme dos Guardiões da Galáxia foi a primeira grande surpresa do MCU. Até então, os filmes adotaram a fórmula da familiaridade: tinham personagens razoavelmente conhecidos pelo público em geral (Homem de Ferro, Hulk, Thor, Capitão América) e apostaram em algumas celebridades no elenco (Robert Downey Jr., Samuel L. Jackson, Natalie Portman, Edward Norton, Anthony Hopkins, etc.).
Guardiões veio com uma equipe de personagens que as pessoas nunca ouviram falar e um elenco não tão conhecido. Os mais famosos, como Vin Diesel e Bradley Cooper, eram apenas dubladores. O que parecia ser um filme de padrão indie acabou se mostrando um blockbuster.
Também foi o primeiro filme do MCU com protagonistas totalmente feitos de animação computadorizada (antes já tinha o Hulk, mas ele era em parte CGI, em parte um ator real), no caso o Rocket e Groot. Esta dupla contribuiu para aumentar a disneyzação da Marvel, acrescentando esse elemento de fábula, com um animal e uma planta falantes.
Mas a fórmula que fez os Guardiões serem tão queridos vai além do uso de pets. O humor foi muito bem administrado, com situações cômicas e punchlines em abundância, mas sem parecer forçado (como aconteceu com vários outros filmes do MCU). O diretor e roteirista, James Gunn, soube administrar o humor.
Outra surpresa agradável foi a ambientação. Pela primeira vez o MCU tinha um filme cósmico, uma saga espacial e muito bem desenhada. Os cenários são belos, cheios de cores e fantasia, uma homenagem aos clássicos dos quadrinhos da Marvel desenhados por Jack Kirby.
Por fim, a cereja do bolo nessa "fórmula James Gunn" foi a trilha sonora. Com animadas e saudosas músicas do tempo da fita K-7, a peça ganhou um clima nostálgico e agradável. O resultado de toda essa alquimia foi uma bilheteria de 700 milhões de dólares, quase 1 bilhão por um filme de uma equipe que até então ninguém conhecia e que depois disso entrou instantaneamente na galeria de personagens da cultura pop.
Todavia, Guardiões da Galáxia não foi apenas divertido e engraçado. Ele deu uma grande contribuição para ampliar toda a mitologia do universo da Marvel no cinema, explorando seus aspectos cósmicos, mostrando mundos além da Terra, civilizações como os kree, a Corporação Nova e desenvolvendo a história das joias do infinito, preparando caminho para a saga de Thanos.
O final forçou demais a barra, além de ser meio piegas aquele negócio do grupo dar as mãos para suportar a joia do infinito. Por outro lado, essa cena serviu pra estabelecer o fato de que a joia é muito poderosa para ser usada por qualquer mortal e só alguém muito forte seria capaz disso, no caso, Thanos. Depois veríamos que até o Hulk teve dificuldade em manipular as joias.
A sequência em 2017 pôde se dar ao luxo de incluir grandes figuras no elenco, como Stallone e Kurt Russell, manteve toda a fórmula da música + humor e ampliou a psicodelia das cores e dos belos cenários cósmicos, além de incluir um personagem literalmente grandioso, Ego, o planeta que é um ser vivo e consciente. Também deu um vislumbre de uma das mais importantes criaturas das histórias cósmicas da Marvel: o Vigia.
Também foi apresentado o Enclave, uma civilização cientificamente avançada feita de umas pessoas douradas, e ali vimos de relance a presença de Adam Warlock, o que criou falsas expectativas quanto ao futuro do MCU, já que nos quadrinhos Warlock é o grande adversário de Thanos, mas ele não apareceu nem no Guerra Infinita nem no Ultimato.
(06,09,2019)
A magia e psicodelia de Doctor Strange
Uma das qualidades do MCU, esse complexo universo cinematográfico elaborado pela Marvel, é a existência de vários mundos, vários ambientes temáticos. Temos os planetas alienígenas, o mundo subatômico, Wakanda e até a civilização lunar dos Inumanos.
O Doctor Strange (2016) veio para inaugurar o universo místico da Marvel e fez isso num verdadeiro show de psicodelia. Todos os filmes do MCU recorreram abundantemente aos efeitos especiais, mas nenhum fez isto com uma estética tão surreal quanto Doctor Strange.
Explorando a ideia de que existem múltiplas dimensões e que podem ser acessadas por meio da magia, o filme enche nossos olhos com cenas de viagens interdimensionais e alteração da realidade. Desde os primeiros trailers, o público logo notou certa semelhança com Inception (2010), particularmente aquela cena em que Ariadne entorta uma cidade no mundo do sonho. Em Doctor Strange, esse efeito é levado a outro nível e é criado um caleidoscópio gigante com as ruas e edifícios de Nova Iorque.
Há ainda mais psicodelia quando o Doutor é levado a experimentar uma viagem astral e então temos uma cena que parece um live action dos momentos mais transcendentais de Rick and Morty, com um show de cores e formas e fractais.
O Doutor Estranho se tornou uma das peças fundamentais para a grande saga que viria, a Guerra Infinita, e em seu filme solo já ficou claro que é um dos mais poderosos personagens do MCU. Na verdade eu diria até que ele É o mais poderoso, até mesmo superando a Capitã Marvel.
O médico Stephen Strange teve uma evolução muito rápida de homem comum e cético para mago poderoso. Em poucos anos de aprendizado ele já foi capaz de manipular uma joia do infinito, o Olho de Agamoto, e enfrentou uma criatura interdimensional, Dormammu.
É curioso que o vilão da grande saga dos Vingadores, Thanos, representava uma ameaça para o universo e foi preciso um esforço gigantesco de toda a equipe para detê-lo, enquanto o vilão que Strange enfrentou era um ser que vinha destruindo vários universos do multiverso, logo, ele era muitíssimo mais poderoso e perigoso que o Thanos, e Strange o enfrentou sozinho.
Além de dar forma ao universo mágico do MCU, o filme do Doutor Estranho também abriu espaço para algo que ainda está em desenvolvimento para as próximas fases: o multiverso. Não à toa, o próximo filme do mago vai se chamar Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (2022).
(02,05,2020)
Ant-Man 1 e 2
O primeiro filme do Homem-Formiga (2015) foi uma grande surpresa, semelhante a Deadpool. Enquanto a Marvel vinha dando as cartas há quase uma década com filmes mais ou menos todos parecidos (a fórmula Marvel), Ant-Man veio com uma proposta diferente, bem mais exagerada e infantil, algo estilo Querida, Encolhi as Crianças. E deu muito certo.
