Há pouco mais de um ano, em 2010, eu pensava que a revolução do livro digital iria demorar talvez décadas, dada a resistência das editoras em abandonar o impresso. Mas a cada notícia nova que encontro sobre o assunto percebo que a revolução já está em pleno andamento.
Este mês a Câmara Brasileira do Livro está promovendo um curso sobre livro digital para editores. E já vem realizando cursos e palestras neste tema há vários meses. Nos EUA a mudança já abarcou as editoras de jornais e revistas como New York Times e Washington Post. Todas estas grandes publicações periódicas já têm um público fiel de assinantes da versão digital, e o número de assinantes aumenta ao mesmo tempo em que diminuem as tiragens do impresso.
No Brasil, a reação inicial dos editores pareceu ser de resistência, mas a demanda convence os donos da oferta, de modo que cada vez mais editoras e livrarias têm vendido livros em sua versão impressa e digital. O que falta é a redução do preço, pois a diferença de preço é tão pequena que ainda vale mais a pena comprar o impresso. E falta também popularizar o e-reader.
Esta parte já está sendo providenciada. No Natal de 2011 foram dados de presente cerca de 1 milhão de iPads e Kindles. Esta nova moda geek logo chegará ao Brasil. Estamos ainda na "fase notebook". Depois dela o consumidor brasileiro de eletrônicos vai começar a buscar estes dispositivos menores e finalmente descobrirá a loja virtual, a capacidade de comprar produtos para estes dispositivos, incluído aí o e-book.
O livro digital logo irá superar o impresso. É o curso normal da evolução editorial, assim como o impresso substituiu o manuscrito e o papel substituiu o pergaminho.
Aliás, o grande Umberto Eco, que defendia vigorosamente o livro impresso contra o digital, disse em entrevista recente que comprou e experimentou um e-reader. Ele não cedeu totalmente à ideia. Ainda reclama que não dá pra rabiscar o livro no e-reader (e muitos dos bons leitores gostam de fazer isto com os impressos), mas estes detalhes logo devem ser acrescentados com a melhoria dos dispositivos.
É claro que o livro traz uma sensação táctil, um cheiro, uma textura, assim como o disco de vinil tinha aquele ruído curiosamente agradável. Como são detalhes secundários, a tendência será o impresso virar artigo de luxo, para leitores que querem ter esta experiência palpável com o livro, assim como alguém que compra uma pintura ou escultura. Mas para quem quer ler e ler muito, nada será mais prático e acessível que o livro digital.
Lembra daquele velho dilema: Se você fosse viajar para uma ilha, que livros levaria? Com um e-reader você leva vários. Esta é, com certeza, sua maior vantagem. Imagine os alunos do ensino básico ou superior libertos do peso dos livros. Em vez de levar uma mochila ou andar com os braços carregados de volumes, com um simples aparelho o aluno tem toda a literatura de que precisa. Numa viagem, você que gosta de livros não vai precisar escolher quais levar. Toda sua biblioteca digital estará à mão.
Além dessa mudança de mídia há esta outra grande mudança: antes os livros eram publicados apenas por uma elite intelectual ou autores com condições para arcar com os custos ou que tinham contatos dentro das editoras. Agora caiu o véu que separava autor e leitor e no mundo digital todos podemos ser ambos.
Isto significa que como leitor você pode conhecer bons autores que antes viveriam anônimos, limitados pelas barreiras da publicação impressa. E como autor você pode ter sua obra lida em lugares os mais inusitados. Você pode ler um romance de alguém da sua cidade, ou do outro lado do mundo.
(10,01,2012)
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