A ideia de um mundo virtual onde as pessoas viveriam com suas mentes imersas foi definitivamente consagrada no filme Matrix, tanto que "matrix" virou sinônimo de mundo virtual. O filme transmitiu uma aura distópica e pessimista deste "mundo da imaginação", mas confesso que vejo algumas vantagens.
Para mim, pelo menos, a maior vantagem seria o ganho de tempo. Digamos que na Matrix, devido à sua integração profunda com o cérebro, o tempo aconteça em outra velocidade, algo semelhante ao filme Inception em que um dia vivido lá dentro só leve algumas horas ou minutos no mundo real, imagine as possibilidades de aproveitamento do tempo que teríamos.
Eu penso logo em livros. Ah, tem tantos livros que quero ler... Tenho uma lista imensa de títulos que vou levar a vida toda pra ler. E se eu pudesse entrar nesse mundo mental-cibernético e viver toda uma vida de 40, 50 anos em apenas algumas horas de imersão? O corpo ficaria deitado, semiadormecido por algum tempo, enquanto a mente estaria vivendo a pleno vapor. Quando acordasse, eu estaria com centenas de livros na memória.
O trabalho humano também seria turbinado. Eu poderia dormir por uma hora e acordar com um livro de 800 páginas que escrevi lá na Matrix. Pesquisas complexas poderiam ser feitas em laboratórios virtuais, reduzindo o tempo para o desenvolvimento de tecnologias, curas de doenças, etc. Seria um salto evolutivo na ciência, nas artes, na cultura em geral.
Também imagino possibilidades mais bizarras. Por exemplo, em nossa vida natural, temos pouco tempo para acumular certas experiências. Em algumas décadas fazemos alguns amigos, podemos constituir uma família, casar uma vez ou duas, ou três, ter alguns empregos, fazer algumas viagens.
Na Matrix, teríamos dezenas de vidas assim, quem sabe centenas. Viajaríamos o mundo, ou melhor, uma réplica virtual do mundo, inúmeras vezes, conheceríamos muitas pessoas, na certa até brincaríamos de constituir famílias numa versão aprimorada do The Sims. Pode parecer estranho, mas se a Matrix nos transmitir um senso de realismo muito forte, estas coisas vão acontecer com muita naturalidade.
Por outro lado, acho improvável que um mundo virtual consiga se assemelhar à experiência sensorial do mundo real. São muitos detalhes, detalhes microscópicos que tornam a vida no corpo físico algo inigualável. É agradável ouvir um som de chuva gravado e assistir a uma animação de chuva na floresta, mas dificilmente a recriação virtual de uma chuva chegaria aos pés da realidade, daquilo que eu posso sentir ao presenciar uma chuva real debaixo de uma árvore real, vendo as gotas atravessando as folhas, produzindo mil barulhinhos e acertando as formigas na terra e levantando um cheiro peculiar do mato e criando uma temperatura e uma densidade e umidade do ar que envolvem nossa pele. A Matrix precisaria de muito poder de processamento pra reproduzir algo assim.
Então acho que o ideal seria juntar o melhor dos dois mundos. Seria interessante e produtivo viver numa Matrix, mas não em uma imersão perpétua, com os corpos ou o cérebro em animação suspensa numa cápsula. Seria legal poder entrar na Matrix, passar umas horinhas lá e depois sair e deitar numa grama de verdade e olhar as nuvens de um céu de verdade.
(29,10,2018)
Palavras-chave:
Matrix
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