Pegaram um personagem pouco conhecido do grande público e exploraram seus poderes de maneira criativa, inteligente, cômica (como a memorável luta do herói e do vilão encolhidos em meio aos brinquedos de um quarto de criança). Foram além e apresentaram o mundo quântico, uma ideia surreal, ao estilo do Doutor Estranho, e ampliando o universo da Marvel no cinema.
A segunda aparição do personagem foi no Guerra Civil (2016) e também foi bem aproveitado. Então vem Homem-Formiga e a Vespa (2018) que foi bem fraquinho. O filme tem duas horas e a primeira hora não tem nada de interessante. É uma série de eventos tediosos (compare-se, por exemplo, com Deadpool 2 que já começa em plena ação e segue desenvolvendo a história em uma cena interessante após outra, sem dar espaço pro tédio).
A coisa só começa a ter alguma graça após a primeira hora com algumas cenas de perseguição, o Homem-Formiga usando um caminhão como patinete e a breve cena da formiga apelidada de Ant-onio Banderas, (um trocadilho bem apropriado). Pra mim foi a melhor piada. As piadinhas constantes são todas fracas, pra não dizer sem graça, e só quem salva o humor é o Michael Peña que, assim como no primeiro filme, faz aquela coisa de narrar uma história num estilo brainstorm muito legal.
A produção não economizou no elenco. Teve Michael Douglas, Michelle Pfeifer, Laurence Fishburne, Evangeline Lilly, Judy Greer, mas nenhuma dessas figuras foi bem aproveitada. Também o mundo quântico foi pouco explorado. Era a oportunidade para expandir esse universo das coisas pequenas, mas gastaram tempo demais numa trama insossa.
Uma coisa que cismei foi com as lutas corporais, algo que começou no primeiro filme e no segundo usaram à exaustão. Os caras têm o poder de mudar de tamanho e nas lutas não aproveitam isso de formas criativas. Tudo se resume a bater, chutar, encolher pra esquivar, crescer, bater, chutar.
Enfim, teve uma coisinha que valeu a pena que foi a última cena, porque fez o link com Guerra Infinita, seguindo a tradição do MCU. Esse finalzinho deixou uma bela ponta solta para os filmes que virão em seguida e quem sabe o Homem-Formiga tenha uma importância crucial na resolução do problema deixado por Thanos.
(12,11,2018)
Capitã Marvel, a arma secreta dos Vingadores
Sejamos honestos: o melhor do filme da Capitã Marvel (2019) é o gato e depois do gato o Samuel L. Jackson e a interação dele com o gato. Tudo o mais é pouco memorável.
O personagem do Jude Law, que deveria ser uma figura paternal ou um mentor, não parece convencer na sua importância na vida da Capitã. A personagem da Annette Bening, a Dra. Lawson, deveria ser a figura materna, mas também não parece haver química entre ela e a Carol Danvers.
Quanto à Capitã Marvel, ela é ok, só lhe faltou tempo para desenvolvimento. A ideia é que ela seja a arma secreta da iniciativa Vingadores, o Ás na Manga que o Nick Fury só pode sacar em situações que os outros heróis não podem resolver. A forma, porém, como essa arma secreta foi preparada e apresentada é bem prematura e sem substância.
Enquanto Iron Man, Thor e Capitão América tiveram suas trilogias para desenvolverem um bem construído arco heroico, e Hulk, Gavião e Viúva Negra, mesmo não tendo filmes solo (o Hulk até teve aquele do Edward Norton, mas nem conta muito), tiveram bastante participação ao longo do MCU para solidificarem sua presença, a Capitã teve que evoluir às pressas ao longo de seu único filme a fim de ficar pronta para participar do Vingadores Ultimato (2019).
Enfim, a personagem chegou atrasada na festa e não teve tempo de se arrumar. Sua história de origem é assim contada apressadamente e sem dar tempo para nos apegarmos a ela ou ninguém à sua volta. E quem acaba ganhando mais carinho do público é justamente o personagem que já tinha um arco bem construído no MCU, o Nick Fury, que vem com o carisma do Samuel L. Jackson.
Assim, como um bônus, além de termos a Capitã Marvel introduzida no MCU, temos a última peça que faltava no quebra-cabeças da biografia do Nick Fury: o seu início de carreira. Não só dele, mas também do Agent Coulson, que, convenhamos, é o personagem/ator que mais trabalhou em todos estes dez anos de MCU. Coulson esteve nesse universo desde o comecinho, desde o primeiro filme do Iron Man (2008) e ao longo da longa série dos Agents of SHIELD (2013-2020).
A cereja do bolo é o mascote felino, o gato alienígena Gonzo, que protagoniza um dos maiores spoilers de todo o MCU. E aqui vai o spoiler: foi ele quem feriu o olho do Nick Fury, dando ao chefão dos Vingadores seu clássico visual com tapa-olho.
Por fim, o filme é também importante ao MCU por introduzir a raça alienígena dos skrulls, que possivelmente terão importante participação nas futuras sagas. É bem provável, por exemplo, que, depois de Guerra Infinita, a próxima grande saga será Invasão Secreta, tendo os skrulls como os grandes vilões.
(18,12,2019)
As séries animadas do MCU
O universo compartilhado de animações
Algumas das animações da Marvel ao longo desta década surgiram motivadas pelo sucesso do MCU no cinema e de certa forma podem ser chamadas de "animações do MCU", mas é bom lembrar que não existe de fato uma interligação entre estes desenhos e os filmes.
Afinal, os filmes se passam no universo chamado Earth-199999 e as animações que aqui vamos listar acontecem no universo compartilhado Earth-12041. São quatro séries: Ultimate Spider-Man (2012-2017), Avengers Assemble (2013-2019), Hulk and the Agents of S.M.A.S.H. (2013-2015) e Guardians of the Galaxy (2015-2018).
Os crossovers entre os personagens destas séries são frequentes. Vemos Vingadores na série do Aranha, Guardiões da Galáxia nos Vingadores, etc. Também há diversos vilões aparecendo ora em uma ora em outra série, como Thanos, Galactus, Loki, Dotor Destino, Beyonder, Modok, Drácula (sim, o Drácula) e Ultron.
O Thanos, aliás, chega a ser possuído pelo Carnificina na terceira temporada dos Guardiões. Na verdade, Thanos é tão poderoso que ele não fica sob controle do simbionte, ao contrário, utiliza-o como um instrumento para ficar mais forte.
