Quando um cadáver enganou Hitler na Operation Mincemeat

Filmes de guerra são uma categoria bem estabelecida no cinema e que inclusive já renderam Oscars. Dentro desta categoria, ainda podemos notar uma subcategoria mais específica: filmes sobre a Segunda Guerra. Esta certamente foi a guerra que mais rendeu conteúdo cinematográfico em toda a história.

Afinal, trata-se da maior e mais marcante de todas as guerras. A história do mundo pode até ser dividida em antes e depois da WWII. A tecnologia destrutiva mais poderosa surgiu naquele período, a bomba atômica. Em termos tecnológicos e energéticos, a Segunda Guerra de fato divide drasticamente a história humana, pois a partir dela entramos na era nuclear.

A Segunda Guerra não se resumia às convencionais batalhas campais. A engenhosidade militar foi levada ao limite e todo tipo de estratégia foi pensado para alcançar alguma vantagem tática. É o caso da Operation Mincemeat (Operação Carne Moída).

Em 1943, a inteligência militar britânica, o MI5, executou um plano de espionagem mirabolante, basicamente com o objetivo de enganar Hitler, fazendo a inteligência militar alemã acreditar em uma falsa invasão à Grécia, de modo a deslocar parte de sua força militar que estava na Sicília, assim tornando a Sicília (um ponto estratégico durante a guerra) um alvo fácil para uma operação militar britânica.

O plano foi baseado em uma estratégia originalmente imaginada pelo almirante John Henry Godfrey e seu assistente pessoal, ninguém menos que o tenente e escritor de ficção Ian Fleming (o criador do James Bond). Este inusitado plano foi adaptado no livro de Ben Macintyre, Operation Mincemeat (2010), que inspirou a adaptação cinematográfica de mesmo nome em 2021.

O filme gira em torno da delicada preparação para esta estratégia de espionagem e distração militar. Primeiro foi preciso conseguir o corpo de um cadáver. O candidato escolhido para isto foi um homem qualquer, um mendigo chamado Glyndwr Michael que morreu ao ingerir veneno de rato.

A falsa identidade do Major William Martin.

Michael agora se tornaria um soldado fictício a serviço do exército britânico, renomeado como Major William Martin. Ele foi enviado em um avião que caiu na costa da Espanha e carregava uma documentação forjada, revelando um plano de invasão na Grécia. O MI5 teve que trabalhar os mínimos detalhes a fim de dar veracidade a toda essa história, fazer que o Major William parecesse um militar real, fazer que os documentos que carregava parecessem reais e que "acidentalmente" acabassem nas mãos da inteligência militar alemã, a ponto de convencer a Alemanha a deslocar sua força militar para fora da Sicília.

Além de criar uma falsa documentação, era preciso fazer que o próprio cadáver, morto por veneno de rato, parecesse no fim das contas ter morrido por afogamento quando o avião caiu no mar, assim enganando o legista espanhol que analisou o corpo. Tudo tinha que parecer convincente e o plano tinha de ser executado o quanto antes, já que o corpo do falso major estava se deteriorando a cada dia.

Parece coisa de filme mesmo, coisa de livro de espionagem, mas aconteceu na vida real. A arte imitou a vida.

(10,01,2025)

Palavras-chave:

Ben Macintyre, Colin Firth, Ian Fleming, John Henry Godfrey, John Madden, Netflix, Warner