Sexo é um tabu de várias maneiras. Não apenas falar sobre sexo é problemático como também falar sobre o não-sexo. Convenhamos que hoje a repressão sexual é muito inferior ao que era há algumas décadas. A sexualidade assombrou os povos desde tempos antigos e se tornou até mesmo objeto de leis divinas punitivas.
Em Totem e Tabu, Freud analisa como os índios aborígenes da Austrália desenvolveram regras envolvendo o sexo baseadas na causalidade. Ou seja, se algo não dava certo, significava que os deuses os estavam punindo. Como o sexo entre irmãos costumava produzir filhos doentes, entendiam que a relação entre parentes era desaprovada pela divindade, tornando-se o incesto um tabu, algo que se deve evitar.
Outros povos, como os hebreus, formaram uma sociedade baseada na propriedade privada, o que inclui a estrutura de família que conhecemos hoje. A família em si é uma propriedade do patriarca. No Livro de Jó, ao enumerar a riqueza dele, contou-se na lista os animais, terras, escravos, esposa e filhas. Estas eram as posses do patriarca.
Sendo assim, família também é uma empresa. O pai constrói um patrimônio e o reparte entre os herdeiros, e os herdeiros têm a missão de ampliar este patrimônio e manter o ciclo de transmissão da herança aos descendentes.
Acontece que certas condutas sexuais ameaçam a estrutura familiar, como é o caso do adultério. A presença duma pessoa estranha na relação pode quebrar a estabilidade da família, incluindo a estabilidade financeira, pois vão surgir filhos fora do pacto matrimonial, filhos que vão exigir parte da herança.
Abraão sofreu com isto. Casado com Sarah, com quem teve Isaque, teve antes disso um filho com Quetura, sua escrava. Foi um "adultério consentido", pois Sarah até então era estéril e "cedeu" a escrava para Abraão ter um herdeiro. Mas Sarah depois teve um filho e o resultado é o que vimos no desenrolar de séculos. Os herdeiros de Abraão, Ismael e Isaque, lutando pela herança, pela posse da terra prometida. Daí as perpétuas lutas que envolveram israelenses e palestinos.
Cito estes dois exemplos, dos aborígenes e dos hebreus, para mostrar que os tabus envolvendo sexo não têm a ver apenas com o sexo em si, mas com suas consequências, tanto biológicas (doenças) quanto econômicas e sociais (a crise familiar e o patrimônio em risco). Por esta razão, sexo tem sido alvo de restrições e repressão ao longo dos séculos e atingiu graus elevados com a moral cristã medieval.
Na Idade Média, a igreja reprimia violentamente práticas sexuais não enquadradas em seu modelo. E seu modelo era o do sexo apenas no casamento e apenas para procriação. São Tomás de Aquino, o mais sistemático teólogo medieval, chegou a dizer que um homem impotente ou com alguma deformação que o impedisse de procriar com a esposa, sequer devia se casar e, se fosse casado, não deveria ficar trocando carícias com a mulher já que ele não era capaz de cumprir o "papel principal" que era gerar filhos.
O controle sobre o sexo por parte da igreja se mostrou também na instituição do celibato dos sacerdotes. Nos primeiros séculos, os padres se casavam normalmente, mas com o tempo o celibato, que era opção de alguns, tornou-se regra.
A princípio, a motivação para a castidade do sacerdote era bem pessoal. O apóstolo Paulo afirma em suas cartas que optou por ser solteiro pra poder se dedicar plenamente à carreira, afinal ele vivia viajando, era aprisionado, passava por privações, dependia das doações dos irmãos de fé. Esta vida arriscada e instável, que exigia total atenção, não permitia que ele tivesse esposa e filhos, que apenas sofreriam com ele o peso das privações.
Em outras religiões anteriores ao cristianismo, também alguns religiosos já optavam pelo celibato, como no budismo. E a motivação era justamente uma questão de prioridade. Quem deseja consagrar-se totalmente a um ideal, como a vida devota, não tem espaço pra abraçar mais nada, incluindo uma família.
Nestes casos, a renúncia ao sexo se dava por uma questão de importância. Sexo não tinha importância para quem buscava outros tipos de realização, como a realização mística. Mas esta motivação singela foi na igreja medieval substituída pelo pragmatismo. A igreja não queria que seus padres se casassem porque os bens do padre pertencem à igreja e, caso tivessem família, os bens da igreja seriam diluídos entre os herdeiros dos sacerdotes.