Além destes há muuuitos outros. Realmente não economizam nos personagens. Temos Spider-Girl, Spider-Man Noir, Spider-Man 2099, She-Hulk, Ms. Marvel, Hulk Vermelho, Surfista Prateado, Adam Warlock, Deadpool, Quarteto Fantástico, Novos Guerreiros, asgardianos, olimpianos, alguns X-Men e até figuras pitorescas como o Porco Aranha (Spider-Ham) e Howard o Pato.
As animações da Lego
Lego Marvel Super Heroes: Maximum Overload (2013), é feito de cinco episódios curtinhos e parece inspirado na saga Atos de Vingança, dos quadrinhos, pois vemos o vilão Loki manipulando outros vilões para atacarem os heróis.
Lego Marvel Super Heroes: Avengers Reassembled (2015) é uma história de episódio único de 22 minutos em que os Vingadores enfrentam Ultron.
Tem ainda outras que nem cheguei a assistir: Lego Marvel Super Heroes: Black Panther (2018), Lego Marvel Spider-Man: Vexed by Venom (2019) e uma série Lego Spider-Man (2017-2019) com 41 episódios.
(03,10,2019)
A SAGA DO MULTIVERSO (fases 4-6)
Fase 4
A Fase Quatro começou com a Viúva Negra (2021), um filme tardio para ela que esteve nos Vingadores desde a Fase Um e nunca ganhara um filme solo. De toda forma, antes tarde do que nunca. Ela enfim ganhou um longa de origem que é basicamente um filme Sessão da Tarde com um bocado de cenas de ação.
Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis (2021) é o que o título sugere: um filme genérico de fantasia chinesa, com criaturas míticas e personagens lutando artes marciais. No final dos créditos aparece a promessa de uma continuação, mas já se passaram quatro anos e nem sombra de uma sequência, sem contar que o próprio Shang-Chi também ficou bem apagado ao longo destes anos, um exemplo de como a Marvel desandou a partir da Fase Quarto.
O filme não é de todo ruim e a batalha final com direito a dragões gigantes lutando ficou realmente épica e com CGI decente, mas é só isso. A história é esquecível, o personagem é esquecível. A escolha dele foi bem inusitada, já que após Ultimato havia uma expectativa de um novo ciclo de filmes com personagens importantes da Marvel, e não um desconhecido como o Shang-Chi. Talvez o fenômeno Guardiões da Galáxia tenho feito os caras da Marvel acreditarem que era possível pegar qualquer personagem desconhecido e transformar em um ícone da cultura pop.
Também no mesmo ano veio Eternals (2021). Os Eternos são uma criação do aclamado Jack Kirby, um autor que é conhecido pela dimensão cósmica que dava às histórias e personagens. Eles são seres com poderes divinos, criados pelos Celestiais e o filme poderia ser grandioso e cósmico. Em vez disso, porém, a forma como foram abordados os faz parecer mais humanos e com poderes reduzidos. Não parecem convincentes em termos do poder. Parecem super heróis comuns que podem facilmente levar uma surra de qualquer membro dos Vingadores.
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A cena do celestial petrificado foi certamente o melhor momento do filme. |
Para acentuar ainda mais essa humanização dos Eternos, temos a personagem Makkari que, diferente dos quadrinhos, é surda (também alteraram o gênero, uma vez que nos quadrinhos Makkari é masculino). Isto abala a suspensão de descrença, pois como é possível que um Eterno seja surdo, um ser com poderes divinos, praticamente imortal, que nunca adoece? O único propósito dessa mudança foi a pauta da representatividade, tanto que escalaram uma atriz surda para o papel. Ora, podiam ter feito isto com algum personagem humano da história, mas um Eterno surdo é algo pouco convincente.
A série WandaVision (2021) foi certamente o melhor conteúdo da Marvel em 2021. Sofrendo o luto pela morte do Visão logo após Infinity War (2018), Wanda usa seu poder de alteração da realidade para transformar uma cidadezinha em seu próprio mundinho particular, a princípio ambientado nos anos 50, como se fosse uma sitcom. Ali ela recria o Visão e até gera dois filhos, tendo uma vida feliz, ao menos por um tempo, até que este mundo de mentiras que ela criou começa a desmoronar.
A série então dá mais profundidade à ex-vingadora, de modo que conhecemos sua infância e juventude sofrida, como ela desenvolveu seus poderes e como viveu marcada pela tragédia da perda. Perdeu os pais tragicamente, depois o irmão, Pietro (que teve aquela morte patética em Age of Ultron - 2015) e por fim o seu grande amor, Visão.
Todos estes traumas quebraram a psiquê dela de uma forma que extravasaram na criação do mundo mágico, onde ela ficou basicamente brincando de The Sims, vivendo uma realidade simulada e que seria até compreensível, pois ela apenas queria escapismo para lidar com as perdas. Só que tem um problema. Nessa magia ela aprisionou as pessoas que viviam naquela cidadezinha, literalmente escravizando-as sob um controle mental, como que transformando todos em NPCs, vivendo para representar papéis naquela farsa.
Pois é, Wanda não é nada equilibrada e nada do que ela fez ali é justificado. O bizarro é que uma das pessoas que estavam investigando o fenômeno, a Monica Rambeau, demonstra sempre uma empatia estúpida pela Wanda, como que querendo justificar suas motivações, porque ela fez tudo aquilo por "amor" ao Visão e aos filhos.
Ora, que amor é esse? Ela criou uma simulação do Visão e simplesmente o colocou ali naquele mundo como mais um de seus NPCs. Ele era escravo dela tanto quanto os outros. Tanto que em certo momento ele até tenta fugir da cidade, mas a magia não permite que ele saia vivo daquele domo (ou melhor, hexágono) que cobria a região.
Para piorar esse cenário de injustiça e julgamentos éticos errados, no final, mesmo depois de ter escravizado toda uma cidade, a S.W.O.R.D., que vinha investigando o caso, simplesmente fez vista grossa para a Wanda quando a cidade voltou ao "normal". Ninguém a abordou, a Monica ainda dirigiu a ela palavras motivadoras do tipo "ah eu faria o mesmo", e a Wanda saiu voando pra ir morar numa cabana isolada. Ela devia ser presa pelo sequestro e escravidão daquelas pessoas.
Algo que não estava nos planos da Wanda foi a bruxa Agatha, que viveu ali naquela cidade fingindo ser um dos NPCs, mas que na verdade estava interessada nos poderes da Wanda. Foi ela que explicou que aquele poder é algo raro e constitui uma entidade mítica chamada Feiticeira Escarlate.
