O MCU é o maior universo interligado de filmes na história do cinema, um feito grandioso e que a DC até agora não conseguiu igualar. Por outro lado, no mundo das séries, o arrowverso da DC é o maior universo interligado em toda a história das séries televisivas.
Naturalmente, por se tratar de séries que envolvem uma grande quantidade de episódios lançados semanalmente, o arrowverso tem seus defeitos, tem um roteiro muitas vezes simples, novelesco, e efeitos especiais limitados, mas convenhamos que isto tudo é aceitável e compreensível.
A série do Arrow (2012-2020) teve 170 episódios; a do Flash (2014-2023) teve 184 episódios. Não se pode esperar que séries tão volumosas assim, com centenas de horas de conteúdo, tenham a mesma super produção de um Game of Thrones (2011-2019) que produzia 10 episódios por ano.
O fato é que o arrowverso conseguiu o louvável feito de construir um universo enorme e interligado, com dezenas de super heróis trazidos dos quadrinhos, conectando suas histórias, realizando grandes crossovers entre as séries e até trazendo para as telas uma versão da maior saga da história da DC, a Crise nas Infinitas Terras.
Mas algum dia este universo teria que acabar. Após uma década, o arrowverso se despediu das telas. Uma a uma as séries foram encerrando, até que restou apenas uma, Superman & Lois (2021-2024).
Esta série chegou bem tardia e foi produzida nos complicados anos da pandemia. O próprio Arrow, a primeira de todas as séries, já havia encerrado em 2020; Supergirl terminaria em 2021, Legends of Tomorrow em 2022 e The Flash em 2023. Logo, Superman & Lois seguiu como uma série isolada, mas ainda assim parte do arrowverso, o último filho do arrowverso e o último a sair pela porta e apagar a luz do studio.
A primeira aparição deste Superman, interpretado pelo Tyler Hoechlin, foi na série da Supergirl, depois ele retornou no crossover da Crise nas Infinitas Terras, interagindo com os heróis das outras séries, mas depois da Crise os showrunners decidiram aproveitar a reformulação do multiverso para levar este Superman para um universo próprio, separado da Terra Prime, que era o mundo do arrowverso.
Este Superman chegou humilde, como quem não quer nada. De fato, em termos de aparência, o Tyler Hoechlin não tem exatamente a physique du rôle imponente e musculosa como um Henry Cavill, mas ele acabou convencendo em outro aspecto: a alma do Superman.
Ao longo dos quatro episódios ele enfrentou o Bizarro, a Intergangue, Lex Luthor e até o Doomsday, morrendo tragicamente em suas mãos, como era de se esperar. Aliás, eu diria que de todas as versões da morte do Superman, esta foi a mais dramática, com Doomsday literalmente arrancando o coração do Super e os filhos deste tentando recuperar o coração na esperança de ressuscitar o kryptoniano.
Também esta é a melhor versão live action do Doomsday. Tivemos uma versão na série Krypton (2018-2019) e aquele tosco e mal acabado ogro de Batman v Superman (2016), mas visualmente, o Doomsday de Superman & Lois, feito certamente com um baixo orçamento de CGI, conseguiu ser muito mais fiel aos quadrinhos e humilhar o monstro do caríssimo filme do Zack Snyder.
Sim, na série o Superman já está casado com Lois e tem dois filhos que posteriormente despertam também seus poderes, formando uma verdadeira superfamília. Inclusive este foi o grande mérito da série: desenvolveu bastante o Superman em sua esfera familiar, o Superman marido e pai. Nenhum filme ou série do Superman conseguiu fazer isto com tanta profundidade quanto Superman & Lois.
Pontos extras também para o compositor Dan Romer, cuja trilha sonora é belíssima e com uma qualidade cinematográfica acima do esperado para uma série televisiva.
Então a série chegou ao fim e terminou com dignidade, atando todas as pontas, realizando um réquiem para a série, para esta versão do Superman e mesmo para todo o arrowverso. Como o Super foi ressuscitado recebendo o transplante do coração humano de seu sogro, ele estava com os dias contados e morreria como um humano.
Assim acompanhamos Clark envelhecendo junto de Lois. Ela é levada pelo câncer, mas tem uma morte pacífica e estoica. Clark segue seus dias até que o velho coração enfim se entrega e ele morre, numa cena contemplativa em que vemos Clark atravessar o limiar do mundo dos vivos, revendo família e amigos. Com um plácido sorriso no rosto, ele descansa.
E assim termina a jornada deste que foi uma das versões mais marcantes do Superman, ainda que pouco conhecida do grande público. Com ele também termina o arrowverso e agora a tocha irá passar para as mãos do próximo Superman, interpretado pelo David Corenswet. O arrowverso se encerra para dar lugar ao DCU do James Gunn.
(16,12,2024)
Palavras-chave:
arrowverso, Dan Romer, David Corenswet, DC Comics, Elizabeth Tulloch, Greg Berlanti, James Gunn, Todd Helbing, Tyler Hoechlin, Warner
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