Todavia, a repressão não envolvia apenas os sacerdotes. A interpretação teológica levou o cristianismo a demonizar cada vez mais o sexo. A fruta que Eva teria dado a Adão e que os condenou à expulsão do paraíso se tornou o sexo. A mulher se tornou um instrumento do demônio para tentar o homem.
O próprio sexo, finalmente, se tornou pecado por si só, daí ser chamado de "carne" ou "pecado da carne", um termo que o apóstolo Paulo originalmente usou (em grego "sarx") para se referir à natureza humana, à maldade inerente, e não ao sexo. Paulo usava "carne" em oposição a 'espírito", numa espécie de platonismo que via no homem duas naturezas, a boa e a má, a baixa e a elevada, a terrena e pecaminosa, e a celestial e pura.
Quando os medievais identificaram a "carne' com o sexo, tornou-se o sexo o oposto da santidade, o inimigo das virtudes celestiais. O tabu por excelência. Então bruxas iam à fogueira acusadas de seduzir homens; pagãos eram torturados por supostamente praticar sexo com Satanás; moças virgens eram violentamente vigiadas pela família, usavam incômodos e humilhantes cintos de castidade; homens devotos se flagelavam a fim de refrear o desejo "carnal".
Na idade moderna, o sexo já não sofria perseguições inquisitórias tão agressivas e explícitas, mas continuou sendo tabu e de grande importância na moralidade. Julgava-se o caráter e a moralidade de uma pessoa por sua conduta sexual.
A Inglaterra do século XIX, viveu o fervor da religião puritana, uma versão ultra refinada de cristianismo protestante que de tal forma buscava uma vida "pura" que a tudo considerava pecado, como assistir a uma peça de teatro ou maquiar-se e usar roupas provocantes.
Naturalmente a repressão levanta vozes de oposição, como foi o caso de Oscar Wilde, alvo do tabu da sociedade puritana por ser homossexual, e Aleister Crowley, que pregou a libertação da vontade a ponto de ser considerado o homem mais perverso pelos puritanos de seu tempo.
Mas foi após a Segunda Guerra, no movimento hippie e de liberação sexual, que aconteceu a grande revolução. Inclui-se aí o movimento feminista que já vinha atuando desde o começo do século XX. O objetivo não era apenas combater as repressões sexuais, mas a repressão às próprias pessoas, hierarquizadas segundo o sexo. No caso, os homens, patriarcas, no topo da pirâmide, e as mulheres abaixo. E pessoas de outras opções sexuais tornavam-se os párias, as minorias discriminadas, como os gays e lésbicas.
Desde então os esforços em estabelecer os direitos das minorias sexuais e quebrar os tabus têm sido cada vez maiores. Na verdade, de tal forma o sexo ganhou espaço, que a mídia, que no passado evitava e censurava toda insinuação ao sexo, agora é uma das maiores promotoras dele.
Músicas, novelas, filmes, programas televisivos com modelos seminuas, comerciais de cerveja explorando a sexualidade feminina, revistas especializadas em expor a nudez e programas voltados a adolescentes de tal forma incentivando a iniciação sexual, que personagens virgens são mostrados como aberrações ou no mínimo algo estranho.
Nota-se, então, que agora chegamos a outro extremo. Embora ainda exista a repressão sexual em muitas famílias e embora o preconceito ainda faça vítimas as pessoas por sua opção sexual, acontece algo novo na mudança de paradigmas: a opção pelo não-sexo se tornou alvo de preconceito.
Sim, hoje fala-se tanto em sexo, em todos os meios de comunicação, que o assunto está saturado. Qualquer garoto de dez anos pode conhecer o sexo na internet mais do que seus pais ou avós sequer imaginaram.
Falar sobre sexo é, no meio da juventude, um instrumento de aceitação social. "Eu peguei muito", "eu beijei muito', são frases que os garotos normalmente contam nas rodas de amigos com um tom de sucesso.
Aliás, existe toda uma indústria alimentada e que alimenta a sexualidade. Carnavais e micaretas testemunham grande aumento nas vendas de preservativos, sem contar que a busca das pessoas por sexo envolve o consumo duma série de produtos e serviços cujo objetivo final é a cama.
