Em Anora (2024) uma stripper de 23 anos atende um cliente que é filho de um oligarca russo. O garoto Vanya, impulsivo e imaturo, gosta tanto dela que a pede em casamento e Anora "Ani" acaba aceitando.
Anora é infantil, inconsequente, hedonista, impulsiva. Ela conhece um cliente novo e na mesma semana decide casar com ele. Alguns diriam que ela estava apaixonada e a paixão nos deixa inconsequentes. Bom, se isso é paixão, então quero distância desse sentimento impulsivo.
A verdade é que não era paixão ou apenas isso. Era ambição mesmo. Ela viu nele uma oportunidade de ter uma vida de luxo. Ele era jovem, imaturo, bobinho e manipulável. Tudo o que eles fizeram foi curtir baladas, sexo e drogas em uma semana. Ela não o conheceu de verdade e o suficiente para ver nele a pessoa com que queria passar o resto da vida. De ambas as partes, foi tudo um impulso superficial e raso.
O garoto não era diferente dela. Igualmente impulsivo e inconsequente, só queria saber de curtição. Enfim, dois jovens imaturos tomando decisões impensadas.
Então os adultos entram em cena, pois capangas enviados pelos pais de Vanya tentam persuadir os dois pombinhos a anularem o casamento, então o filme se torna uma série de barracos e trapalhadas; como uma criança fugindo das consequências, Vanya simplesmente foge de casa, deixando Ani com os capangas, até que enfim eles encontram o rapaz e a essa altura os dois já estão se detestando e convencidos a anular o casamento.
Convenhamos que como "adultos" os dois tinham o direito de se casarem e ninguém tinha nada com isso, mas esse casamento impulsivo estava fadado a dar errado. Anora é uma personagem detestável, tanto quanto Vanya. A sensualidade e beleza da Mickey Madison é bem aproveitada no filme, mas isso não torna Anora menos irritante.
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Como começou... |
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...como terminou. |
A cena final, todavia, acrescenta uma camada mais profunda à personagem, quando vemos que ela facilmente se entrega a uma relação sexual, mas hesita bastante em beijar na boca. É aquela famosa máxima de que prostitutas não beijam na boca, pois este é o limite da intimidade. Quando confrontada com esta situação, ela expõe a casca que criou contra a verdadeira intimidade afetiva, então ela desaba e mostra que tudo o que precisava era de um abraço.
De certa forma Anora é uma versão modernizada de Pretty Woman (1990), modernizada inclusive no tom. O cinema dos anos 90 era em geral mais solar, mais feliz e com personagens mais leves, divertidos, que mesmo tendo seus problemas lidavam com a vida e uns com os outros de uma forma amistosa. Já o cinema atual tende para o pessimismo, o cinismo, uma abordagem mais sombria da vida e os personagens não raro são antipáticos e vivem em perpétuo conflito uns com os outros.
Anora é irritante, trata todos com desdém e agressividade e é igualmente desprezada pelos outros. A Vivian, por sua vez, é sorridente, amistosa. Ela passa por algumas situações em que é destratada pelas pessoas, também tem seu momento de desentendimento com o Edward, mas a história tem seu final feliz.
Enfim, Pretty Woman é um conto de fadas moderno, uma Cinderela que é agraciada por um rico príncipe encantado, diferente do moleque irresponsável de Anora. Inclusive, quando Vivian pede para a amiga um exemplo de casal como ela que deu certo, ela menciona "Cinde Fucking Rella", de modo que claramente o filme assume a referência.
O filme se tornou um clássico da comédia romântica, consagrou a Julia Roberts como símbolo sexual e também popularizou imensamente a música Oh Pretty Woman, que já era famosa desde seu lançamento em 1964 pela voz de Roy Orbison, mas se tornou ainda mais conhecida após o filme.
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Olhaí o eterno George Constanza. |
(27/07/2025)
Palavras-chave:
Disney, Garry Marshall, Jason Alexander, Julia Roberts, Mark Eydelshteyn, Mikey Madison, Neon Rated, Richard Gere, Roy Orbison, Sean Baker
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