Hans Zimmer é um compositor instrumental do que se pode chamar o gênero clássico moderno, é um gênero bastante apreciado pela indústria do cinema e não à toa Zimmer é um dos mais respeitados e premiados compositores da área, tendo inclusive várias indicações e premiações do Oscar e Globo de Ouro. Ele tem composições em blockbusters como O Rei Leão, Gladiador, Inception, Batman The Dark Knight, etc.
Mas até onde conheço de sua obra, destaco particularmente uma pequena peça chamada Mountains pela maneira como essa música conseguiu combinar, traduzir, comunicar-se com a cena do filme Interstellar (2014) em que ela aparece.
Interstellar trata de um drama da humanidade que é assolada pela degradação do planeta e, como último recurso, envia um grupo de astronautas para o espaço a fim de encontrar outro planeta habitável. Essa viagem é facilitada por um providencial buraco de minhoca que misteriosamente surge nas proximidades de Saturno.
Enfim, em uma das viagens, eles descem em um planeta batizado como Miller, que orbita um buraco negro, Gargântua. A presença deste buraco negro (que basicamente é uma estrela absurdamente densa, com uma gravidade colossal) causa dois efeitos no planeta: cria um enorme tsunami que dá uma volta pelo planeta sempre atraído pela gravidade de Gargântua; e o impressionante fenômeno da relatividade do tempo. Ou seja, em Miller, cada hora equivale a sete anos na Terra, cada segundo vale mais ou menos um dia terrestre.
Os astronautas sabem disso e tentam passar o mínimo de tempo em Miller, pois enquanto passam alguns minutos ali, na Terra as pessoas estão envelhecendo e esperando o resultado da expedição. Ao mesmo tempo em que têm de lidar com a pressa, os astronautas se deparam com a imensa onda tsunami vindo em sua direção. A princípio pensam que a onda é uma montanha e é daí que vem o título da música que acompanha a cena.
A música possui o som de um tique taque de relógio, um som que começa lento, mas depois vai acelerando, apontando para o fato de que naquele planeta o tempo voa e precisam se apressar. De fato, cada tique e cada taque do relógio significa um dia que se passou na Terra e quando essa batida acelera, tendo em mente esta relação, ficamos com a sensação ainda mais forte de tempo perdido, de tempo roubado pelo efeito gravitacional do buraco negro.
E tem as vozes do coral, fortes, dramáticas, representando a aproximação da onda gigante. Este conjunto, o relógio, o coral e os instrumentos, desenha bem a cena da fuga dos astronautas daquele planeta oceânico, encolhidos diante da onda tão grande quanto uma montanha e do tempo relativizado, acelerado em relação à Terra.
(30,10,2018)
Palavras-chave:
Hans Zimmer
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