Por exemplo, a indústria de cosméticos e os serviços de academia. Para que se embelezam as mulheres e para que ganham músculos os homens? Para ficarem atraentes e convidativos ao sexo, claro. Calma, não se irrite comigo. Sei que há pessoas que cuidam da aparência com outros propósitos, porque o mercado de trabalho exige, ou para ter aceitação social ou simplesmente para o bem da própria autoestima, que acredito seja o seu caso, assim como é o meu. Cuidamos do corpo e da aparência pra nos sentirmos bem conosco.
Mas você há de convir que já conheceu um amigo ou amiga que está sempre vigiando a própria aparência com o objetivo de "ir à caça", não é? Aquela pessoa que se preocupa com a barriguinha ou com o bíceps porque tem em vista ser sexy e levar alguém pra cama.
Logo, é fato que há uma indústria envolvendo a prática do sexo, envolvendo o antes e o depois, a sedução, as preliminares e tudo o mais. É por isso que os meios de comunicação resolveram abrir-se para o sexo, porque perceberam que ele dá lucro.
Sendo assim, é curioso observar que tem crescido um tabu até então incomum: estranhar as pessoas que rejeitam, evitam ou não se interessam por sexo. É o tabu pelo não-sexo.
Há quem diga que os chamados assexuados são a mais nova minoria discriminada, mais que os homoafetivos. Na verdade, se alguma celebridade afirma em entrevista que é virgem ou assexual, a reação do público é mais alarmada do que se ela dissesse que participa de orgias.
A tendência, aliás, é das pessoas não acreditarem no celibato. Muita gente duvida que os padres sejam capazes de viver sem sexo. Alguns suspeitam que todos os padres burlam a regra do celibato de alguma forma, ou se masturbam, porque julga-se que é impossível viver sem sexo.
Há quem argumente que sexo é uma necessidade tão natural quanto comer ou respirar, daí ser impossível ou patológico alguém viver sem ele. Mas convenhamos que a necessidade de comer e respirar pra sobreviver é bem diferente da necessidade afetiva ou fisiológica do sexo.
Claro que há pessoas que sofrem com a abstinência sexual, chegam a adoecer, apresentam mudanças de humor, mas note-se que isto não é um caso generalizado. Tendemos a comparar as necessidades dos outros às nossas. Por exemplo, se eu não consigo viver satisfeito sem internet, suponho que seja assim com todas as outras pessoas. Mas não. Tem gente que realmente não tem o menor interesse pela web.
Sou um sujeito caseiro e não me importo em passar muito tempo em casa. Na verdade, é um prazer para mim, é relaxante e é mais fácil eu sentir tédio em alguns ambientes públicos. Até mesmo me sinto drenado em ambientes públicos.
Aliás, sou caseiro e bucólico. Adoro ambientes pouco urbanos e até sonho com a possibilidade de passar um tempo (ou a vida toda) numa floresta ou numa ilha (com internet, claro). Cito meu exemplo pra mostrar como diferem as pessoas em suas "necessidades", pois já fui questionado por pessoas que me perguntavam: "Mas como tu aguenta ficar em casa no Sábado à noite?".
Ou seja, para estas pessoas, sair no Sábado à noite é uma grande necessidade. Para mim, necessário é ficar em casa no Sábado à noite. E eu bem que podia questionar o gosto das pessoas que têm formigas nos pés e não conseguem ficar paradas em casa, mas compreendo que gosto é algo idiossincrático. E sexo é questão de gosto.
Agora falei algo polêmico, não? Comparar sexo ao lazer, a preferir ler um livro ou ir a uma boate. Mas é a pura verdade.
Ultimamente tem sido comum pesquisas que avaliam a satisfação das pessoas e não são raras aquelas que dizem preferir chocolate ou cinema ou internet ou uma partida de poker ao sexo. Afinal, sexo não é uma prática mais especial que estas outras.
O fato do sexo ser o meio de procriação fez dele alvo duma divinização religiosa. Sem contar que ele lida com forças básicas da mente humana, com a natureza ligada à vontade e ao prazer, simbolizada pelos gregos em Eros, uma das divindades primordiais do mundo.
No hinduísmo, a kundalini é uma energia mística que nasce na base da coluna, no cóccix, e que tem origem na energia sexual. A prática tântrica visa usar esta energia sexual para fins de realização espiritual. Há deuses e deusas do sexo. A deusa da reprodução dos assírios era uma mulher gorda com vários seios. Os egípcios e gregos veneravam um deus em forma de falo.