Wanda nunca estudou magia, apenas manifestava seus poderes intuitivamente, enquanto Agatha era uma verdadeira iniciada, experiente e instruída na arte mágica. Ela queria que Wanda lhe entregasse todo o poder e convenhamos que a Agatha faria melhor uso deles, pois não era desequilibrada como a Wanda. Esse desequilíbrio inclusive alcançará seu auge no filme do Doutor Estranho que vem a seguir.
A despeito dos erros bárbaros da Wanda, a relação dela com o Visão é algo a se pensar. O primeiro romance dela com o Visão original era simplesmente a relação afetiva de uma humana com um robô, não um robô qualquer, mas uma inteligência artificial consciente. Será a IA algum dia capaz de desenvolver sentimentos genuínos?
O que é um sentimento genuíno? Nem nós sabemos responder isto com precisão, pois existem muitos fatores internos e externos, hormonais, culturais. Nossos sentimentos não estão totalmente sob nosso controle, então como saber se um sentimento é "genuíno" ou apenas uma simulação induzida por algo? Ora, ao ouvir uma música, podemos nos emocionar com a história contada na letra, mesmo que não seja real, mesmo que não seja a nossa história. A música nos induz a produzir certas emoções. Por serem induzidas, basicamente simuladas, não serão genuínas?
Pensando nisso, parece que nossos sentimentos não se diferem muito de algo programado. Além disso, nem mesmo é preciso ter uma consciência bem desenvolvida para ter sentimentos. Mesmo ratos sentem afetos. Se ratos podem sentir, por que não uma inteligência artificial? Visão é como a Joi de Blade Runner, ou mesmo os replicantes. Embora programado, criado pela inventividade humana, ele desenvolveu sentimentos próprios. Esta é a realidade anímica do universo.
O animismo se torna ainda mais profundo no caso do Visão simulado pela Wanda. Ele não era um robô com sua I.A. super evoluída. Ele era um construto fruto das memórias de Wanda, algo parecido com aqueles construtos do filme Solaris (1972), que eram moldados com base nos fragmentos de memórias de uma pessoa real.
Nossa mente cria seres. A cada recordação, nossa memória cria pessoas imaginárias em nossa mente, simulando aquelas pessoas de carne e osso que conhecemos. Nos sonhos, simulamos até pessoas que nunca conhecemos na vida "real". Estas pessoas são e não são reais. Os sentimentos delas existem, ainda que simulados, e mal sabemos quão independentes são de nossa própria vontade. Mas estou devaneando pelos labirintos anímicos.
Em Spider-Man: No Way Home (2021), o Aranha do Tom Holland completa uma trilogia e finalmente temos a abertura do multiverso, proporcionando um dos maiores fan services do MCU, senão o maior: um crossover dos três aranhas (Tobey Maguire, Andrew Garfield e Tom Holland), sem contar o retorno dos antigos vilões: Dr. Octopus, Electro, Homem-Areia e até o inesquecível Duende Verde do Willem Dafoe.
O Doutor Estranho tem um importante papel em toda a trama, afinal é ele quem acaba abrindo o acesso ao multiverso como efeito colateral após o Peter pedir que ele fizesse uma magia para que o público esquecesse sua identidade. Toda a confusão só acontece por culpa da imaturidade do Peter e o filme inteiro se trata dele tentando consertar essa bagunça que ele mesmo causou. De toda forma, graças a essa confusão é que fomos presenteados com todo o fan service.
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (2022) é mais um filme da Wanda do que do Doutor Estranho propriamente. É uma direta continuação de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa e da série WandaVision, concluindo o arco de queda e redenção da personagem. Seus traumas e luto a fizeram desenvolver esse "amor" possessivo e narcisista pelos filhos, que é ainda mais distorcido quando ela conhece o livro mágico proibido Darkhold (inclusive ela só tomou conhecimento deste livro por meio da Agatha, que imprudentemente expôs essa informação tão valiosa e perigosa).
Agora no auge da loucura e do poder, Wanda persegue a America Chavez, uma garota que tem o poder de viajar pelo multiverso. Basicamente o plano da Wanda é fazer como o Rick fez na animação Rick and Morty: viajar para um universo alternativo e tomar o lugar da Wanda de lá, passando a adotar os filhos dela. Uma ideia bem macabra e que mostra como esse seu "amor" pelos filhos é deturpado.
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A morte mais ridícula do MCU. |
Então se desenrola uma espécie de filme de terror slasher com a Wanda perseguindo a America e eliminando todos no caminho. É assim que chegamos à grande decepção desse longa, quando Wanda se depara com o grupo Illuminati da Terra 838 e eles são ridicularmente vencidos. O Black Bolt tem aquela morte patética em que a Wanda remove sua boa e ele explode a própria cabeça ao tentar falar (seguindo a lógica do poder dele, acho que faria mais sentido se a onda sonora rasgasse a pele que cobria sua boca, mas enfim).
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O homem mais burro do universo. |
O Senhor Fantástico é o pior de todos. Considerado o ser humano mais inteligente, ele comete a estupidez de revelar o poder do Black Bolt para a Wanda logo no primeiro encontro, de modo que ela facilmente o neutraliza.
Além disso tivemos uma homenagem ao Patrick Stewart, que retornou como o Charles Xavier, apenas para ser facilmente morto. Ok, ele é uma versão alternativa da Terra 838, mas mesmo assim foi humilhado, bem como todos os Illuminati.
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O momento catártico. |
Tirando esta parte dos Illuminati, o filme na verdade vai bem e consegue encerrar o arco da Wanda de uma forma catártica e convincente, quando ela se depara com uma versão sua e seus filhos e enfim se dá conta de que sua ideia de roubar os filhos dos outros não tem nada de amoroso. Ela enfim aceita o fato de que em outros universos existem Wandas cuidando de seus filhos e a ela coube resignar-se, sacrificando-se (aparentemente) para destruir o Darkhold.
Visualmente, o longa é fantástico, um show de efeitos especiais, como era de se esperar de um filme do Doutor Estranho. Não à toa o orçamento foi um dos mais caros do MCU, custando cerca de 415 milhões. Em retorno, a bilheteria arrecadou 955 milhões.
Nos primeiros cinco minutos de Thor: Amor e Trovão (2022) já criamos empatia pela tragédia de Gorr. O Christian Bale entrega um personagem denso e sofrido, mas aí logo depois o drama é quebrado pela galhofa, afinal é Marvel, é Taika Waititi, e tudo tem que terminar em piadoca.
