Há quem diga que consolar é uma arte, que há pessoas que sabem usar as palavras certas. De fato, para muita gente é um problema lidar com uma circunstância de sofrimento alheio. O que dizer para uma viúva no velório? Como consolar um doente que sofre?
A literatura antiga nos deixou uma bela história sobre o sofrimento e o consolo, a história de Jó. Até hoje se usa a expressão "sofreu como Jó", pois este homem do Oriente Médio experimentou a doença e o desastre provocados pelo próprio diabo e se tornou modelo de homem sofredor.
Em uma série de desastres ele perdeu toda a riqueza, a família e a saúde. De uma vida de conforto e alegria, foi parar num monturo de lixo, perplexo e sentindo dores em todo o corpo coberto de feridas. Então seus amigos souberam do ocorrido e foram visitá-lo.
"Três amigos de Jó ouviram sobre todo o mal que aconteceu a ele e cada um veio de seu lugar: Elifaz, Bildade e Zofar. E combinaram de ir visitá-lo para sofrer com ele e consolá-lo. De longe ergueram a vista e viram uma pessoa irreconhecível, de modo que choraram muito, rasgaram a própria túnica e jogaram areia ao ar sobre a cabeça. Sentaram-se com Jó na terra e ali ficaram por sete dias e sete noites. E nenhum deles falou palavra alguma, pois sabiam que a dor era intensa" (Jó 2:11-13, tradução livre).
E assim terminam os dois primeiros capítulos com um belo exemplo de sábia consolação. Nos capítulos seguintes, Jó começa a reclamar dos problemas e seus amigos passam a argumentar e a situação se torna um debate enfadonho, uma troca de acusações, enfim, a condição de Jó piorou no momento em que tentaram usar palavras para lidar com a dor.
A melhor forma de ajudar um sofredor foi o silêncio. Foi assim que Jó e seus amigos permaneceram por sete dias, sentados, contando com a companhia um do outro, como se fossem uma só pessoa, até mesmo uma espécie de serenidade se comparada aos 40 capítulos de debates que se seguem. Poderiam ter permanecido assim até que a dor passasse, num silencioso consolo.
(12,05,2012)
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