O falo, aliás, é um símbolo muito frequente na iconografia religiosa, nos pilares, pináculos de templos, postes sagrados, báculos empunhados por deuses e sacerdotes, obeliscos e quiçá a cruz cristã também exerça uma impressão fálica no subconsciente.
Note que estou, embora de forma não muito sistemática, expondo várias facetas do sexo e não simplesmente fazendo uma crítica a esta ou aquela postura. Pois bem, o fato do sexo ter significados místicos não considero ruim. Pelo contrário. Há um elemento divino na sexualidade, há beleza.
Mas o grande X da questão é que essa forte energia importante para o ser humano não é o sexo em si. Sexo é apenas um instrumento. É apenas a casca que envolve o conteúdo. A energia básica é a vontade, a vontade e o prazer. O homem vive para o prazer e foge do sofrimento. Fugir do prazer e buscar o sofrimento é doentio. E o prazer só existe quando há vontade em ação. Tudo o que agride a vontade provoca sofrimento.
Por exemplo, uma pessoa pode sentir prazer em ser espancada e experimentar uma simulação de estupro. Sim, refiro-me ao sadomasoquismo. Um praticante de sadomasoquismo pode chorar, pode implorar, pode sentir dor, mas esta prática só lhe satisfaz porque é voluntária, ainda que às vezes haja um fingimento de que está fazendo algo contra sua vontade.
Por outro lado, uma pessoa que recebe um beijo forçado dum estranho pode sentir-se profundamente agredida e mesmo traumatizada porque o ato foi feito contra sua vontade de modo que em vez de prazer trouxe sofrimento.
O sexo, portanto, é um objeto de realização da vontade. O chamado tesão é o desejo que arde na mente exigindo satisfação. É a vontade em sua força. Geralmente as pessoas desenvolvem esta energia, o tesão, o desejo e o arder da vontade, no desejo sexual. Não significa que a vontade só tenha expressão desta forma.
Por exemplo, um entusiasta de aeromodelismo pode sentir mais prazer ao adquirir um novo modelo desejado de avião do que praticando sexo. Nele a vontade ganhou expressão de outra maneira. E isto acontece com todos nós muitas vezes. As pessoas trocariam sexo por outra coisa que lhes excite mais a vontade, que lhes dê mais prazer. Pode ser um livro, o exercício de sua profissão, a prática religiosa, a prática de esportes, um lazer, o dinheiro, ou o simples afeto sem intenções sexuais.
Ao contrário do que se propagandeia, as pessoas fazem menos sexo do que dizem. Há casais que vivem satisfeitos apenas com a companhia um do outro e para os quais o sexo é tão sem importância que só praticam por costume ou, quando percebem que é apenas um costume desinteressante, abandonam de vez.
É curioso, portanto, que não apenas a prática do sexo é um tabu, como também sua ausência. O celibato é alvo de preconceitos. O mundo está cheio de celibatários. A maioria deles é assim contra a própria vontade. E não me refiro apenas aos virgens. O que leva as pessoas a não praticar sexo varia bastante e podemos enumerar alguns motivos.
Há pessoas que são privadas do sexo por falta de oportunidade. Aliás, oportunidade é o que não falta hoje. Principalmente para os homens que, se se sentirem realmente necessitados, podem facilmente encontrar alguém que venda o sexo profissionalmente.
Mas mesmo as mulheres já têm esta opção de contratar um prostituto, ou podem ir aos locais onde as pessoas socialmente e tacitamente se mostram dispostas ao sexo, como as noitadas e certas festividades orgiásticas e carnavalescas de nossa cultura.
Acontece que muitas pessoas não querem este tipo de sexo por causa de seus próprios limites, por receio de serem descobertas e passar um vexame, ou por receio de ganhar fama de "pessoa fácil" ou simplesmente por querer que o sexo venha também coroado com algo mais, com um laço afetivo, por exemplo.
Mas convenhamos que no mundo de hoje só não pratica sexo quem não quer ou quem lhe dá uma importância secundária. Se fosse realmente aquela necessidade desesperadamente vital que algumas pessoas afirmam, não haveria barreiras morais ou quaisquer outras que impedissem alguém de realizar o desejo.