E esse é o ritmo do filme todo, misturando alguns momentos de drama (pois além da saga de tragédia e vingança de Gorr contra todos os deuses, também temos a Jane Foster lidando com o câncer) e muita comédia aleatória, a maioria sem graça mesmo, ou feita para crianças, mas confesso que as cabras que ficam gritando sempre são engraçadas quando aparecem.
Waititi em parte se baseou nas HQs de Jason Aaron, escritor do título Mighty Thor, onde Jane Foster recebe os poderes do Mjölnir. Além disso, Aaron também é o criador de Gorr, que se tornou o vilão do filme. No final, Thor compartilha seu poder com um monte de crianças que viram "thorzinhos" e ajudam na luta contra o Gorr. Claramente a intenção desse filme era se aproximar mais do público infantil.
O longa não é de todo ruim e continua expandindo a história de Thor, o vingador com mais filmes em todo o MCU, mas o excesso de galhofa foi bem desnecessário. Zeus, por exemplo, interpretado por Russell Crowe, é um velho fanfarrão e barrigudo. Pelo menos na cena pós créditos (já nem dá pra chamar de spoiler a essa altura), somos apresentador a mais um grande personagem desse núcleo mitológico dos quadrinhos: Hércules.
Pantera Negra: Wakanda Para Sempre (2022) tem muita falação e pouca ação e a maioria das cenas com os atlantes se passam convenientemente à noite ou no escuro ambiente submarino (ok, o fundo do mar é escuro mesmo, mas os filmes do Aquaman mostraram que é possível retratar este cenário de uma forma mais visível e deslumbrante), de modo que toda essa escuridão parece ser uma forma de economizar nos efeitos especiais, nas texturas e maquiagem dos atlantes.
O lamentável falecimento do Chadwick Boseman influenciou muito o roteiro deste filme que teve de ser adaptado para uma realidade sem o Pantera Negra. Aí temos o Namor. Nos quadrinhos, Namor é oficialmente considerado o primeiro mutante. Ele é tão antigo quanto o Superman e obviamente inspirado no mito clássico de Atlântida.
No filme resolveram recriar a mitologia do personagem, transformando ele num ameríndio e até o nome dele ganhou um significado latino: Namor veio de "niño sin amor", o que soa meio ridículo, convenhamos. Além disso, o físico do ator Tenoch Huerta não parece convencer que esse Namor seja tão forte quanto o Thor ou o Hulk, como é nos quadrinhos. A gota d'água (badumtss) é que removeram a personalidade arrogante e escrota do Namor dos quadrinhos, deixando essa versão mais nobre, alguém que só quer defender seu povo, etc.
Além de WandaVision, a Fase Quatro produziu uma grande safra de séries, ou melhor, minisséries. Parece que a ideia era lançar um grande número de títulos para engordar o catálogo da recém criada Disney Plus. Para atrair e manter um público, além de concorrer com a Netflix, a Disney precisava de conteúdo original e a Marvel, assim como a franquia Star Wars, se tornaram a principal fonte deste material.
Falcão e o Soldado Invernal (2021) já começa com uma bela cena de ação, com o Falcão voando pelo céu e perseguindo aviões e helicópteros. É uma cena de qualidade, nível cinema, mas não é algo que se vê muito ao longo da série que tem uma proposta mais urbana e seguindo o modelo de "dois policiais", uma espécie de subgênero da ação, tipo a franquia Máquina Mortífera, a série Suits, etc. Inclusive a série dos Lanternas no DCU vai seguir o mesmo modelo.
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Johh Walker é nomeado temporariamente o novo Capitão, baseado no Agente Americano das HQs. |
A trama é pouco relevante no escopo do MCU. Os dois combatem um grupo terrorista qualquer. Afinal o que importa na série é o desenvolvimento da relação de amizade e a busca de uma forma de lidar com o legado do Capitão América, simbolizado em seu escudo. A série é de fato um spin-off do Capitão América, um duplo spin-off, já que tanto Bucky quanto Sam Wilson foram sidekicks do Capitão. Também há um retorno do vilão Zemo, que agora age como um aliado temporário da dupla.
Loki (2021-2023) teve sua primeira temporada na Fase Quatro do MCU e retornou com uma segunda temporada na Fase Cinco. A série expandiu o conceito do multiverso, apresentando uma instituição cósmica, a TVA (Time Variance Authority) que é extremamente burocrática e também tirânica, manipulando os eventos do universo para evitar que se ramifique em um multiverso. Este universo restrito é chamado de Linha do Tempo Sagrada.
A série também introduziu conceitos como o evento nexus e o Void, um "lugar" no fim dos tempos para onde são enviadas as variantes não desejáveis no universo. Lá existe uma criatura, Alioth, que se encarrega de devorar e aniquilar completamente estes rejeitados. O filme Deadpool & Wolverine (2024) aproveitou bastante estes conceitos, inclusive usando o Void como um local para trazer de volta antigos personagens de filmes da Marvel.
Sendo essencialmente narcisista e individualista, pareceu bem apropriado Loki apaixonar-se por uma versão sua do multiverso, a Sylvie. Esta personagem foi criada exclusivamente para a série a fim de enriquecer o arco do Loki no MCU. Ela não exatamente existe nos quadrinhos, mas é parcialmente inspirada na Lady Loki e na segunda versão da Enchantress nos quadrinhos, a Sylvie Lushton.
A princípio cômica, a trama vai evoluindo, escalando, a ponto de Loki se ver envolvido em uma saga para salvar todo o multiverso. Nesta série ele se torna nada menos que o personagem mais importante de todo o MCU, pois após inúmeras tentativas, indo e voltando no tempo, errando de novo e de novo, aprendendo, desvendando o mistério dessa máquina cósmica e suas ramificações, ele alcança um nível realmente divino, sacrificando o seu ego, o seu bem mais precioso, a fim de resetar o multiverso, tornando-se seu pilar principal.
Pois é, a coisa é épica nesse nível. Loki se torna uma espécie de deus do multiverso. Como na saga de Logos e Sofia, Loki e Sylvie vivenciam uma jornada de queda e ascensão, até que ele ocupa literalmente o trono do multiverso numa cena grandiosa.
Desde o início Loki era no MCU o vilão/anti herói mais caótico e neutro. Ele vivia apenas para si, para sua ambição de tornar-se rei. Ele não tinha uma causa fanática como Thanos e mudava de lado quando era conveniente. Na série esse ser egocêntrico e até patético vai passando por um processo de verdadeira transcendência, primeiro descobrindo sua humanidade e depois sua divindade, mas não mais como o deus da trapaça e sim o mantenedor da vida e da ordem em todo o multiverso.
