Palavras são uma forma de bruxaria. Não qualquer palavra, mas uma certa combinação delas. Assim como o mercúrio e o enxofre nada são senão substâncias, mas um alquimista os combina na porção adequada para produzir uma poção alquímica, a manipulação das palavras feita por um poeta, um orador, um xamã das letras, produz um encantamento.
Acreditava-se que certas frases, quando pronunciadas, atraiam a atenção dos deuses, dos demônios, das entidades mais diversas. Invocavam mortos, acordavam dragões. Mas, antes de tudo, a palavra mágica desperta pessoas, penetra os véus da consciência e fala ao inconsciente. Esta é a magia.
A profundidade é mais densa e volumosa que a superfície. O que é a superfície senão somente uma casca? Se o oceano parece vasto para quem observa apenas a camada de água sob o céu, mais vasto ainda é o que se esconde abaixo.
Mergulhar nessa profundeza pode ser doloroso, quando precisamos quebrar a tensão superficial da fina pele que esconde o abismo. E quanto mais fundo se desce, maior a pressão e o mistério.
Assim é a mente humana. A razão é apenas sua delicada superfície. O estado consciente é somente a casca. Em seu interior há um abismo denso e inexplorado, que amedronta às vezes e no qual poucas pessoas ousam mergulhar.
Eis o inconsciente, um ambiente onde a razão é apenas um vassalo e reina a imaginação e a intuição. A palavra mágica consegue chegar aí, como um diplomata que sai do abismo de uma pessoa e visita o reino oculto que é a mente da outra pessoa.
(16,10,2012)
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