Neollogia
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Victor Frankenstein, uma releitura mistureba do clássico

Victor Frankenstein (2015)

A imagem popular que se tem de Victor Frankenstein é de um cientista louco com olhos arregalados e gritando histérico "It's alive!", enquanto desperta o monstro com a descarga elétrica captada por um para raios numa noite tempestuosa.

It's alive!

Só que no livro não tem nada disso. Não há descrição do uso de descargas elétricas para criar a vida no monstro e também não descreve o Victor como um cientista louco. Ao contrário, ele é um homem culto e centrado, de bons modos, um gentleman de personalidade melancólica que também possui afetuosos sentimentos pelos seus entes queridos e tem uma forte consciência moral que o atormenta após a criação do monstro.

Obviamente ele estava inebriado pela curiosidade científica e violou a ética com seus experimentos macabros, mas ao longo de todo o livro ele amarga a dor na consciência por ter feito isto. Foi o cinema que consagrou uma imagem mais caricata e vilanesca de Victor como o cientista maluco que se tornou um tropo bastante comum na ficção.

O filme Victor Frankenstein (2015) não foge deste costume das adaptações cinematográficas de retratar o cientista de uma forma bem diferente da sua concepção original no livro. Neste longa, Victor (James McAvoy) tem um comportamento quase infantil, não é discreto e recatado como o Victor original. Ao contrário, ele parece desejar fama e sucesso com seus experimentos bizarros.

Daniel Radcliffe; Victor Frankenstein (2015)
O Harry Potter está irreconhecível no início desse filme.

Outro grande diferencial deste filme é que acrescenta um ajudante. Victor acidentalmente encontra em um circo um corcunda que nas horas vagas gosta de estudar anatomia, então o cientista adota o corcunda como seu assistente no laboratório, cura a corcunda dele (que na verdade era um abscesso), oferece sua biblioteca para estudos e lhe dá um nome, Igor (interpretado pelo Daniel Radcliffe, o eterno Harry Potter).

Charles Dance; Victor Frankenstein (2015)

Também o pai de Victor é bem diferente. No livro ele é um pai afetuoso que apenas demonstra constante preocupação com as angústias do filho, já nesse filme ele é uma figura imponente e arrogante e que exerce uma autoridade tóxica sobre o filho. Ele é interpretado pelo Charles Dance com sua presença marcante e intimidadora.

Andrew Scott; Victor Frankenstein (2015)
O "Sherlock Holmes" religioso que fica na cola de Victor.

Outra novidade nessa versão é a presença do inspetor Roderick, um brilhante investigador que se empenha em perseguir Victor. Sendo religioso, Roderick vê nas pesquisas do cientista um projeto satânico de perversão do plano divino.

Por fim, para completar todo esse leque de alterações da história, conta-se que Victor tinha um irmão, Henry, cuja morte tem sido um peso na sua consciência. E numa tentativa de redenção, Victor preservou o cérebro do irmão e colocou no monstro, mas quando a criatura desperta ele se arrepende do feito ao perceber que o monstro era apenas um corpo sem consciência.

Isto levanta questões anímicas sobre o que é a vida. O corpo do monstro respirava, bombeava sangue, se movia, mas quando Victor tentou se comunicar com ele e olhou em seus olhos inexpressivos, disse que não havia vida nele. A consciência é uma forma avançada de vida que transcende a mera função orgânica das células.

Spencer Wilding; Victor Frankenstein (2015)
O monstro foi encarnado pelo dublê Spencer Wilding, com seu 1,99 metro de altura.

Enfim, isto tudo obviamente são releituras, uma licença criativa para reimaginar toda a história e as características de seus personagens, até mesmo acrescentando personagens que não existiam no original, como Igor. Não há problema algum nisso.

Jessica Brown Findlay; Victor Frankenstein (2015)
Chapeuzinho Vermelho.

É curioso que estes novos personagens parecem uma espécie de homenagem a outras histórias de ficção e fantasia, pois temos uma mistura de Frankenstein com um corcunda, um detetive estilo Sherlock Holmes e até a namorada do Igor aparece vestindo um vestido e capuz que lembra a Chapeuzinho Vermelho. O filme em si é um Frankenstein, uma mistura de várias partes e referências.

Não é a primeira vez que o diretor Paul McGuigan se envolveu em uma adaptação de personagens clássicos. Ele já dirigiu episódios da série Sherlock (2010-2012) e posteriormente também uma série do Drácula (2020).

(23,08,2025)

Palavras-chave:

Andrew Scott, Charles Dance, Daniel Radcliffe, Fox, James McAvoy, Jessica Brown Findlay, Mary Shelley, Paul McGuigan, Spencer Wilding

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