Pois é, pelo visto Loki não retornará mais ao MCU, não como vilão ou para atividades ordinárias. Agora ele está ocupado no papel mais fundamental do multiverso, pois é ele que mantém tudo existindo sem colapsar, como uma espécie de Atlas, sustentando o mundo em suas costas, ou como uma Árvore da Vida cósmica.
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A Árvore da Vida do multiverso. |
O simbolismo místico deste papel que Loki passou a ocupar chega a ser irônico, já que ele, na mitologia nórdica, é o deus da destruição, destinado a presenciar o Ragnarök, enquanto no final da série ele se torna o deus da criação e da vida.
Além do próprio Tom Hiddleston ter encarnado com maestria essa jornada, o Owen Wilson, um ator geralmente de comédia, também mostrou seu talento para o drama. Vale também elogiar a trilha sonora épica composta por Natalie Holt.
Em 1963 Stan Lee e Jack Kirby criaram uma das espécies cósmicas mais importantes do universo Marvel, os Vigias. O Vigia da Terra é Uatu, encarregado de apenas observar a história humana, mas que vez ou outra quebrou seu juramento. Ele chegou até a ganhar uma série em quadrinhos intitulada What I?, que teve vários volumes ao longo das décadas, começando em 1977 e já chegou ao décimo quarto volume em 2022. Cada volume consiste em diversas histórias num estilo antológico, explorando realidades alternativas do multiverso.
Aqueles que conheceram melhor o mundo da Marvel apenas no cinema geralmente não sabem que o multiverso não é uma invenção recente dos filmes e já existia nos primórdios dos quadrinhos. Versões alternativas de personagens e suas histórias existem aos montes.
As histórias são as mais loucas e grandiosas, como um universo em que os Vingadores viraram zumbis (ideia que veio também dos quadrinhos), Ultron se tornou tão poderoso que quase destruiu o multiverso e o Doutor Estranho se tornou o mago supremo do multiverso. É tudo tão grandioso e épico que acaba caindo no problema da "Dragon Ballização", ou seja, personagens vão ficando mais e mais poderosos até níveis absurdos, o que acaba banalizando todo esse poder.
Hawkeye (2021) veio com a mesma fórmula da série do Falcão e também Loki, focada em uma dupla de personagens, só que aqui desenvolve-se mais uma relação de mentor e discípula, com o Hawkeye, a princípio relutante, aceitando a Kate Bishop como aprendiz.
Acho que a química da dupla deu certo, um contraste de gerações explorado de forma cômica. Além disso a Kate não veio como uma Mary Sue, passando por um processo de aprendizado, demonstrando admiração e respeito pelo mentor.
O Hawkeye sempre foi o personagem mais subestimado dos Vingadores, o mais fraco de fato, mas com uma verdadeira habilidade com o arco e um kit de flechas com efeitos diversos que foi muito bem explorado na série. Tem flecha de todo tipo, para todas as ocasiões. Detalhe também que a série teve a participação especial do Vincent D'Onofrio como Rei do Crime, que é um dos vilões mais carismáticos de todo o MCU.
Moon Knight (2022) é a primeira série da Fase Quatro que se dedica a um personagem inédito no MCU. A princípio não é tecida nenhuma relação relevante com o MCU, mas o objetivo da série é apresentar o personagem, trazer sua história de origem, para futuramente trazê-lo de volta em crossovers.
É um personagem interessante. Alguns diriam que nos quadrinhos ele é uma espécie de versão mística do Batman. Além de ter sua existência relacionada à mitologia egípcia, o humano que encarna a entidade mística, Marc Spector, possui um transtorno dissociativo que cria situações complicadas na vida dele. Ele literalmente vive no limiar da loucura.
Depois de Moon Knight, veio outra série com personagem inédita, Ms. Marvel (2022), apresentando a garota Kamala Khan e suas primeiras experiências ao desenvolver superpoderes. Nos quadrinhos, ela faz parte dos inumanos e tem poderes de elasticidade. Já na série mudaram totalmente os poderes dela, substituindo por uns efeitos especiais mequetrefes de luz sólida (certamente para economizar no CGI).
É uma série teen sem grandes ambições. A Ms. Marvel está longe de ser uma personagem muito poderosa e suas aventuras são mais triviais. De toda forma, a série também veio como uma preparação para o filme The Marvels, que reuniria a Ms. Marvel, a Capitã Marvel e a Monica Rambeau, mas isto já faz parte da Fase Cinco do MCU.
She-Hulk: Attorney at Law (2022), além de ser a única série de comédia da Fase Quatro, também se diferencia pela metalinguagem. pois ela quebra a quarta parede costumeiramente, olhando para a câmera, e no final vai além e invade a própria Marvel Studios, confrontando os roteiristas e o próprio Kevin Fiege, que é parodiado na forma de um robô, uma mente feita de algoritmos que planejam todo o conteúdo do MCU com base nas estatísticas de interesse do público.
Sendo uma comédia e, mais ainda, uma sátira, a série faz piada de si mesma e da própria Marvel, tanto que a She-Hulk chega a criticar a repetida fórmula Marvel nos roteiros. Ela critica até mesmo a própria alcunha, já que faz dela apenas um produto derivado do Hulk.
A Jennifer Walters/ She-Hulk nos quadrinhos é uma personagem bem divertida, inteligente, elegante, sexy e piadista. Na série ela é mais ou menos isso, mas também a tornaram mais chata, mais crítica e prepotente. Desde o primeiro episódio vemos como ela é arrogante e infantil na forma como lida com o primo, o Hulk.
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Este momento em que ela quebra o menu da Disney Plus pra sair da série foi uma boa sacada. |
Bruce Banner tem uma longa história como Hulk, uma jornada solitária tentando lidar com esse alter ego monstruoso. Ele passou por poucas e boas e salvou o mundo várias vezes com os Vingadores, de modo que tem bastante experiência e conselhos úteis para dar. A Jennifer, porém, faz pouco caso disso, se recusa a ouvi-lo e ainda fica querendo provar que é melhor do que ele como Hulk, como se tudo se tratasse de uma disputa infantil.
Sem contar que ela é tão egocêntrica que tudo o que consegue pensar é em seguir carreira como advogada, enquanto Banner tenta mostrar que os poderes dela trazem uma grande responsabilidade para com a humanidade, mas ela só quer saber de voltar pra vida normal e namorar. É irônico que ela parece tanto querer se afirmar como mulher independente e realizada, mas passa a série inteira sofrendo por causa de homem, em suas inúmeras tentativas de arranjar um namorado.
