A letra S

No proto-semítico, a letra S tem origem no pictograma de um dente (shinn). Tanto nas formas proto-semítica quanto fenícia e hebraica assemelha-se ao moderno W, justamente por representar graficamente um par de dentes.

Em egípcio, o hieróglifo equivalente é o M40, que representa um feixe de juncos. Pode estar associado também à escrita, uma vez que o junco é matéria-prima do papiro.

A forma hebraica é feita de três vavs, formando a imagem de uma chama. Não à toa, um dos significados da palavra shin é "carvão", a essência que dá origem ao fogo. Simboliza, portanto, um poder criativo e o próprio Deus Criador.

Na letra grega sigma a figura do shin fenício é girada em 90 graus, lembrando um E moderno. Por fim no latim a letra adquiriu a moderna forma ondular do S.

Na gematria hebraica o shin representa o número 300, enquanto o S é 19 na gematria simplificada. Na numerologia equivale ao número 1.

Na Bíblia o shin tem uma peculiar história a respeito dos membros da tribo de Efraim que não diferenciavam a pronúncia de shin e samekh, de modo que pronunciavam a palavra "shibboleth" como "sibboleth" e por isto os gileaditas, em guerra contra os efraimitas, usavam essa palavra como uma senha para identificar efraimitas por meio do sotaque (Juízes 12:6).

O sigma grego possui várias formas. A forma derivada do fenício é Σ, que é a versão maiúscula da letra. Existem ainda duas formas minúsculas: "σ", usada no meio das palavras, e "ς", usada apenas no final das palavras. Durante o período helenístico, desenvolveu-se uma forma simplificada que se parece com um C, chamada lunate sigma, termo que evoca obviamente ao formato de meia lua.

Tipograficamente, a moderna letra S, derivada do latim, tem basicamente duas formas: com ou sem serifa. O S é uma letra relativamente simples, feita de uma linha contínua e ondulada, sem linhas transversais. Assemelha-se a um 8 ou símbolo de infinito incompleto.

Note que "Congress" se escrevia "Congreſs".

Existe também outra forma tipográfica para o s minúsculo que foi mais comum durante os séculos VIII a XIX, chamada "s longo". Havia algumas regras para determinar o uso do s longo ou do s curto (por exemplo, quando ocorria ss duplo, o primeiro seria longo) e, para o leitor moderno não habituado, o s longo pode ser confundido com um f.

Além dos símbolos originais de fogo e dente, o S lembra uma serpente e consequentemente um falo sinuoso, a energia sexual. Também pode ser associado à solitude, independência e autossuficiência do Ser. Ironicamente, esta solitária letra é responsável pela criação do plural, da multiplicação. Número 1 na numerologia, evoca também autoridade, liderança, superioridade. Não à toa é a letra do Superman.

(29,09,2025)