Temos, então, pessoas que não praticam sexo simplesmente porque não lhes é tão interessante. Ou praticam ocasionalmente, raramente, como quem uma vez por mês, ou por ano, ou por década, vai a um parque andar numa montanha russa.
Algumas pessoas sentem uma necessidade semanal, às vezes até diária ou diuturna. Outras suportam meses de privação, mas sentem um desconforto. E outras ainda não sentem a menor falta ou é um desejo tão insignificante que nem vale o esforço pela realização.
Enfim, nota-se que a libido tem graus muito distintos em cada pessoa. E muita gente há que é celibatária simplesmente por esta razão, porque sua libido não é forte o suficiente para que desejem ou busquem o sexo.
Há quem se prive de sexo por alguma obrigação imposta ou auto imposta. Por exemplo, quem se vê proibido pela religião, pelo sacerdócio, pela família, pelos tabus da sociedade. E há também quem transforme sua energia sexual em outra força. Sim, é o caso de alguns místicos e faz parte de algumas práticas de magia sexual abster-se de sexo para desenvolver mais outros sentidos, para elevar a sensibilidade mental.
Gandhi era casado, mas em um momento da vida optou pelo celibato em nome da sua causa pela ahimsa (não-violência). Na busca pela eliminação de qualquer força agressiva em seu espírito, concluiu que também o sexo deveria ser contido pra que ele desenvolvesse uma personalidade neutra e pacífica.
Era comum o desinteresse pelo sexo nos antigos filósofos gregos. Sócrates recebia muitas reclamações de sua esposa porque ele preferia passar os dias nas praças filosofando e provavelmente faltando com seus deveres de marido.
Heráclito, Epicuro, Diógenes... todos viveram sem interesse pela cópula e demonstrando satisfação no tipo de vida que escolheram. Epicuro principalmente, ele que dizia-se satisfeito em ter amigos pra conversar e ficava muito feliz quando um deles lhe trazia um pouco de vinho e um pedaço de queijo.
Há ainda alguns atletas que também privam-se de sexo para ter mais vigor físico e alguns não sentem a menor falta uma vez que a privação beneficia seu maior prazer que é o esporte. Também sempre houve quem foi privado do sexo por limitações físicas, como os eunucos que eram castrados para trabalhar nos haréns sem "perturbar" as mulheres do rei, ou pessoas mutiladas, impotentes ou com problemas hormonais. Nestes casos, trata-se duma privação involuntária e hoje é comum que tais pessoas procurem ajuda médica uma vez que são celibatários contra a própria vontade.
O curioso é observar a surpresa que ainda causa em muitos o fato de haver celibatários voluntários, ou seja, pessoas que, como nalguns exemplos que citei, privam-se do sexo simplesmente por não lhe dar importância, não sentir necessidade ou converter sua energia em outros propósitos, como o religioso, atlético ou intelectual.
Talvez um dos elementos que torna o sexo ou o não-sexo problemático é o fato dele ser ao mesmo tempo uma prática privada e pública. Sexo é antes de tudo privado e ninguém tem obrigação de expor além do que deseja expor. Portanto, é um direito de cada pessoa revelar ou manter discreta sua conduta ou opção sexual, suas preferências e rotina, se pratica ou se não pratica.
Mas como sexo se pratica no mínimo a dois, torna-se uma prática pública. E em muitos casos é implicitamente anunciada como numa cerimônia de casamento onde o casal não diz para os presentes "vamos fazer sexo", mas o casamento já subentende isto.
Ou seja, as convenções sociais, como a cerimônia de casamento, também agem como uma prestação de contas quanto à sexualidade. Mas é bom lembrar que o sexo só deve ser público com o consentimento das pessoas. Do contrário, ele é privado. E os conflitos ocorrem quando as pessoas querem invadir o espaço privado das outras, por exemplo, quando questionam a opção sexual de alguém, quando julgam seu caráter por sua conduta sexual ou mesmo quando pressionam os celibatários a praticar sexo.
O sexo, no fim das contas, é um emblema para a vontade. É a vontade que está em jogo antes de tudo e é ela quem merece respeito. Cada um é dono da própria vontade e é o único que pode decidir por ela, o que inclui a decisão pelo sexo ou pelo não-sexo.
(19,07,2012)
Palavras-chave:
Aleister Crowley, Apóstolo Paulo, Diógenes, Epicuro, Gandhi, Heráclito, Oscar Wilde, Sigmund Freud, Sócrates
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