Tirando essa parte em que a série transforma Jennifer numa adulta com cabeça de adolescente chata, há bastante fan service, com a presença de personagens como o próprio Hulk, o mago Wong, o Abominável (aquele mesmo do filme do Hulk de 2008, inclusive com o mesmo ator) e até o Demolidor, aquele mesmo da série da Netflix.
A personagem que realmente rouba a cena é a Madisynn (interpretada pela Patty Guggenheim). Ela chegou como quem não quer nada, como um alívio cômico em uma cena de tribunal e se tornou imediatamente a mais querida pelo público, com seu jeito bobo e um constante estado de semi-embriaguez.
Além dos filmes para cinema, a Fase Quatro também contou com dois especiais feitos para lançamento direto na plataforma de streaming.
Werewolf by Night (2022), baseado no personagem Jack Russell/ Werevolf (criado nos quadrinhos por Roy Thomas), conta a história de uma sociedade caçadora de monstros que recebe a missão de caçar a criatura Man-Thing. Sim, aquele Man-Thing que surgiu no mesmo ano do Swamp Thing da DC e coincidentemente ambos são muito parecidos. O filme de 50 minutos foi lançado em preto e branco, para dar um ar de terror clássico, mas no ano seguinte também lançaram uma versão em cores.
The Guardians of the Galaxy Holiday Special (2022) veio como um especial de natal. Mantis e Drax viajam para a Terra a fim de raptar o Kevin Bacon e dar ele de presente ao Peter Quill. Obviamente Quill achou a ideia absurda, mas no fim tudo acaba em festa.
I Am Groot (2022-2023), feita totalmente em animação digital fotorrealista, acompanha o crescimento do bebê Groot em episódios curtinhos de cerca de 3 minutos (tirando a parte dos créditos). Além di Vin Diesel retornar na dublagem do Groot, também o Bradley Cooper participa novamente como o Rocket Racoon.
Marvel Studios: Legends (2021-2023) é uma espécie de reciclagem do vasto material produzido no MCU ao longo dos anos. Cada episódio basicamente é uma compilação de cenas envolvendo determinado personagem ou evento. É interessante como recapitulação, para refrescar nossa memória e também organizar de uma forma mais linear toda a história dos personagens do MCU, pois convenhamos que já existe tanto conteúdo que facilmente esquecemos boa parte dele.
Marvel Studios: Assembled (2021-2025) é basicamente uma série de making-ofs, apresentando documentários sobre as produções dos filmes e séries do MCU. É um material mais voltado a quem é realmente nerd da franquia e gosta de se aprofundas nos detalhes e curiosidades.
(01,06,2025)
Fase 5
(em construção...)
A Fase Cinco começa com Ant-Man and the Wasp: Quantumania (2023). A esta altura, a filha de Scott Lang já é uma adolescente e tem feito experimentos com o reino quântico, o que acaba levando toda a família de volta para lá, onde se deparam com um perigo que a Janet vinha evitando mencionar: Kang. Banido para o reino quântico pelos outros Kangs do multiverso, esta versão pretende escapar e continuar sua cruzada para conquistar e destruir mundos.
A princípio o plano para essa nova fase era estabelecer o ator Jonathan Majors como o novo grande vilão, o novo Thanos. Ele apareceu primeiro como a variante He Who Remains, na série do Loki, e agora no Quantumania como Kang. O filme termina com uma gigantesca reuniões de variantes dele de todo o multiverso.
Mas ficou por isso mesmo. Devido a escândalos na vida particular de Jonathan Majors, a Marvel resolveu fingir que Kang nunca apareceu e escolher um novo vilão para essa fase, que será o Doctor Doom, com o retorno de Robert Downey Jr.
De toda forma, o filme em si é legal, um verdadeiro show de efeitos especiais e explorou o reino quântico muito mais que os dois primeiros filmes. Tem também aquele MODOK horrível, mas a ideia era ele ser feio e ridículo mesmo.
O Twitter sempre foi considerado uma rede social mais barra pesada entre as principais. Antigamente era muito comum os usuários brincarem com um humor negro, ácido, mais atrevido e politicamente incorreto. Isto foi arrefecendo com o tempo e também as medidas de moderação da rede foram se tornando menos tolerantes, de modo que os usuários em geral passaram a pegar mais leve com as coisas que postavam, mas também desenterrar posts antigos de pessoas famosas e fazer um escândalo em cima disso.
E um dia chegou a vez do James Gunn. Ele sempre teve um humor pesado que se refletia em seus filmes anteriores à Marvel e no Twitter ele vez ou outra fazia piadas controversas como tantos outros usuários. Então quando estes posts antigos foram desenterrados em 2018, quando a rede social já estava mais "comportada", houve uma reação tão forte da opinião pública que a Disney, querendo não se comprometer, rapidamente demitiu o diretor.
Só que o tempo passou e aquela onda de hate esfriou. A DC aproveitou e pegou o James Gunn pra si. Ele fez o novo filme do Suicide Squad em 2021 e ainda rendeu um spin-off do Pacificador em 2022. Aí a Marvel começou a sentir saudade do James Gunn, mesmo porque ele criou uma sub-franquia valiosa dentro do MCU, os Guardiões da Galáxia.
Assim, mesmo já estando no lado da DC, James Gunn ainda aceitou voltar para a Marvel a fim de concluir sua obra. Fez o especial de Natal dos Guardiões em 2022 e depois concluiu a trilogia com Guardians of the Galaxy Vol. 3 (2023).
Este terceiro filme concentrou muito mais atenção ao Rocket Raccoon, apresentando sua sofrida história de origem, o que deu ao público uma história realmente comovente. É provavelmente o filme mais lacrimejante do MCU, pois todo mundo chorou ao ver a tragédia do guaxinim de CGI.
A história do Rocket está diretamente ligada ao Alto Evolucionário, que acabou se mostrando um ótimo vilão. No caso, ótimo por ser detestável, um cientista fanático que acha que pode trazer perfeição ao universo e com esta motivação ele faz experimentos cruéis com cobaias, incluindo o Rocket.
Uma novidade neste terceiro filme é que apresentou o Adam Warlock, um poderoso personagem dos quadrinhos que inclusive deveria ter um importante papel na saga de Thanos. Ele chegou tardiamente, apenas como fan service e ainda foi nerfado, veio literalmente com "defeito de fábrica" em sua criação, tornando-se uma versão cômica do Warlock, mas ainda assim relativamente poderosa.
