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De Equilibrium a John Wick, a arte do gun kata

Gun kata

A primeira vez que ouvi falar em gun kata foi há mais de dez anos quando assisti Equilibrium (2002). Nessa época eu ainda alugava filmes em locadoras físicas e algo que eu adorava (e hoje não existe mais no streaming, já que geralmente você aluga apenas o filme em si) era o material extra, principalmente o making of. Pois bem, foi numa destas entrevistas que vi o diretor de Equilibrium explicando sobre esta arte marcial criada especialmente para aquele filme.

Basicamente, o gun kata é uma arte marcial baseada em probabilidades estatísticas, algo que combina com o mundo lógico e puramente racional de Equilibrium. O objetivo é realizar movimentos e disparos em direções bem específicas, visando ao mesmo tempo acertar os alvos nos spots estatisticamente mais prováveis e também desviar-se da trajetória dos disparos inimigos. O resultado é uma espécie de dança bem estilosa e badass.


Conforme vemos ao longo do filme, o gun kata não se resume a tiros, mas também combate a curta distância e até técnicas de desarmamento. Daí temos a icônica cena em que Preston e DuPont, ambos treinados na arte, ficam numa longa sequência de mútua tentativa de desarmamento.

Christian Bale; Equilibrium (2002)

Na definição do próprio DuPont:

"Each fluid position representing a maximum kill zone, inflicting maximum damage on the maximum number of opponents while keeping the defender clear of the statistically traditional trajectories of return fire. By the rote mastery of this art, your firing efficiency will rise by no less than 120%. The difference of a 63% increase to lethal proficiency makes the master of the gun katas an adversary not to be taken lightly."

Armas de fogo e tiroteios são populares no cinema desde o tempo dos filmes de Velho Oeste, os chamados bang bang. Neste caso, os personagens pareciam descolados e fodões por causa da agilidade com que sacavam as armas da cintura e a mira fabulosa. Suas poses eram mais estáticas e rígidas e não havia firulas. Muitas vezes a cena era lenta, como quando usavam espingardas para um tiro à distância e levavam certo tempo mirando calmamente, mas tudo isso dava também um ar descolado de um cara que sabe o que está fazendo. O negócio era ser bom de tiro e pronto.

Clint Eastwood; The Good, the Bad and the Ugly (1966)

Nos filmes de kung fu foi só uma questão de tempo até armas de fogo também se tornarem parte da luta marcial. Então em Matrix (1999) esse conceito foi esteticamente melhorado com recursos de câmera e computação, criando aquelas cenas do Neo e Trinity literalmente subindo pelas paredes enquanto dão tiros e recarregam suas armas e trocam de armas e desviam de balas em câmera lenta (ato que ficou conhecido como "bullet time" e desde então foi copiado à exaustão em filmes e jogos).

Equilibrium refinou a ideia e transformou essa prática, outrora fruto apenas da habilidade marcial dos personagens, em uma arte que é uma espécie de ciência, fruto de cálculos estatísticos, resultando numa performance muito elegante de tiro e coreografia. O Christian Bale fez isso com maestria.

Kingsman (2014)

Em 2014 tivemos uma das melhores cenas envolvendo essa técnica que foi a já clássica "cena da igreja em Kingsman", em que Colin Firth, do alto da elegância do seu terno inglês, massacrou uma turba ensandecida usando uma pistola tanto para dar tiros como para espancar com coronhadas e até perfurou um cara com as peças desmontadas da arma. Isso é que é tirar o proveito máximo de uma pistola.

John Wick (2014)

E então chegamos em John Wick. John Wick é o gun kata ambulante. Todas as cenas de luta (e são muitas) estão recheadas de uma elaborada coreografia envolvendo judô, karatê e manipulação de armas de fogo ou qualquer coisa que na mão de John Wick vira uma arma (até um lápis!). 

(15,05,2019; 08,08,2025)

Palavras-chave:

Christian Bale, Clint Eastwood, Colin Firth, Dimension Films, Keanu Reeves, Kurt Wimmer

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