The Marvels (2023) veio como uma sequência de Captain Marvel, também aproveitando para fazer um crossover com a Ms. Marvel, que já teve sua série, e a Monica Rambeau, que já havia aparecido em WandaVision.
Foi um filme estranhamente caro, custando na produção bruta 270 milhões de dólares e estima-se que tenha chegado aos 450 milhões com todos os custos de pós-produção. A bilheteria, por sua vez, arrecadou apenas 206 milhões. Embora envolva uma trama espacial, a história em si não é muito interessante, mas foi legal a cena em que os gatos (filhotes do alienígena Goose) passam a engolir a tripulação da estação espacial.
Captain America: Brave New World (2015) trouxe de volta um personagem lá do filme de 2008, o general Ross, que na época era interpretado pelo William Hurt. Inclusive o mesmo ator retornou em 2016 no Civil War, só que Hurt acabou falecendo em 2022, sendo agora substituído pelo Harrison Ford.
Este filme trouxe duas grandes novidades. Foi revelado que a "Ilha Celestial" (o corpo do Celestial que foi petrificado no final de Eternals) é feita de adamantium, de modo que este novo material introduzido no MCU pavimenta o caminho para o surgimento do Wolverine. A outra novidade é o Hulk Vermelho.
Ross se tornou presidente dos Estados Unidos, mas, devido a uma doença do coração intratável pela medicina conhecida, ele passou a tomar umas pílulas projetadas pelo gênio Samuel Sterns (um personagem que também vem lá do filme de 2008). Como Ross se recusou a soltar Sterns da prisão, o cientista passou a contaminar as pílulas com radiação gama, o que levou Ross a se transformar no Red Hulk. Convenhamos, quão ingênuo tem que ser o Ross a ponto de confiar tomar as pílulas feitas por um vilão encarcerado?
Então passamos o filme inteiro esperando o grande momento. Rola uma trama de crise internacional e whatever, mas o que queremos ver é o Red Hulk em ação, o que acontece nos 10 ou 15 minutos finais de pancadaria com o novo Capitão América.
A verdade é que o Red Hulk foi mal explorado e provavelmente nunca mais vai voltar (afinal o Harrison Ford já tem 82 anos, se bem que isso não é problema, já que o Hulk em si é CGI). O filme teve uma bilheteria fraca de 415 milhões (com orçamento de 180 milhões, fora o marketing e pós-produção, 400 milhões hoje em dia mal paga os custos).
Simplesmente perderam a oportunidade de fazer um filme do Hulk contra o Red Hulk ou algo do tipo. Seria um crossover bastante chamativo, um grande fan service. Exigiria um investimento alto em CGI, mas pelo o retorno em bilheteria certamente valeria o custo. Às vezes é só isso que o público quer, nada de tramas complexas e políticas, apenas pura ação, pancadaria e fan service.
Desnecessário é dizer que Deadpool & Wolverine (2024) é o melhor filme entre todos das fases quatro e cinco, seguido apenas por Guardiões 3 e No Way Home. Ryan Reynolds explorou o multiverso melhor que qualquer outro, oferecendo ao público um grande fan service de personagens não só do MCU, mas também de filmes mais antigos, como o Blade, os X-Men, Elektra e vários outros.
A saga Invasão Secreta, que é uma das maiores sagas dos quadrinhos, era uma das candidatas a se tornar o próximo arco após Thanos, mas acabou se tornando apenas uma série de seis episódios, e bem insossa. Nem o Samuel L. Jackson conseguiu salvar essa série.
Ainda forçaram a barra com a personagem G'iah (Emilia Clarke), uma skrull que, por meio de aprimoramento genético, acumulou os poderes de diversos seres como Drax, Thanos, Hulk, Thor, Capitã Marvel, etc. Ela se tornou uma verdadeira Mary Sue, teoricamente a personagem mais poderosa do MCU. E no fim das contas ela provavelmente nem deve retornar ao MCU.
Echo (2024) é outro programa que pouco tem a acrescentar ao MCU. A série já é um spin-off do spin-off, pois é baseada na personagem Echo que primeiro apareceu em Hawkeye. A única coisa que vale a pena é a presença do Wilson Fisk interpretado pelo D'Onofrio.
(02,06,2025; 04,06,2025; 09,06,2025)
Palavras-chave:
ABC, A.C. Bradley, Alan Taylor, Alaqua Cox, Andrew Garfield, An Lee, Anna Boden, Anthony Hopkins, Anthony Mackie, Anthony Russo, Benedict Cumberbatch, Bisha K. Ali, Bradley Cooper, Brie Larson, Cate Blanchett, Cate Shortland, Chadwick Boseman, Chloé Zhao, Chris Evans, Chris Hemsworth, Chris Pratt, Christian Bale, Chukwudi Iwuji, Destin Daniel Cretton, Disney, Edward Norton, Elizabeth Olsen, Emilia Clarke, Evangeline Lilly, Hailee Steinfeld, Harrison Ford, Hugh Jackman, Iman Vellani, Jack Kirby, Jac Schaeffer, James Gunn, Jason Aaron, Jeremy Renner, Jeremy Slater, Jessica Gao, Joe Johnston, Joe Russo, Jonathan Majors, Jon Favreau, Jon Watts, Josh Brolin, Joss Whedon, Judy Greer, Julius Onah, Kenneth Branagh, Kevin Bacon, Kevin Feige, Kirsten Lepore, Kurt Russell, Kyle Bradstreet, Laurence Fishburne, Louis Leterrier, Malcolm Spellman, Marion Dayre, Mark Ruffalo, Marvel Comics, Matt Shakman, Michael Douglas, Michael Giacchino, Michael Waldron, Maximum Effort, Michelle Pfeifer, Natalie Holt, Natalie Portman, Netflix, Nia DaCosta, Oscar Isaac, Owen Wilson, Paul Bettany, Paul Rudd, Peyton Reed, Robert Downey Jr., Roy Thomas, Russell Crowe, Ryan Coogler, Ryan Fleck, Ryan Reynolds, Sam Raimi, Samuel L. Jackson, Scarlett Johansson, Scott Derrickson, Sebastian Stan, Shane Black, Shawn Levy, Stan Lee, Sylvester Stallone, Taika Waititi, Tatiana Maslany, Tenoch Huerta, Teyonah Parris, Tobey Maguire, Tom Hiddleston, Tom Holland, Vincent D'Onofrio, Vin Diesel, Willem Dafoe, William Hurt, Will Poulter
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